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Com foco em quilombolas, indígenas e favelados, Cúpula dos Povos desafia COP30

Embora frequentemente ignoradas pelo poder público, comunidades tradicionais são as mais afetadas pelo aquecimento global , pauta central da Conferência da ONU em Belém


Por Paula Freitas


Desafiando COP30, a Cúpula dos Povos debaterá caminhos para controle da crise climática com base nas vivências das comunidades indígenas, quilombolas e periféricas.  Foto: Cúpula dos Povos / Divulgação
Desafiando COP30, a Cúpula dos Povos debaterá caminhos para controle da crise climática com base nas vivências das comunidades indígenas, quilombolas e periféricas.  Foto: Cúpula dos Povos / Divulgação

O Brasil tem uma complexa tarefa em mãos: receber quase 200 países, mais de 40 mil pessoas, para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30, em novembro deste ano. Mas muitos duvidam que os acordos firmados na COP se transformem em ações concretas. Em um contexto de insatisfação, surge a Cúpula dos Povos, uma espécie de COP paralela financiada por organizações e movimentos sociais, que reunirá em Belém comunidades indígenas, tradicionais e periféricas – as mais afetadas pela mudança climática, apesar de menos terem contribuído para a escalada do problema – para estimular o debate a partir da sabedoria ancestral.


O objetivo é mandar uma mensagem ao poder público. “Enquanto as COPs oficiais seguem negociando números e metas, a Cúpula fala de vidas, direitos e territórios. Aqui, construímos um futuro enraizado na justiça social e ambiental, provando que nossa luta é tão necessária quanto urgente”, diz o portal da iniciativa. 


“A principal afirmação da Cúpula dos Povos é que a saída para a crise climática não virá do mercado”, afirma Sara Pereira, coordenadora do Fundo DEMA/Fase, integrante da Comissão Política da Cúpula dos Povos, ao Rampas. “Portanto, as soluções que têm sido pautadas pela COP são o que nós chamamos de ‘falsas soluções’, porque elas não vão na raiz do problema.”


“É preciso fazer uma mudança real, fazer uma transição não só de matriz energética, mas também uma transição de modelo de sociedade, um modelo de economia. Portanto, é fundamental que a COP 30 garanta essas mudanças mínimas”, acrescenta Pereira.


Representantes de ONGs durante reunião da Cúpula dos Povos, rumo à COP30.      Foto: Movimento dos Atingidos por Barragens / Divulgação
Representantes de ONGs durante reunião da Cúpula dos Povos, rumo à COP30. Foto: Movimento dos Atingidos por Barragens / Divulgação

A edição anterior da COP, em Baku, no Azerbaijão, foi marcada por poucos avanços e por acusações de greenwashing, quando organizações adotam um tom ambientalista, mas sem um compromisso real com a causa. Entre os problemas estão novas regras, que serão administradas pela Organização das Nações Unidas (ONU), para guiar o mercado de carbono global e a compra de créditos de carbono. O mecanismo, contudo, é criticado por permitir que empresas continuem a emitir gases de efeito estufa em larga escala desde que adquiram os créditos. Com isso, não há redução significativa da poluição. No maior pico das compras, em 2021, houve um crescimento de 65% das emissões, de acordo com dados da empresa de consultoria internacional Climate Focus.


Em meio à falta de progresso ambiental, vozes como as de Sara formam coro. Ao todo, 763 organizações participarão da Cúpula dos Povos. Entre elas, estão organizações não-governamentais de peso, como WWF Brasil (Fundo Mundial para a Natureza, na tradução da sigla em inglês), Observatório do Clima (OC), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ) e Greenpeace Brasil. É muita gente aberta e motivada a tentar reverter as consequências, já testemunhadas mundo afora, da crise climática.


“A Cúpula dos Povos busca avançar em espaços coletivos que defendam a democracia e a solidariedade internacional, enfrentem a extrema direita, o fascismo, os fundamentalismos, as guerras, a financeirização da natureza e a crise do clima”, defende o porta-voz do Greenpeace Brasil, Danicley Aguiar. 


“A ação em rede e a adoção de um processo permanente de articulação estão no centro da estratégia que garante o controle social dos consensos obtidos entre uma COP e outra”, destaca Aguiar, acrescentando: “A Cúpula é um dispositivo da sociedade civil com o claro objetivo de garantir que as negociações entre os países seja marcada por mais ambição.”


Ao lado de lideranças indígenas, Sara Pereira discursa durante evento que antecede a Cúpula dos Povos. Foto: Sara Pereira / Acervo Pessoal
Ao lado de lideranças indígenas, Sara Pereira discursa durante evento que antecede a Cúpula dos Povos. Foto: Sara Pereira / Acervo Pessoal

Os objetivos são claros: a defesa de justiça climática com inclusão social, proteção dos territórios e da biodiversidade, soberania alimentar, equidade racial e de gênero, e financiamento justo liderado pelas comunidades. Pereira argumenta que é um espaço de tomada de poder, já que a “a COP foi estruturada para ouvir somente os governantes, os líderes dos países, os chanceleres, os embaixadores”. 


“Mas isso já é por si só uma violação de direitos, porque deveriam também estar na mesa de negociações, ter assento e ter oportunidade de fala, de propor, as pessoas que são mais diretamente impactadas pelos danos da crise climática”, salienta ela. “A gente reivindica ser parte desse processo para também denunciar o que está acontecendo e contribuir com as soluções que já vêm sendo realizadas nos territórios.”






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