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Antirracista desde criancinha

  • Foto do escritor: Laura Marques
    Laura Marques
  • há 6 dias
  • 4 min de leitura

Como funciona a Escola Maria Felipa, que oferece educação para a primeira infância a partir da perspectiva afro-brasileira


Fachada da escola Maria Felipa. Foto: Laura Marques


Você conhece a letra do samba-enredo da Mangueira de 2019, aquele que fala da “história que a história não conta” e dos heróis brasileiros não reconhecidos? Na escola Maria Felipa, inaugurada este ano em Vila Isabel, zona norte do Rio, a narrativa que inspira o samba campeão ganha vida todos os dias. 


A escola Maria Felipa se propõe a oferecer educação antirracista para crianças de 2 a 5 anos, com foco na representatividade, no resgate das raízes afro-brasileiras e na valorização das potencialidades individuais desde a primeira infância. A metodologia resgata acontecimentos e personalidades históricas diversas, indo além das narrativas tradicionais.


A instituição acolhe crianças independentemente de cor ou raça, com um olhar especial para a história e o valor da cultura africana para o país. As crianças têm aulas de inglês todos os dias e ensino de Libras duas vezes por semana. As turmas são no turno da tarde, com atividades extras pela manhã. Os alunos têm acesso a atividades como capoeira, artes e música, promovendo uma rotina educacional ampla e diversificada.


“O planejamento dos professores é pensado desde a primeira infância, considerando valores civilizatórios afro-brasileiros. Aqui, a musicalidade e a ludicidade são potências no aprendizado”, diz Maíra Santos, diretora da escola. 



Maria Felipa (1873), figura histórica que dá nome à escola, foi uma mulher negra, marisqueira e líder brasileira na Guerra de Independência do Brasil, especificamente na Independência da Bahia na Ilha de Itaparica. Foto: Laura Marques
Maria Felipa (1873), figura histórica que dá nome à escola, foi uma mulher negra, marisqueira e líder brasileira na Guerra de Independência do Brasil, especificamente na Independência da Bahia na Ilha de Itaparica. Foto: Laura Marques

Segundo Maíra, ao longo do ano, as atividades incorporam atividades normalmente ignoradas em outras unidades de ensino, como a Festa do Toré, manifestação cultural popular dos povos indígenas da região nordeste do país, a Fogueira de Xangô, homenagem feita ao orixá no dia 24 de junho, e outras celebrações dos santos juninos. “O objetivo é oferecer uma nova perspectiva histórica, ampliando o repertório cultural dos alunos de forma contínua e integrada", complementa Maíra. 


Como surgiu a Escola?

A ideia de criar uma Instituição de ensino que valorizasse a diversidade afro-brasileira, para além das europeias, surgiu em 2017, a partir do olhar de Bárbara Carine, uma mãe que não se conformava em ver a filha negra desconhecer a história de seu povo. Pós-doutora em educação, ela idealizou o projeto político-pedagógico da escola. Escreveu também o livro Como ser um educador antirracista. 


Em seu livro, a fundadora explica em que a potencialidade neste contexto pode ser reconhecida como um lugar onde crianças negras possam crescer com representações que mostrem a força do povo preto. 


No ano de 2019, a escola iniciou o primeiro ano letivo em Salvador (BA), e em 2020, Maju Passos, bailarina e produtora cultural, na busca por um espaço educacional seguro para seu filho (Ayo), se vinculou ao projeto na condição de mãe e sócia. 


Quatro anos depois, em 2023, no Rio de Janeiro, a atriz e empresária Leandra Leal passou a ser a terceira sócia da instituição, “por acreditar na necessidade de uma educação afro referenciada e contra-colonial para a sua filha (Júlia) e para todas as crianças do nosso país”, conforme publicação feita em seu perfil do Instagram.


Quem foi Maria Felipa?

Maria Felipa foi uma heroína da independência na Bahia. Liderou um grupo de 200 pessoas, incluindo mulheres negras e indígenas, na defesa da Ilha de Itaparica contra os portugueses em 1822; na luta, incendiou 40 embarcações inimigas e organizou trincheiras, vigias e doação de mantimentos para a resistência.


Ao levar seu nome, a escola busca resgatar e exaltar seu legado, destacando sua força, resistência e estratégia na luta pela liberdade. “Queremos homenagear essa grande mulher negra que nos ensinou o valor da organização do seu povo e do pensamento quilombola”, destaca a instituição em seu site.



Atividade proposta para os alunos desenharem como veem o mural principal da escola após conhecerem quem foi Maria Felipa através da contação de história. Foto: Laura Marques
Atividade proposta para os alunos desenharem como veem o mural principal da escola após conhecerem quem foi Maria Felipa através da contação de história. Foto: Laura Marques

Informações para a comunidade escolar

Está prevista para o ano que vem a abertura de novas turmas de ensino fundamental. Em abril deste ano, a instituição também irá oferecer um Curso de Educação Decolonial, direcionado para professores, pesquisadores e gestores escolares. O objetivo é colaborar para a formação de mais profissionais da educação preparados para atuar com metodologias afrocentradas.

Camila Souza, Especialista em Políticas Públicas e Formação Humana pela Uerj, afirma que “a Escola Maria Felipa, 1° colégio afro-brasileiro da cidade do Rio de Janeiro, vai nos mostrar como uma comunidade escolar unida e comprometida com esta causa, pode gerar a longo prazo transformações profundas em uma sociedade ainda marcada por um passado escravagista que até os dias de hoje, mostra no cotidiano, as heranças de um país fundado em um projeto colonial.”


Segundo Camila, uma formação antirracista acontece quando toda a comunidade escolar se dedica a mostrar um mundo onde pessoas negras são protagonistas de sua própria história. Isso significa romper com estereótipos e garantir que suas trajetórias sejam contadas de forma justa e sem apagamentos.


As aulas já começaram, e a instituição segue de portas abertas para todos. 

Para saber mais informações sobre turmas disponíveis, metodologia e atividades, entre em contato com a Escola Maria Felipa através do número (21) 99959-3032 (disponível também para WhatsApp), ou agende uma visita presencial na unidade localizada na Avenida 28 de Setembro, nº118. 


Mais informações também estão disponíveis no perfil da instituição no Instagram: e no site: @escolamariafelipa https://escolamariafelipa.com.br/.



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