Entre as melhores da classe, brasileira foi a terceira escolhida no draft de 36 jogadoras
A brasileira Kamilla Cardoso, de 23 anos, foi um dos destaques do último draft feminino, evento anual norte-americano que seleciona atletas universitárias para a Liga de Basquete dos EUA. Destaque da University of South Carolina, onde jogou como pivô, Kamilla foi campeã do NCAA (National Collegiate Athletic Association). Realizada em abril, a edição foi a mais comentada da história da WNBA (Women’s National Basketball Association).
Natural de Minas Gerais, Kamilla foi tentar a sorte nos EUA ainda cedo, aos 15 anos. Sem saber se comunicar em inglês, contou com o companheirismo de colegas e técnicos para conseguir treinar, entender as jogadas e se adaptar à nova cultura. A “aventura" deu certo e ela se tornou bicampeã do basquete universitário. A jovem conquistou o último título de forma invicta. Seu time derrotou a equipe da Universidade de Iowa State, da armadora que virou a grande febre do basquete feminino, Caitlin Clark. Com a vitória, a atleta sagrou-se MVP (Most Valuable Player) das finais.
Ágata Máximo, de 27 anos, é uma das idealizadoras e fundadoras do podcast “NBA das Mina”. Ela também administra páginas com o mesmo nome nas redes sociais. No Instagram, o perfil conta com mais de dez mil seguidores, enquanto no X, antigo Twitter, tem cerca de 45 mil.
Sobre Kamilla, elogia: “Essa mulher é uma loucura, né? Acho que nem no masculino a gente teve um atleta tão relevante no cenário universitário para o Brasil. Não é apenas uma boa jogadora de basquete, é a melhor. Conquistou dois títulos e liderou uma campanha histórica de um time invicto. É absurdo o holofote que ela atrai para a gente”.
Eliseu Soares, de 25 anos, é administrador do WNBA Brasil, página especializada em basquete feminino dos EUA, no Instagram e no X. Assim como Ágata, diz que Kamilla já é uma inspiração para muitas garotas no Brasil e também no exterior: “A ida dela para a WNBA vai contribuir ainda mais, porque ela tem muito para evoluir”.
Jogadoras brasileiras na WNBA
A paulista Stephanie Soares, de 24 anos, foi selecionada no draft do ano passado. Apesar de ter sido a 4º escolha geral, não jogou por conta de uma contusão. Foi indicada pelo Washington Mystics, porém, logo na sequência, reforçou o Dallas Wings. A jogadora acabou perdendo o ano por lesão e, assim como Kamilla, fará sua temporada como caloura.
Ágata compartilha que Stephanie vem de uma família de ‘basqueteiro’, já que seu irmão, Tim Soares, também joga na seleção: “Por ser alta e versátil, consegue espaçar a quadra. Ela vai ser muito importante durante esse período”.
A também paulista Damiris Dantas, de 31 anos, é a única em atividade que já tem passagem pela WNBA. A ala-pivô foi draftada em 2012 pelo Minnesota Lynx e teve grande destaque em 2020. Entretanto, também sofreu com lesões. Devido à pandemia de Covid-19, enfrentou problemas com a depressão, o que a fez ser dispensada em 2023. Com a demissão, jogou no México e na Turquia, até ser contratada pelo Indiana Fever.
O presente e o futuro do basquete brasileiro
Apesar de contar com boas jogadoras, a seleção brasileira de basquete feminino não se classificou para Paris 2024. O pré-olímpico aconteceu em casa, em Belém, mas o Brasil não teve sorte e caiu no chamado “grupo da morte”, com Alemanha, Austrália e Sérvia como adversárias. Por ter sido derrotado nos três jogos, não avançou na competição.
Ágata, do podcast feminino “NBA das Mina”, considera que, com Kamilla, o basquete tende a crescer no país, porém, precisa de reforços: “Depende muito da base. Quando a gente fala sobre se interessar, existe a diferença entre assistir e praticar. Hoje em dia, os clubes que fazem um trabalho sub 12-13, são pouquíssimos. Então, fica difícil para as meninas que querem seguir no esporte. Mas, não tenho dúvidas de que muitas vão vir através dela”.
Em relação à base, Marcella Prande, de 19 anos, foi campeã sul-americana da seleção brasileira sub-14 e considerada MVP do Campeonato Paulista sub-14. Ela comenta que, por mais que esteja evoluindo, ainda vai demorar para o basquete conquistar um espaço: “Creio que está em constante evolução. Ainda faltam investimentos e apoios, principalmente porque precisamos de incentivo para continuarmos jogando e representando”.
Sara Martins, que tem 15 anos e joga no sub-15, participou de uma passagem de teste organizada pela NBA, o NBA Academy, e admite a carência no investimento. Segundo Sara, que além dos EUA visitou outros países, é ruim elas ficarem sempre “subjugadas” nos lugares, principalmente porque sempre terminam na última colocação, apesar do esforço: “Não vai ser fácil para as meninas chegarem na Europa, pois o basquete, em geral, já é desvalorizado”.
De acordo com Sara, Kamilla é inspiração para uma geração de jogadoras. Desse modo, reforça que ficou muito feliz e que é gratificante vê-la como destaque: “Um dia quero estar na mesma posição que ela e sei que tenho que trabalhar muito para conseguir isso”.
Entre nomes do passado, Janeth Arcain, atualmente com 55 anos, foi a brasileira com maior relevância no basquete americano e se tornou tetracampeã com o Houston Comets. A ex-jogadora Érika dos Santos, de 43 anos, também é um nome de peso. Hoje, Kamilla Cardoso, jogando pelo Chicago Sky, é quem representa o esporte. A mineira de 2,01m é a 16ª atleta brasileira a jogar na WNBA e fez sua estreia no dia 1 de junho.
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