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Foto do escritorBernardo Monteiro

Brasileiros enfrentam altos custos para acessar serviços de streaming

Preços das principais plataformas no Brasil aumentaram em média 42% nos últimos três anos


Os catálogos dos streamings permitem assistir filmes em diversos dispositivos. Foto: Freepik

Assistir a filmes e séries em diversos dispositivos tornou-se um conforto comum para muitos brasileiros com a chegada dos serviços de streaming. Segundo dados do IBGE, 31,1 milhões de domicílios no país já contam com algum tipo de assinatura de plataformas de streaming. No entanto, essa popularização enfrenta agora um desafio: os preços exorbitantes, descolados da inflação e da realidade financeira da maioria.


O Brasil lidera a oferta de streaming na América Latina, com 62 plataformas disponíveis, de acordo com o Panorama do Mercado de Vídeo por Demanda no Brasil 2023, da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA). A presença de conteúdo nacional ainda é baixa, com destaque para a Box Brazil Play (41,3%), seguida por Globoplay (35,2%) e Libreflix (31,9%). As gigantes do setor, como Amazon Prime Video e Netflix, apresentam apenas 8,5% de conteúdo brasileiro em seus catálogos.


Desde 2011, quando os serviços de streaming começaram a se popularizar no Brasil, houve uma mudança significativa na maneira como os conteúdos audiovisuais são monetizados. De acordo com Gabriel Filgueira Marinho, professor de Cinema e Audiovisual e Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), a arrecadação com os conteúdos via streaming surge como um último elo da cadeia de produção: “Depois de conseguir fazer dinheiro com sessões de cinema, televisão, locação e vendas de DVDs, quando esse produto esgotava todas as oportunidades comerciais, aí você colocava esse produto na internet.” Essa dificuldade em monetizar os produtos audiovisuais na internet se relacionava a distribuição de arquivos de forma ilegal: a pirataria. 


Essa realidade se alterou com a popularização dos serviços de streaming, segundo o especialista. Na visão de Isabela Neimi, estudante universitária e usuária assídua de diversas plataformas desse tipo, é mais prático pagar para consumir o serviço via streaming do que utilizar outros métodos atualmente: “Dificilmente eu utilizo métodos alternativos. Grande parte dos filmes já é direcionada aos streamings, é só entrar e assistir. Só de não ter que fazer o download do filme, procurar um arquivo de legenda sincronizado e torcer para tudo dar certo, já está valendo”. 


Aumento do preço dos streamings


Em 2024, os preços dos streamings no Brasil subiram em média 42%, comparando os valores atuais com os de três anos atrás. O plano básico da Netflix, por exemplo, teve um aumento de 12% em 2023, enquanto Disney+ e Star+ registraram um aumento de 37% atualmente. Assinar os seis principais serviços de streaming (Netflix, Amazon Prime, Max, Globoplay, Disney+ e AppleTV) nas versões mais baratas, que incluem anúncios, custa R$ 161,40. Para assistir sem comerciais, o custo é de R$ 195,50.


Muitos usuários, incluindo Isabela, têm optado por compartilhar contas diante dos aumentos recentes. Ela conta que todas as suas assinaturas são divididas com os amigos, e ainda brinca: “Todas as minhas contas têm um perfil chamado de ‘Parasitas’, que eu carinhosamente criei para que os meus amigos pudessem utilizar a minha assinatura”. 


A Netflix, líder de mercado, mudou sua política de compartilhamento em 2023, limitando o acesso a uma única rede WiFi e restringindo o compartilhamento de senha. No entanto, após críticas, a empresa agora permite compartilhamento de senhas por uma taxa adicional de R$ 12,90 por mês. Outros serviços, como Disney+, Amazon Prime, Globoplay e Max, continuam permitindo o compartilhamento sem restrições adicionais. 


Segmentação e diversificação de mercado


Netflix iniciou uma tendência ao transformar-se de agregadora de conteúdo para produtora. Foto: Pixabay

Além do aumento de preços, outro fenômeno que restringe o consumo desses conteúdos em streaming é a segmentação das plataformas. A partir do momento em que a Netflix deixa de ser apenas um “agregador licenciado” de filmes e passa a atuar como produtora, criando os “Originais Netflix”, surge um conflito de interesses com outros grandes estúdios. Na opinião do professor Gabriel Marinho, essa divergência foi um dos motivos da criação de novos streamings: “Agora cada empresa busca criar o seu streaming para tentar rentabilizar cada vez mais o seu produto ainda ‘dentro da casa’”.


Por exemplo, a Disney e a HBO começaram a oferecer conteúdos exclusivos em seus serviços, enquanto plataformas como Crunchyroll se especializam em conteúdos estrangeiros licenciados, como animes. Para Marinho, esse processo pode ser visto como uma inversão ao cenário inicial onde tudo era concentrado apenas na Netflix. “Com isso, você pulverizou os espaços. Antes aquela assinatura conseguia bancar o acesso a um catálogo enorme, agora ela não é mais suficiente”, diz.


Isabela Neimi conta que tem percebido que muitas séries originais da Netflix são canceladas prematuramente e não se encaixam no padrão de qualidade desejado. “São lançadas 1 milhão e meio de séries sem planejamento de comunicação e marketing que acabam não tendo a qualidade esperada e são canceladas após 8 ou 9 episódios”, ela ironiza. A estudante também compara como os streamings vendem os seus produtos: “É muito difícil, por exemplo, a HBO lançar uma série e cancelar. Normalmente, segue um planejamento bem feito, e parece priorizar a qualidade à quantidade, tendo um ‘cardápio’ mais enxuto, diferente da Netflix”.


No entanto, a jovem conta que apesar dos aumentos e da redução do seu catálogo, assina a Netflix desde que a plataforma chegou ao Brasil, em 2011, e nunca cogitou cancelar o serviço. “Tem vezes que eu fico o dia todo assistindo filmes, muitas vezes só na Netflix. A gente critica bastante, mas não desapega. No final das contas acaba valendo a pena”, completou Isabela.


Futuro das plataformas de streaming


A tendência, mesmo com os aumentos de preço, é que os streamings ganhem cada vez mais espaço nas casas brasileiras. No entanto, o especialista em cinema Gabriel Marinho não vê os streamings como potenciais ameaças aos serviços tradicionais de televisão. Para ele, o ambiente é outro, mas a lógica é a mesma. Marinho compara os serviços on-demand a locadoras de filmes, onde antes se recebia recomendações do vendedor. “Hoje, o atendente da loja que recomenda os filmes é na verdade o algoritmo, que vai a partir dos nossos padrões de consumo tentar propor ou adivinhar aquilo que a gente quer assistir”, completou o professor.  


Na visão de Marinho, os streamings não devem substituir a televisão tradicional. Ele traz o exemplo do surgimento da televisão e a relação com o rádio: “O rádio, ainda hoje, continua sendo uma importante forma de comunicação no Brasil. É mais por esse lado, não vejo essa potência no streaming para substituir a TV aberta ou por assinatura”.

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