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Cinemas lutam para trazer de volta público pré-pandemia

Atualizado: 9 de abr.

Espectadores somavam quase 200 milhões em 2019, mas este ano não devem passar muito dos 100 milhões


Por Carlos Cavalcante e Beatriz Serejo

Cinemas brasileiros lidam com baixo público. Foto: Freepik

Para o mercado cinematográfico brasileiro, setembro não foi de primavera. Ao contrário, os cinemas brasileiros registraram o terceiro pior final de semana do ano em termos de bilheteria, 852,6 mil pessoas em todo o país. Os dados da empresa de medição de público, Comscore, mostram que os efeitos da pandemia de Covid, pelo menos para o cinema, estão se prolongando muito mais que o esperado. Até a conclusão desta reportagem, o acumulado de público no ano era de cerca de 87 milhões de pessoas, de acordo com o Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual – e a perspectiva é que não alcance os 95 milhões de espectadores contabilizados no ano passado.


O público dos cinemas vinha em alta: chegou a 172,9 milhões de pessoas em 2015, caiu para 161 milhões em 2018 e subiu para 176,4 em 2019, segundo dados do Anuário Estatístico do Cinema Brasileiro 2019, publicado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine).

O parque exibidor encerrou 2019 com um total de 3.507 salas de cinema abertas. O grande campeão de bilheteria naquele ano foi o filme Vingadores: Ultimato, que levou cerca de 19,2 milhões de espectadores às salas de cinema.


Aí veio a pandemia. Ainda de acordo com a Agência Nacional de Cinema (Ancine), o público caiu 78% em 2020.

Assistir filmes em plataformas de streaming tem se tornado preferência de muitas pessoas. Foto: Freepik

Com a quarentena, as pessoas passaram a procurar o lazer indoor, ou seja, a internet deixou de ser apenas entretenimento e se tornou a companhia da maioria durante o distanciamento social. As assinaturas de serviços de streaming cresceram 145% em todo o mundo, e em 2020 o total de assinantes já tinha chegado a casa dos 1,1 bilhão de pessoas, de acordo com o relatório da Motion Pictures Association (MPA).


A pandemia acabou, mas o hábito de ir ao cinema jamais foi o mesmo. Este ano, a aposta dos exibidores para tirar o público de casa juntou produções tão diferentes como Barbie, sobre a boneca da Mattel, e Oppenheimer, sobre o criador da bomba atômica. O primeiro arrecadou mais de 210 milhões de reais no Brasil, enquanto a biografia dirigida por Christopher Nolan já ultrapassou os 50 milhões, de acordo com a Comscore.


Caio Neves, Mestre pela linha de Estudos de Cinema e Audiovisual da Pós-Graduação de Comunicação da Universidade Federal Fluminense acredita que muitas empresas que gerem cinemas estão mais preocupadas em vender pipoca e refrigerante do que vender ingressos. “Eu lembro que quando houve o processo de reabertura do Cine Arte UFF pós pandemia, a disputa maior era pra ver quem iria pegar a bomboniere, e não a bilheteria, porque isso que dá mais retorno financeiro”, afirmou.


Outra dificuldade para quem quer ir ao cinema é o preço dos ingressos. Atualmente, o custo varia entre as bilheterias, os dias da semana e o tipo de sala. Na rede Cinemark, a média gira em torno de R$14 às segundas e terças, enquanto nos finais de semana uma inteira custa R$40.


Miki Oliveira dos Reis, 23, estudante de letras na Uerj, e Mayara Araújo, 23, tatuadora, são moradoras do Complexo do Alemão e afirmam que não conseguem ir ao cinema com muita frequência devido ao alto valor dos ingressos.

“Eu acredito que poderia haver ações do governo em conjunto com as empresas de cinemas para possibilitar a inclusão e o acesso de pessoas de baixa renda. Sessões especiais, com valores acessíveis, fariam com que muito mais gente fosse ao cinema”, ressalta Miki.


O questionamento dos telespectadores é se vale a pena pagar um ingresso relativamente caro para assistir um filme, ou pagar uma mensalidade no streaming, que custa em média R$30.


Um possível futuro do cinema?

Cinema Estação Net, em Botafogo. Foto: Rebeca Passos

A mudança drástica na forma de consumir audiovisual traz o questionamento: “até quando os cinemas que conhecemos atualmente irão existir?”.


Uma alternativa para os cinéfilos de baixa renda, ou os telespectadores que preferem economizar com os streaming, é o vintage cinema de rua. Os que ainda se mantém na ativa procuram formas de continuar sobrevivendo em meio a todas as dificuldades, e são esses meios que, possivelmente, ajudarão as redes cinematográficas a continuar existindo.


O Estação Net é um cinema de rua fundado em 1985 e que fica localizado em Botafogo, bairro da zona sul do Rio de Janeiro. Mesmo passando por inúmeras dificuldades, como uma dívida de aluguel em 2022, o cinema segue firme e forte, fazendo vários eventos, como sessões de filmes em 35mm, mostras de vários gêneros e diretores, além da exibição de filmes atuais também.

Cavi Borges, 47, cineasta, produtor e ex-judoca brasileiro, tem uma longa história com o Estação Net. Frequentador desde os primórdios, foi lá que ele “descobriu” o cinema e se apaixonou pela sétima arte. Em 2022, quando o Grupo Estação NET quase encerrou suas atividades, Cavi foi uma das pessoas que estavam na linha de frente para impedir o fechamento do tradicional cinema de rua. Com a ajuda de inúmeros fãs de cinema e frequentadores do estação, ele criou um abaixo-assinado pedindo a permanência do cinema, além de ajudar na organização de eventos, com o intuito de atrair o público.


Com toda essa mobilização para evitar o fechamento e os eventos produzidos pelo grupo, o Estação NET está vivendo dias melhores. Cavi acredita que quando transformam uma sessão de filme em um grande evento, isso traz um público maior para o cinema: “Nós estamos apostando muito no evento. Só o filme não faz mais as pessoas saírem de casa. Hoje em dia as pessoas baixam os filmes, elas tem um home theater em casa, um super telão. Se não pensarmos em algo a mais, além do filme, as pessoas não vão ao cinema”.


O cineasta completa: ”Um debate após sessão com o diretor e a equipe tem funcionado muito bem; masterclass com mestres de cinema; festas após as sessões; homenagens a algum diretor que morreu ou que está aniversariando”.


Caio Neves, da UFF, acredita que é preciso de algo, além do filme, para fazer as pessoas saírem de suas casas: “O que chega nas salas de cinema hoje em dia, diferente do que chegava antes da pandemia, está mais concentrado em um tipo de filme específico, que dará mais retorno. As salas comerciais (de cinema) vão ficar cada vez mais concentradas aqui (nas grandes cidades), e vão passar cada vez mais um repertório parecido de filmes”.


Com o aumento no valor dos ingressos, pouca variedade de gêneros das obras exibidas, o domínio das plataformas de streaming e a centralização dos cinemas em grandes cidades, é possível que nos próximos anos, os cinemas brasileiros continuem a ter uma queda do público. Ninguém sabe se as salas de cinema vão acabar. O que é possível presumir é que elas tenham que se reinventar, adquirindo um aspecto de centro cultural.


“Para mim, o que pode seduzir as pessoas a sair de casa para assistir um filme, é algo que esteja para além do filme, alguma possibilidade de conversa, algo que faz sentido da gente estar juntos naquele espaço”, analisa Caio Neves.


Cavi acredita que o Estação tem feito isso muito bem e que esse modelo de pensar o cinema como um centro cultural pode ser seguido no futuro: “Fazer eventos, encontros, transformar o cinema em um espaço cultural, é um modelo a ser seguido por outros cinemas. Até os cinemas de shopping não estão tão cheios como eram antes. Então, se não se reinventarem e pensarem em novos caminhos e soluções, daqui a pouco não teremos mais salas de rua. Mesmo as de shopping podem acabar também e teremos que assistir filmes em casa. O que seria uma grande perda!”


A seguir, algumas indicações de estabelecimentos que buscam democratizar e reviver o acesso ao cinema.


Indicações de cinemas de rua

  • Estação NET Rio: Rua Voluntários da Pátria, 35 – Botafogo, RJ

  • Cine Santa Teresa: Rua Paschoal Carlos Magno, 136 – Santa Teresa, RJ

  • CineCarioca Méier - Rua Dias da Cruz, 170 - Méier, RJ

  • CineCarioca Complexo do Alemão - Rua Nova Brasília, S/N - Bonsucesso, RJ

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