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Foto do escritorLarissa Mafra

Da periferia para o mundo: conheça o projeto que transforma em realidade ideias de jovens do Rio de Janeiro

Atualizado: 3 de jul.

Com metodologia inovadora e prêmio internacional, Agência de Redes para a Juventude já impulsionou 119 iniciativas na cidade


Criada há dez anos no Rio de Janeiro, a Agência de Redes para a Juventude estimula  jovens periféricos a criarem ações em seus territórios. A Agência financia iniciativas apresentadas pelos jovens. Pode ser um curso, uma microempresa ou um projeto - algo que aposte na criatividade, no desenvolvimento pessoal e na valorização da comunidade.


A Agência organiza os chamados "ciclos de formação", cursos nos quais os jovens realizam tarefas de pesquisa e mobilização, recebendo capacitação e orientação para desenvolverem ações de impacto no seu território. Ao final, cinco ou seis propostas de atuação são selecionadas e recebem um apoio financeiro de cerca de R$ 2.500 do programa. Um desses projetos é o Movimento Organizado de Valorização Artística (M.O.V.A), de Santa Cruz, na zona oeste do Rio. O projeto realiza atividades de assessoria, fotografia e apoio na produção de eventos, visando apoiar ações culturais e valorizar artistas independentes locais.


Rafael Moreira, artista e um dos coordenadores do M.O.V.A, explicou que a Zona Oeste do Rio sempre sofreu com a ausência de aparelhos culturais na região. "Como artista, gostaria de ver mais políticas de incentivo para artistas locais. Então, o M.O.V.A nasce dessa necessidade de apoiar os artistas independentes da minha região e oferecer recursos para que eles possam se desenvolver enquanto profissionais e também impactar de forma positiva nossa comunidade", disse Moreira.


Para ele, a metodologia ensinada pela Agência foi essencial para aprender a buscar redes de apoio na cidade e conseguir investimentos para manter seu projeto sustentável. “A Agência sempre aborda esses três pontos: potência, rede e território. E ela nos potencializa enquanto artistas e produtores culturais, para podermos criar cada vez mais essas redes a fim de colocar projetos de impacto social no nosso território”, afirmou.


Rafael Moreira, também conhecido pelo nome artístico “Viajante Lírico” em uma apresentação - Foto: Reprodução/Redes Sociais

Durante os "ciclos de formação" da Agência, jovens de 18 a 29 anos de áreas populares do Rio de Janeiro se reúnem em encontros semanais para debater questões como a infraestrutura dos seus territórios, a presença ou ausência de aparelhos culturais e de que forma podem tirar seus planos e projetos do papel.


Turma do ciclo de formação de 2022 da Agência de Redes Para A Juventude - Foto: Reprodução/Instagram

A comunicadora Gabriella Nacor, moradora de Sepetiba, Zona Oeste, oferece serviços de ilustração para micro e pequenos empreendedores. Ela participou do ciclo de formação de 2020, ainda em formato EAD devido à pandemia, e afirmou que participar da formação da Agência mudou sua forma de olhar e ver potencial no seu próprio território. “No primeiro dia de aula online, senti um empoderamento muito grande ao ver jovens periféricos reunidos. Acho que mais de 40 jovens estavam ali em um sábado de manhã para pensar sobre cultura, arte e ações sociais”, disse Nacor.


Nacor explicou que o programa, além de estimular sua ação e mobilização, colaborou para aumentar sua autoestima como moradora de periferia, permitindo enxergar potência em si e no lugar onde vive. “É o jovem periférico como protagonista, reconhecido como sujeito criador, e não apenas como objeto de ação social”, explicou.


Nos últimos 13 anos, a Agência impactou mais de cinco mil jovens em 143 territórios periféricos na cidade do Rio de Janeiro, como Acari/Fazenda Botafogo, Santa Cruz, Morro da Providência e Rocinha, por exemplo. 


Em 2012, sua metodologia foi premiada e escolhida pela Fundação Calouste Gulbenkian para ser implantada na Inglaterra, nas cidades de Londres e Manchester. Em 2018, foi ampliada para a Irlanda e País de Gales. Com sede em Portugal, a Fundação visa estimular o desenvolvimento de pessoas e organizações através da arte, ciência e educação, assim como promover um maior acesso à cultura e uma sociedade mais equitativa. Atualmente, a Agência se mantém por meio da submissão a editais e emendas parlamentares. 


Em entrevista ao portal R7, o escritor e idealizador da Agência, Marcus Faustini, afirmou que é preciso mudar a maneira de olhar para o jovem da periferia: “Ele não é carente e não é perigoso. Ele é um sujeito potente, com desejos e ideias. Precisamos escutá-lo e tratá-lo como criador”, disse.


Ele explicou que o objetivo da metodologia é oferecer repertório para que esses jovens criem seu próprio caminho de conexão na cidade. “Geralmente, eles não conhecem os criadores, os lugares de legitimação e de visibilidade. É importante que abramos essas redes para que sejam reconhecidos como criadores”, ressaltou o escritor.


Em parceria com instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade de Stanford, o programa ainda oferece uma bolsa-auxílio no valor de R$ 150 para garantir a plena participação dos jovens durante o período de formação. Os recursos vêm de fundações, bolsas, doações e também de editais públicos. Acesse aqui para contribuir e/ou conhecer mais sobre as frentes de atuação da Agência e alguns dos 119 projetos desenvolvidos a partir da metodologia.




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