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Metrô a R$ 7,90 no Rio é o mais caro do Brasil

  • Raphael Lisboa
  • há 2 dias
  • 4 min de leitura

Passageiros reclamam de trens lotados e falta de investimentos


Essencial para os cariocas, o metrô irá completar 10 anos sem nenhum tipo de expansão. Foto: Raphael Lisboa/Rampas
Essencial para os cariocas, o metrô irá completar 10 anos sem nenhum tipo de expansão. Foto: Raphael Lisboa/Rampas

A partir de 12 de abril, o bilhete no Metrô do Rio sobe de R$ 7,50 para R$ 7,90 — um reajuste de 5,3%, acima da inflação acumulada de 4,5% nos últimos 12 meses. O sistema, que desde a inauguração da estação Jardim Oceânico para as Olimpíadas de 2016 não recebeu nenhum tipo de expansão, consolidou sua posição como o mais caro do Brasil, ultrapassando capitais como Brasília e Belo Horizonte (ambas com tarifa de R$ 5,50) e São Paulo (R$ 5,20).

Enquanto o metrô do Rio opera com apenas três linhas que cobrem áreas limitadas da cidade, São Paulo avança com uma rede sobre trilhos mais ampla e conectada. Com seis linhas de metrô integradas a trens e corredores de ônibus, a capital paulista oferece uma malha que alcança diferentes regiões e permite deslocamentos mais eficientes. Essa diferença estrutural evidencia a disparidade entre o preço cobrado e o serviço entregue em cada cidade.


Mapa da rede de transporte público do Rio de Janeiro, incluindo as linhas de metrô, VLT, BRT, barcas e conexões com a SuperVia. Foto: Reprodução/Rotas e Caminhos
Mapa da rede de transporte público do Rio de Janeiro, incluindo as linhas de metrô, VLT, BRT, barcas e conexões com a SuperVia. Foto: Reprodução/Rotas e Caminhos

Mapa do transporte metropolitano de São Paulo, incluindo as linhas de metrô, trem e corredores de ônibus interligados. Foto: Reprodução/Metrô - SP
Mapa do transporte metropolitano de São Paulo, incluindo as linhas de metrô, trem e corredores de ônibus interligados. Foto: Reprodução/Metrô - SP

Além das barreiras políticas e orçamentárias, a proposta de expandir o sistema de metrô do Rio enfrenta desafios geográficos. O terreno da cidade é extremamente irregular, o que dificulta a escavação e torna o processo muito mais caro e demorado. Para o professor do Departamento de Construção Civil e Transportes (DCCT) da Uerj Leandro Vaz, esse contexto territorial limita as opções de expansão do metrô, deixando a construção de novas linhas e estações muito mais desafiadoras do ponto de vista econômico do que em outras capitais. 


"A geografia da cidade dificulta a implantação de novas linhas, mesmo que subterrâneas. Além disso, as regiões densamente ocupadas por casas e prédios tornam esse tipo de obra muito caro. A cidade é concentrada entre os morros, a Baía de Guanabara e as praias, o que atrapalha bastante a construção de novos ramais, metrôs de superfície e outros tipos de serviço", afirma.


Como alternativa a essas dificuldades, Leandro Vaz aponta que o foco do planejamento urbano deve ir além da expansão do metrô. Segundo ele, a cidade dispõe de outras possibilidades para melhorar a eficiência de seu sistema de transporte:

“Nesse caso, alternativas como BRT, VLT ou a melhoria nos trens da Supervia podem ser mais viáveis. Isso não significa que o metrô não deva crescer, mas sim que é preciso adotar uma visão mais ampla e conectada da mobilidade urbana”, pontua.


Diante dos diferentes desafios, cada cidade optou por estratégias de construção que atendiam às necessidades do momento, escolhas que impactam ambos os serviços até hoje. No Rio, a decisão foi focar em aliviar o trânsito das regiões mais povoadas, começando pela área central. Já em São Paulo, a estratégia foi construir diversas linhas simultaneamente, em resposta à pressão do crescimento populacional.


"São Paulo é uma cidade muito maior que o Rio de Janeiro, e o metrô foi implantado em formato de malha, como um jogo da velha expandido, com muita integração entre as linhas. Isso permite uma melhor distribuição do fluxo de passageiros", explica o especialista.


A evolução da expansão do Metrô de São Paulo desde 1974. Foto: Reprodução/Metrô CPTM
A evolução da expansão do Metrô de São Paulo desde 1974. Foto: Reprodução/Metrô CPTM

Quem já usou tanto o metrô do Rio quanto o de São Paulo sabe que a diferença vai além dos números. A experiência diária dos passageiros mostra contrastes na eficiência, conforto e integração dos sistemas. Beatriz Freitas, internacionalista de 27 anos, e Pablo Santos, educador de 25 anos, que já dependeram do metrô carioca e hoje utilizam o paulistano, relatam as principais diferenças e como essa mudança impactou sua mobilidade.


Beatriz diz que a experiência com o metrô de São Paulo é mais confortável:


"Nos horários de pico, ambos ficam lotados, mas o de São Paulo ainda oferece mais conforto. No Rio, os trens da Linha 1 são mais antigos, o ar-condicionado não funciona tão bem e a disposição dos assentos dificulta a movimentação. Além disso, a rede é muito mais extensa, atingindo até municípios vizinhos, enquanto no Rio o metrô é bem mais limitado."


Além disso, a passageira reforça a questão da disparidade do valor da tarifa entre as duas capitais:


"A maior diferença entre o metrô de São Paulo e o do Rio é o número de linhas e o valor da tarifa. O metrô daqui atende muito mais regiões e, ainda assim, tem um preço inferior ao do Rio. Quando me mudei, a tarifa no Rio já estava em torno de seis reais, enquanto em São Paulo fica na faixa dos cinco."


Com o modal conectando apenas a região central e alguns pontos da Zona Norte e Zona Sul, moradores da Baixada Fluminense, da Zona Oeste e de outras regiões enfrentam dificuldades para acessar atividades culturais, oportunidades de emprego e outros serviços essenciais na capital. Pablo, acredita que a limitação tem relação com a desigualdade econômica na cidade:


“No Rio, a concentração de renda e de atividades culturais fica muito restrita a áreas como Tijuca, Botafogo e Leblon. E isso acontece justamente porque a falta de linhas de metrô dificulta que outros bairros se integrem ao centro econômico e cultural da cidade. No fim, a limitação do transporte acaba criando uma segregação espacial que não se vê tanto em São Paulo.”


Metrô da Linha 1 em direção à estação Uruguai no Rio. Foto: Raphael Lisboa/Rampas
Metrô da Linha 1 em direção à estação Uruguai no Rio. Foto: Raphael Lisboa/Rampas

De acordo com dados referentes ao ano de 2024 da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), no Rio, o transporte sobre trilhos perdeu 1,2% dos passageiros, enquanto o uso cresceu 3,6% nacionalmente. As passagens mais caras que os ônibus e a falta de integração são apontadas como causas da queda. Já em São Paulo, o número de passageiros aumentou cerca de 4,62% em comparação ao ano anterior.


Questionada sobre possíveis melhorias e expansões, a concessionária MetrôRio não nos respondeu até o fechamento da matéria. 





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