Mulheres ganham espaço no carnaval dos bate-bolas
- Vinícius Feliciano
- 25 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 2 dias
Grupos femininos como as Maxam-Girls, de Nova Iguaçu, reinventam a tradição centenária das periferias do Rio de Janeiro

Nascido no bairro da Cobrex, em Nova Iguaçu, o grupo feminino de bate-bolas Maxam-Girls desfilou este ano pelo segundo Carnaval consecutivo. Num meio dominado pelos homens, um grupo de bate-bolas feminino ainda é novidade e aos poucos vai garantindo seu espaço numa das tradições mais antigas do Rio de Janeiro.
O Maxam-Girls surgiu a partir de uma outra turma de bate-bolas de Nova Iguaçu, o Maxambombas. Criado em 2022, o grupo era inicialmente composto por cerca de 25 participantes, sendo Pâmela a única mulher. Foi a percepção dessa disparidade que levou a foliã a criar no ano seguinte o grupo feminino, buscando incluir outras mulheres interessadas pela arte. Na expectativa para o carnaval 2026, o grupo já reúne mais de 40 integrantes – e, somando as turmas masculina e feminina, chega a cerca de 100 foliões.
Para Pâmela Andrade, fundadora e organizadora do grupo, o processo criativo é tão marcante quanto o resultado final. “Quando você monta a fantasia e vê que tudo está pronto, exatamente como imaginou, é uma sensação muito gratificante”, afirma. Pâmela reconhece que, ao longo do ano, alguns membros precisam deixar o projeto por dificuldades financeiras, mas enfatiza que essa variação no número de componentes é natural.

Hoje, o grupo realiza reuniões mensais durante todo o ano. Nelas, são discutidas as questões da próxima saída – como são chamados os desfiles de bate-bolas –,desde a escolha do tema até os detalhes logísticos. As novas integrantes têm a chance de se conectar com as veteranos. “As reuniões servem para manter essa fraternidade entre nós”, afirma Ana Beatriz Feliciano, participante das Maxam-Girls desde 2023 junto de sua irmã, Alexandra Feliciano, que completou: “A gente acaba conhecendo até a família da outra, nossos filhos estão sempre juntos”.
Para participar das reuniões, o interessado paga uma mensalidade ao grupo, que cobre os gastos de trabalho aos envolvidos e as fantasias que serão usadas no próximo ano.

A cultura dos bate-bolas
Os grupos de bate-bolas, também conhecidos como Clóvis (palavra derivada do termo clown (palhaço, em inglês), são grupos formados por cerca de 15 a 200 pessoas, adultos e crianças, caracterizadas com roupas brilhantes, temáticas e coloridas, formadas por macacões, boleros, máscaras, luvas e meias, sempre carregando bexigas e sombrinhas. As fantasias têm origem em vestimentas folclóricas europeias de contos celtas.
No Rio de Janeiro, grupos de bate-bola têm origem em bairros do subúrbio, onde a presença de matadouros facilitou o acesso a bexigas de bois e porcos — matérias-primas usadas para confeccionar as primeiras bolas. Em 2012, a Prefeitura do Rio de Janeiro declarou os grupos como Patrimônio Cultural Carioca de Natureza Imaterial, reconhecendo sua importância como personagens típicos do carnaval da cidade. A decisão destacou não apenas a alegria desses grupos, mas também sua resistência à massificação do carnaval, mantendo viva uma tradição popular autêntica.
Nos últimos anos, a tendência tem crescido entre grupos minoritários que desejam participar de turmas de bate-bola. Segundo mapeamento da Prefeitura do Rio, realizado em 2022, sobre os grupos localizados na capital carioca, 23 novas equipes de mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ foram criadas. As turmas femininas nascem como uma forma de diversificar a cultura que, muitas vezes, é vista apenas como masculina.
Apesar dos bate-bolas serem, constantemente, ligados à violência na cidade, não possuem relação direta com grupos criminosos. No entanto, em algumas situações, criminosos aproveitam o fato de estarem mascarados para seguir em naturalidade pelas ruas e cometer atrocidades.
Competições culturais

Durante o carnaval, existem alguns concursos que premiam as turmas de bate-bolas com melhor caracterização. Em 2025, na cidade do Rio, a premiação foi incluída no calendário do Concurso de Foliões, na Cinelândia, que além de destacar os grupos, também teve uma programação fixada em aumentar o interesse do carioca por se fantasiar de forma criativa e divertida. Em entrevista ao Rampas, Flávio Teixeira, diretor de operações da Riotur, organizadora do evento, afirmou que 104 grupos de bate-bolas, com 15 componentes cada, se inscreveram nas categorias de bexiga e sombrinha, totalizando 1560 participantes. Ao todo, 1603 pessoas se inscreveram para todas as 6 categorias do dia, que incluíam Infantil, Adulto, Originalidade e Palhaço, além das duas específicas para bate-bolas.
Confira imagens do evento publicadas pelo videomaker Flávio Agito:
Já em Nova Iguaçu, as Maxam-Girls foram campeãs na categoria “Bola e Bandeira” no primeiro campeonato para bate-bolas na Rua larga, tradicional espaço de folia no bairro de Santa Rita. Organizados pela prefeitura, os cinco dias de folia da rua contaram com várias atrações, incluindo os concursos de bate-bola e musa do carnaval. Como os grupos femininos ainda são minoria, as competições permanecem focadas nas turmas masculinas, mas a festa não perde o brilho para quem está na torcida. “Nem toda turma tem sua ala feminina, por isso, ainda não temos competições só entre mulheres. Nós ganhamos junto com eles”, afirma Alexandra. Comparativamente, na competição da Riotur, apesar de também não haver uma modalidade feminina, os grupos formados exclusivamente por mulheres tiveram espaço garantido no palco, competindo diretamente com os grupos masculinos.