Problemas de acessibilidade e horário restrito das linhas são principais reclamações dos usuários
Mata-velho. Assim deveria se chamar o Terminal Intermodal Gentileza (TIG), afirma um senhor que passa apressado e impaciente enquanto encara os funcionários do “Posso Ajudar”. Ele não é o único a reclamar da falta de acessibilidade do local para idosos: o operador de empilhadeiras Carlos Augusto Costa, de 72 anos, também enfrenta os mesmos desafios no terminal, onde as entradas e saídas são tomadas por escadas.
Há algumas escadas rolantes, mas, a depender do horário, só funcionam para subir. É isso que “mata” Carlos, que diariamente utiliza o ônibus 369 (Bangu x Candelária) para chegar ao Terminal Gentileza e seguir de VLT até seu trabalho no Cais do Porto.
"O Terminal não veio facilitar a vida de todo mundo não. Tem muitas escadas, poucas escadas rolantes. Tinha que ter mais rampas, porque eu estou com problema nos joelhos e para subir e descer essas escadas todos os dias é difícil", conta o operador.
Por mais que existam rampas em algumas entradas, a pessoa que acessa o terminal pela Rua São Francisco, por exemplo, e deseja embarcar em uma das linhas de ônibus precisa atravessar todo o terminal. E, caso seja antes de 9h, não poderá contar com as escadas rolantes para descer – pois todas ficam desligadas.
Inaugurado em 24 de fevereiro, o nome do terminal é uma homenagem a José Datrino, o Profeta Gentileza, pregador urbano e dono do bordão que estampa diversos muros da cidade com a clássica composição amarela e verde:“gentileza gera gentileza”. Os dizeres chegaram a ser apagados de 56 pilastras do Viaduto do Gasômetro pela própria Prefeitura em 1980, mas, 20 anos depois, foram restaurados e tombados.
O Terminal Gentileza integra BRT, VLT,14 linhas de ônibus municipais, além do GIG, ônibus expresso para o Aeroporto Internacional Galeão. O objetivo, segundo a Prefeitura, é melhorar a experiência dos usuários de transportes públicos das zonas Oeste, Norte e Centro da cidade.
A promessa, no entanto, não se concretizou, de acordo com o passageiro Eli do Nascimento, de 49 anos. Ele relata dificuldades na volta para casa após a jornada de trabalho em um supermercado no Leblon. “O Terminal facilitou a minha ida até o trabalho, mas na volta o ônibus 110 (Gentileza x Leblon) acaba cedo. Saio por volta das 22h15, e já não tem ônibus. A gente fica sem saber se vai ter BRT até a saída 19 ou se vão inaugurar um BRT exclusivo do Leblon rodando até mais tarde. A gente não sabe."
Localizado em São Cristóvão, em frente a Rodoviária Novo Rio, o TIG foi construído onde era o antigo Centro de Mídia das Olimpíadas 2016. O terminal faz parte de uma rede ainda maior que inclui a Transoeste, Transcarioca, Transolímpica e Transbrasil. Ao todo, são 139 estações, 16 terminais e quase 15km de extensão.
Parte do terminal ainda não está em funcionamento. A fase 2 das operações inicia-se no dia 30 de março, quando o BRT Transbrasil começa a funcionar, ligando Deodoro ao TIG. Outra novidade é com relação às faixas seletivas. De Deodoro ao Caju (faixa da esquerda), o uso é exclusivo para BRTs. E entre Irajá, Margaridas e o Caju (faixa da direita), a seletiva é para ônibus, veículos de serviços e táxis.
Mesmo com a inauguração do maior integrador de transporte público da capital, moradores dos bairros da Gamboa, Saúde e demais regiões da Zona Portuária têm sofrido com a falta de opção de transporte após a mudança do itinerário de algumas linhas para o Terminal Gentileza. Um dos atingidos é o pai da estudante Gisele Lima, de 28 anos. Moradores do Estácio, ela conta das constantes reclamações de José Roberto, de 59 anos, que agora precisa de dois VLTs para chegar ao trabalho, na Gamboa. “Antes meu pai pegava só o [ônibus] 110 embaixo do viaduto [31 de Março]”, compara a estudante de Arquitetura e Urbanismo.
Um abaixo-assinado, com 760 assinaturas até o momento, reivindica a volta dos ônibus 108 (Gentileza x Ipanema) e 110 (Gentileza x Leblon). “As duas linhas que passavam no Santo Cristo, na rua da América, e que iam direto para a Zona Sul, não passam mais ali. Agora o ônibus sai do Terminal Gentileza, dá uma volta na Francisco Bicalho, segue pela Presidente Vargas para depois sair atrás da Apoteose”, explica um dos organizadores da iniciativa, Luis Fernando Gomes Pereira.
O objetivo da mobilização é conseguir uma reunião com representantes da Secretaria Municipal de Transportes e com o prefeito Eduardo Paes para discutir e reivindicar o retorno das linhas. “Essa mobilidade urbana é essencial para a dignidade de quem habita o território”, diz um trecho do abaixo-assinado.
O Rampas Uerj entrou em contato com a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR-RJ) e com a subsecretaria de transportes da cidade, Luciana Fernandes, para falar sobre as demandas de acessibilidade e de ampliação do itinerário de ônibus, mas não obteve respostas até o fechamento da reportagem.
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