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Foto do escritorGuibsom Romão

Os sonhos e planos de Selminha Sorriso, uma diva da Sapucaí

Atualizado: 7 de jul.

Multicampeã e premiada, a porta-bandeira não pensa em parar e relembra carreira


“Mulher preta que morou em comunidade.” É assim que Selma de Mattos Rocha, 53 anos, mais conhecida como Selminha Sorriso, se apresenta ao Rampas. Dona do sorriso mais famoso da Sapucaí, de um bailado multicampeão e premiado, a porta-bandeira fez um balanço de sua carreira, escolheu o melhor e o pior desfile e se diz preparada para o Carnaval de 2025.


“Conheci o mundo inteiro, muitos países (risos). Realizei um sonho que era estudar”, afirma a ponta-bandeira, que é bacharel em direito e pós-graduanda em Psicologia Social e Antropologia. Também é bombeira militar e mãe do Igor.


Nascida no bairro de Edson Passos, no município de Mesquita, na Baixada Fluminense, Selminha iniciou sua trajetória no carnaval na década de 80 como passista show, mas desde criança já havia se encantado com a arte da porta-bandeira. Em 1990, no seu primeiro ano no posto, ainda como 2ª porta-bandeira, Selminha desfilou pelo Império Serrano sem mestre-sala. Mesmo lembrando esse momento como uma dificuldade do início de carreira, diz que estava feliz, pois realizava um sonho.


Em 1991, Selminha desfilou pela primeira vez como 1ª porta-bandeira no Império Serrano. A escola, porém, acabou rebaixada.


Foi na Estácio de Sá, em 1992, que Selminha viu seu sonho, que já estava realizado, triunfar e teve três dos seus quatro grandes e bem-sucedidos encontros no carnaval: conheceu Claudinho Oliveira, seu parceiro inseparável de dança atual mestre-sala; ganhou o seu primeiro Estandarte de Ouro, tido como o Oscar do carnaval carioca; e o ganhou primeiro título de campeã. 


No ano de 1996, mais um outro bem-sucedido encontro: ela e Claudinho entram para a Beija-Flor de Nilópolis, escola onde desfila até hoje e pela qual já conquistou mais 9 títulos de campeã do carnaval, além de 5 estandartes de ouro.


Selminha é a porta-bandeira que está há mais tempo consecutivo numa escola. Na entrevista abaixo, lembrou dificuldades e sucessos, deixando nítido o quanto a maternidade atravessa o seu ofício como porta-bandeira.


Rampas Uerj: Você já foi desacreditada no que se refere ao seu desejo de ser porta-bandeira?


Selminha: Sim, no meu primeiro ano como primeira porta-bandeira eu recebi notas muito baixas. Com isso o meu talento também foi questionado, foi bem difícil, cheguei até a pensar em desistir. Mas os deuses do samba se reuniram e decidiram que eu deveria continuar.


Rampas Uerj: Você já teve algum problema físico na sua carreira?


Selminha: Tive uma fratura na coluna em 1992, mas graças a Deus nunca senti dor na coluna. Olha que foi uma fratura feia, hein?


Rampas Uerj: 10 vezes campeã e 6 estandartes de ouro, como você explica esse feito na sua vida? 


Selminha: Não feito só meu, né? É um trabalho coletivo, os campeonatos, os estandartes, eu compartilho com o Claudinho e com todos aqueles que fazem parte de alguma forma para que eu consiga adentrar a avenida e fazer sempre algo tão lindo. 


10 títulos, né? Caramba! 6 estandartes… e olha que eu não ganho estandarte desde 2009, mas quem sabe um dia (eu não ganhe de novo) não é? Tudo é possível?.


Rampas Uerj: Como mulher negra, com mais de 50 anos de idade e 35 de porta-bandeira em plena atividade, como avalia sua existência em um país tão machista e racista que tende a limitar as mulheres, em especial mulheres negras?


Selminha: Vivemos num país racista que tenta colocar a mulher numa posição de que ela não pode continuar a fazer algo a partir de um dado momento, por puro achismo. Mas as mulheres não estão medindo esforços, estão chegando mesmo com o pé na porta, “Dá licença que eu vou entrar e eu vou permanecer aqui até quando eu quiser permanecer. Não é você que vai dizer que eu não posso entrar”. Ou seja, ela diz que ela pode, ela pode passar dos 30, dos 40, dos 50, dos 60, se ela estiver bem para exercer determinada função, seja física ou intelectual, ela vai exercer.


Rampas Uerj: Tem algum ritual ou mania para entrar na avenida?


Selminha: Tenho, tomo banho de ervas, acendo incensos, levo arruda, acendo defumador. E sempre estou com o coração bom, com o coração leve, com paz interior, paz na mente, paz no coração.


Rampas Uerj: ⁠O que mudou no ofício de porta-bandeira da época que você começou, nos anos 90, até agora?


Selminha: Ah, muita coisa mudou. Antes era bem diferente, as roupas, o ritmo das baterias, as coreografias. Mas sempre lembrando que é importante ter o fundamento da dança do mestre-sala e da porta-bandeira em primeiro lugar.


Rampas Uerj: Um desfile difícil e por quê?


Selminha: Foi o desfile 2005, porque foi quando a minha mãe, que com 52 anos, entrou em coma induzido, e a Beija-Flor estava tentando o tricampeonato e eu não podia falhar ali. Tinha muito trabalho e sentimento de tanta gente, e eu tinha que contribuir com a minha parte para que a escola fosse tricampeã, e ela foi. Minha mãe partiu 3 dias depois, mas com toda certeza a minha mãe ficou muito feliz porque ela me amava e amava o meu ofício. 


Rampas Uerj: Um desfile delicioso e por quê?


Selminha: Em 2001, porque foi o meu desfile como mãe do Igor pela primeira vez, né? Desfilei tendo meu grande sonho de maternidade realizado, e sempre, o outro grande sonho de menina, que era ser uma porta-bandeira.



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