Professores e psicólogos defendem medida para estimular concentração dos estudantes e melhorar convívio com amigos
Bernardo, de 13 anos, aluno da rede municipal do Rio de Janeiro, enfrenta uma nova realidade: a partir do primeiro de fevereiro, a prefeitura proibiu o uso de celulares em escolas municipais, conforme o Decreto Nº 53918. A medida, que vale também para intervalos e recreios, requer que os aparelhos fiquem desligados ou em modo silencioso dentro das salas. Essa decisão, resultado de uma ampla consulta pública, recebeu apoio da comunidade escolar.
Como muitos adolescentes de sua idade, Bernardo não sai de casa sem o celular. Segundo sua mãe, Andreia Sampaio, o dispositivo tornou-se um “membro do corpo” do jovem, que o usa para estudar, assistir filmes e jogar. Ela diz que separar o filho do celular é uma tarefa difícil: “Eu já tentei colocar horários para usar o celular em casa, mas não deu muito certo, tem vezes que é complicado até pra conversar com o Bernardo, porque ele não presta atenção”.
A popularidade dos celulares entre o público mais jovem no Brasil tem crescido consistentemente. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, em 2022, mais da metade das crianças e adolescentes entre 10 e 13 anos (54,8%) possuíam um telefone celular para uso pessoal. Esse número representa um aumento em relação a 2021, que registrava 51,4%, e marca um novo recorde na série histórica que começou em 2016, quando apenas 39,3% dessa faixa etária tinha acesso a um celular próprio.
Andreia acredita que o dispositivo distrai Bernardo em sala de aula. “Se em casa ele já se desliga do mundo por causa do celular, imagina na escola, quando eu não tô vendo. Toda hora um joguinho, uma mensagem do amiguinho, sempre uma distração”, conta a mãe.
Márcia Freitas, professora da Escola Municipal Rose Klabin, considera a proibição benéfica para a concentração e interação dos alunos: “Algo precisava ser feito para frear o uso exagerado do aparelho nas salas de aula. O decreto aconteceu porque era preciso proteger os adolescentes”. Ela acredita que, apesar da proibição, o uso da tecnologia é necessário para que uma boa aprendizagem aconteça. “Sou a favor da pesquisa e das descobertas que podem ser feitas com essa ferramenta chamada celular. No entanto, parece que os adolescentes ainda não têm essa consciência”, explica Freitas.
A professora conta que os estudantes receberam a notícia com espanto e insatisfação, enquanto os professores enxergam a nova medida com esperança: "Foi necessário abordar o assunto com os alunos, explicando a visão dos estudiosos em relação ao uso excessivo do celular pelos adolescentes. Mas nós, professores, recebemos o decreto com certo alívio. A partir da lei, acredito que vai ser possível ter uma ajuda para as insistentes solicitações de atenção durante a aula”.
Na opinião de Márcia, os principais benefícios dessa política de proibição de celulares durante as aulas são a maior capacidade de concentração e a possibilidade de interação significativa entre os estudantes. “Os alunos acabam deixando de lado a convivência no ambiente escolar por causa do aparelho celular. O isolamento não é aliado da aprendizagem. Eles precisam de socialização na escola”, diz a professora.
A melhora na interação social é confirmada pela psicóloga Gabriela Almeida: "Com menos distrações, os alunos estão mais engajados nas atividades e se relacionando melhor com os colegas. Isso impacta diretamente na autoestima e no bem-estar emocional." Essa mudança já é notada em Fernanda, de 14 anos. Segundo Rosângela Vieira, sua mãe, ela já faz as atividades sem o auxílio do celular, suas notas melhoraram e ela começou a brincar com jogos de crianças.
Os resultados positivos observados pelos professores até o momento geram expectativas de que a medida possa ser replicada em outros lugares. “É um passo importante na busca por um ambiente educacional mais focado no aprendizado, na socialização e no desenvolvimento integral dos alunos”, afirma Gabriela Almeida.
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