Com o avanço das tecnologias e jogos online, jovens estão cada vez mais encantados com a possibilidade de ganhar a vida se divertindo, mas você sabe como essa profissão funciona?
Você conhece a profissão de “streamer”? A carreira de gente como Casimiro, Gaules, Alanzoka e Cellbit enche os olhos dos jovens que curtem jogos. O streamer é aquele profissional que faz transmissões ao vivo de jogos e assuntos variados em plataformas de streaming, as chamadas lives. A profissão se tornou um negócio de alta rentabilidade para quem faz sucesso, mas chegar lá não é tão simples.
Segundo o relatório feito pelos sites especializados Rainmaker e Stream Elements, desde a pandemia de Covid-19, a Twitch, principal plataforma de transmissão, cresceu cerca de 117%. De acordo com dados da Twitch, em 2020, a plataforma teve mais de 30 milhões de visitantes únicos diários e pelo menos 1 trilhão de minutos assistidos.
Em apenas dois meses de 2022, a plataforma conseguiu arrecadar cerca de 230 bilhões de horas assistidas, 5% a mais que em todo o ano de 2021. O que começou apenas como transmissão de jogos gerou visibilidade para outras formas de fazer conteúdo.
Casimiro, atualmente um dos streamers brasileiros mais bem sucedidos, com cerca de 3,7 milhões de seguidores em seu canal da Twitch, bate recordes de audiência frequentemente em suas transmissões. Suas lives mostram diferentes tipos de conteúdo, reagindo a vídeos, assistindo a jogos ou comentando campeonatos.
Mas nem todo mundo consegue o sucesso de Casimiro. A carreira de streamer não é tão simples quanto parece. A remuneração de streamers iniciantes não é nada satisfatória e exige muitas horas de trabalho para um ganho mínimo. A Twitch pode ser categorizada como uma plataforma de “trabalho independente”, por isso não existe nenhum vínculo empregatício entre a plataforma e quem produz conteúdo para ela. Sendo assim, ser streamer ainda não é um trabalho regularizado.
Deborah Souza, streamer há cinco anos de jogos online, diz que existem muitos desafios por não ter a profissão reconhecida. “As pessoas podem achar que ‘ah, você tá fazendo live, você só tá jogando’, mas tem que ter responsabilidade. E, também, tem toda a falta de benefícios, auxílios, direitos e deveres. Não é muito bem definido”.
Para streamers pequenos, a maneira mais próxima de chegar a algum relacionamento com a Twitch é pelo programa Partners, que viabiliza a monetização de canais pequenos. O processo para ingressar no programa é aparentemente simples, basta atingir a meta de 50 seguidores e manter uma média de transmissões de oito horas diárias. Mas, fazer parte do programa não garante uma renda ideal, já que o valor do pagamento é influenciado pela quantidade de inscrições que as pessoas pagam para seu canal.
Deborah explica que pela Twitch ser uma empresa privada, os repasses e os contratos são impostos aos criadores, porque em termos de visibilidade, a Twitch é a melhor opção no mercado. “Você vira refém, porque, para crescer, você precisa de visibilidade, de público, então eles podem fazer o que querem nessa questão de repasse”, esclarece a streamer.
Devido à falta de vínculos trabalhistas pela plataforma, a Twitch tem liberdade para mudar as regras de remuneração dos profissionais a qualquer momento. Devido a isso, em 2021 a plataforma se envolveu em uma polêmica que desagradou grande parte da comunidade. Para se inscrever em canais, os espectadores precisam pagar um valor, que é repassado em 50% para os streamers. Neste ano, a plataforma diminuiu o valor do sub - comumente chamada a inscrição - e, consequentemente, o valor repassado para o criador de conteúdo também sofreu uma diminuição. Os mais afetados dessa decisão foram os streamers pequenos, que não possuem contratos com organizações e nem possuem publicidades como fonte de renda a mais vinda das lives.
Para Deborah, atualmente, o maior desafio para os streamers pequenos é, realmente, a questão do repasse dos lucros, porque é muito trabalho, ainda mais quem quer se dedicar para tornar em uma atividade profissional.
“Ainda nessa questão do repasse, você tem um auxílio ali muito limitado que você só consegue negociar com a Twitch quando você já está muito famoso, tem números fora da média. Aí que eles enxergam como se fosse uma perda deles você sair da plataforma. Aí sim você consegue, entre aspas, negociar”, completa.
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Dicas importantes
Se você quer ser streamer, é necessário saber como começar e quais os cuidados deve ter para alcançar o sucesso. O mercado das streams é muito saturado e, por ser um trabalho autônomo, é incerto como todos os outros. Por isso, é sempre bom não abrir mão completamente de um trabalho fixo até que os retornos das lives comecem a ser suficientes para pagar suas contas.
Um quesito importante para o sucesso nas plataformas de streaming é o público. Conseguir formar uma comunidade que esteja presente em suas transmissões é difícil, por isso, a divulgação também deve ser levada em consideração.
Ronas Marinho, streamer também há cinco anos, faz lives de jogos variados em seu canal da Twitch. Para ele, o essencial é manter uma frequência de transmissão e fazer porque gosta, como um hobbie, além de não buscar ganhos econômicos, porque a realidade é bem diferente do que a gente costuma ver nos streamers grandes.
É como faz a streamer Deborah, com dias marcados para lives e para outros afazeres. “Eu tiro dias da semana específicos para não fazer live, e tenho dias e horários específicos também pra fazer. Normalmente aproveito que tô jogando, tô tipo num momento de lazer pra fazer live. Só que também, às vezes, não tem como, porque realmente, fazer live é uma coisa que você tem que ter responsabilidade. Porque outras pessoas vão estar vendo e outras pessoas se espelham, seja você pequeno ou um streamer grande ”.
“No início é um pouco desmotivador porque não tem uma frequência de público, também é um pouco difícil interagir com os que vão surgindo e principalmente manter o conteúdo. Mas com o tempo a gente vai se acostumando e vai criando planos para poder melhorar a cada dia e conseguir manter uma frequência”, explica Ronas.
Além disso, é preciso estar em constante exposição nas redes sociais. A pesquisadora Crystal Abidin chama essa atividade de trabalho de visibilidade, envolvendo não só o esforço de estar presente como também lidar com a constante exposição da sua vida e imagem. “Vai além da live. Você precisa, às vezes, ter mais outras duas ou três redes sociais à parte, para trazer o público pra Twitch”, explica Deborah.
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