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Foto do escritorBernardo Monteiro

Superando obstáculos: o caminho dos brasileiros até as Olimpíadas e Paralimpíadas

Brasil tem 523 medalhas somadas, mas atletas enfrentam dificuldades diárias para treinar e competir em alto nível


Emanoel Victor em competição classificatória para as Paralimpíadas de Paris 2024. Foto: Reprodução/Instagram

Rafaela Murta, atleta e professora de Taekwondo, fez uma promessa após o falecimento de seu tio, também seu primeiro treinador: conquistaria a faixa preta antes dos 15 anos. Por sua vez, em São Gonçalo, Emanoel Victor, atleta de arremesso de peso paralímpico de 32 anos, descobriu o poder transformador do esporte enquanto assistia aos Jogos Parapan-Americanos de 2007, um evento que lhe mostrou que sua hemiplegia — a paralisia do lado direito do corpo — não era uma barreira para competir internacionalmente.


Emanoel e Rafaela representam os atletas brasileiros que, apesar das adversidades, seguem em busca de seus sonhos olímpicos e paralímpicos. No entanto, além do suor e dos desafios nos tatames e nas pistas, eles enfrentam uma realidade comum a muitos esportistas do país: a luta diária contra a falta de infraestrutura adequada, apoio financeiro escasso e uma cobertura midiática que muitas vezes não reconhece o valor de suas conquistas.


O início das jornadas e os obstáculos financeiros


Rafaela Murta em competição de Taekwondo realizada pela Prefeitura de São José - SC. Foto: Reprodução/Instagram

Rafaela conseguiu cumprir a promessa, mas conta que fatores como gastos com o treino e o deslocamento até o local de treinamento foram obstáculos no início de sua trajetória: “Troquei 3 vezes de equipe por não me sentir motivada a treinar, tive muitos motivos para parar de treinar. A distância, custos para treinar e as pessoas dizendo que eu não chegaria a lugar nenhum acabaram me desmotivando”. Hoje, com 20 anos, a atleta afirma ser um grande sonho chegar nas Olimpíadas, mas que é necessário dar um passo de cada vez.  


Emanoel diz que, por ser uma pessoa com deficiência, a percepção de que ele poderia ser um atleta não era algo muito real quando jovem, o que fez com que se inserisse nesse meio aos poucos. O sentimento de que era possível ser um atleta olímpico surgiu ao assisir aos Jogos Parapan-Americanos, em uma caravana que fez com a escola: “O esporte surgiu para mim em 2007. Essa data foi um divisor de águas na minha vida”. 


Ele iniciou no esporte no mesmo ano, aos 15, praticando Futebol 7. A transição para o atletismo e a adaptação de substituir um esporte coletivo por um individual — o arremesso de peso — foram árduas, de acordo com o atleta. "Foi bem difícil, confesso que foi uma mudança bem radical", diz Emanoel. 


Infraestrutura e apoio institucional


Diego “San” Moraes em competição preparatória para o Pan-Americano. Foto: Reprodução/Instagram

O sucesso nos Jogos Olímpicos muitas vezes reflete a situação econômica dos países. Os relatórios econômicos e o ranking de medalhas do Comitê Olímpico Internacional mostram que as nações com mais medalhas frequentemente estão entre as maiores economias do mundo, exceto por raridades como a Hungria. O Brasil, apesar de estar entre as 10 maiores economias, ocupa apenas o 32° lugar no ranking olímpico, enquanto nos Jogos Paralímpicos, apresenta um desempenho historicamente superior. 


Diego Moraes, atleta de Karatê, jornalista do Grupo Globo e protagonista da série documental “Diego San” — que acompanhou sua jornada em busca da vaga olímpica em Tóquio —, destaca que, apesar de alguns apoios institucionais como a Bolsa Atleta, a logística e a concorrência nos grandes centros urbanos dificultam ainda mais a vida dos atletas. Moraes, que parou de praticar o esporte aos 18 anos por falta de apoio, explica que é muito difícil competir sem recursos: “Um ciclo olímpico não depende apenas de você ser o melhor do Brasil. Dinheiro é a base da competitividade, e não só a vontade de um atleta”. 


Os atletas enfrentam pressões emocionais e psicológicas significativas na rotina de treinos e na busca por resultados. A necessidade de pagar por tratamentos de lesões e a falta de apoio psicológico são desafios adicionais. Emanoel Victor conta que por muitas vezes precisou custear seu tratamento durante as lesões: “É algo que todos nós passamos”.  


Diego Moraes enfatiza a importância do apoio psicológico, especialmente durante as transições de carreira. "Sem as estratégias, desenvolvidas pelo meu psicólogo, eu não suportaria nem a pressão do jornalismo, nem como atleta. O acompanhamento psicológico é fundamental para o alto rendimento", diz o jornalista. A ausência de psicólogos em equipes importantes, como a Seleção Masculina de Futebol, reflete o estigma e o despreparo em torno do suporte mental necessário.


Esperança e superação


A jornada de muitos atletas olímpicos e paralímpicos é marcada por sonhos e dificuldades. Foto: Freepik

Apesar de todas as dificuldades, a determinação e a paixão pelo esporte impulsionam esses atletas a continuarem suas jornadas. Rafaela Murta, jovem aspirante ao Taekwondo, representa a esperança de uma nova geração de atletas que sonha em competir nas Olimpíadas.


Para Emanoel Victor, a meta é clara: medalhar nas Paralimpíadas. No dia 15 de junho, o atleta atingiu a maior marca do continente no arremesso de peso da classe F37 (paralisados cerebrais) ao fazer 14,64m. No entanto, o índice paralímpico não foi atingido, já que a marca para se classificar para os jogos é de 15,09m. Apesar disso, Emanoel subiu para a quarta posição do ranking mundial compilado pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC), que é também uma das formas de classificação aos jogos. Em suas redes sociais, ele comemorou o recorde continental e se mostrou esperançoso para estar dentre os convocados para representar o Brasil nas Paralimpíadas de Paris. 


A convocação para a modalidade acontece no dia 11 de julho e será transmitida no canal do Comitê Paralímpico Brasileiro no Youtube. Desde sua estreia nos Jogos Olímpicos em 1920, o Brasil conquistou 150 medalhas, com 37 de ouro, 42 de prata e 71 de bronze. Nos Jogos Paralímpicos, desde 1972, o país acumulou 373 medalhas, sendo 109 de ouro, 132 de prata e 132 de bronze.


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