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Foto do escritorLaura Marques

Aquilombamento digital busca assegurar respeito ao povo negro nos espaços virtuais

Atualizado: 10 de dez. de 2024

Flup 2024 discutiu papel das mídias digitais na construção de identidades e comunidades negras 


Roda de conversa com Gabriela Oliveira e Maíra Azevedo mediada por Andrea Borges, diretora de produção e idealizadora da conversa, que aconteceu no palco principal da Flup 2024, no Circo Voador. No canto esquerdo, uma das intérpretes de libras que traduziu o evento. Foto: Laura Marques.

A internet tem sido marcada por fake news, discursos de ódio e polarização política,  mas ela também pode ser um espaço de acolhimento e resistência. Foi esse o tema da roda de conversa “Nós podemos tudo”, que aconteceu no dia 15 de novembro, na Festa Literária das Periferias, a Flup. A mesa abordou como as comunidades digitais têm se tornado espaços de luta para pessoas pretas - daí vem a expressão “aquilombamento digital”, um movimento que busca recriar espaços de acolhimento para pessoas pretas nas redes sociais e em comunidades virtuais.


O debate da Flup contou com a participação da influenciadora Gabriela Oliveira, de 28 anos, conhecida nas redes como Gabi de Pretas, e a jornalista, atriz, comediante e youtuber Maíra Azevedo, de 43 anos, a Tia Má.


Diálogo refletiu sobre o movimento e as novas possibilidades que as gerações mais recentes têm conquistado na sociedade. Fonte: Flup

A discussão girou em torno do impacto do trabalho dessas mulheres nas redes sociais, destacando como suas ações ampliam a representatividade para pessoas negras e as incentivam a ocupar espaços que historicamente lhes foram negados. Gabriela compartilhou sua visão sobre a importância criar ambientes digitais que acolham pessoas negras, reforçando a necessidade de pertencer a espaços seguros. “É sobre a necessidade de voltar para os nossos, de se sentir em um espaço seguro”, explicou a influenciadora ao abordar a construção do seu posicionamento digital. “Assim que comecei a produzir conteúdo, pensei: é possível construir comunidades aqui.”


Complementando, Maíra destacou a relevância de honrar a história das mulheres negras que vieram antes, enfatizando que a construção de quilombos digitais só é possível graças à resistência e à luta de gerações anteriores. Suas palavras reforçaram a conexão entre passado e presente, apontando como o reconhecimento das trajetórias afrodescendentes é fundamental para abrir caminhos e garantir novos espaços para as próximas gerações. Para ela, “aquilombar é respeitar a história das pessoas.” 


Espaços esses que só podem ser sonhados hoje, pois é possível enxergar e se identificar com pessoas que ocupam esses lugares. “Tenho uma história de vida que apesar de não ser uma das mais tristes como ela reforçou ali, que é o que a maioria das pessoas esperam, não é uma vida fácil. Então eu acho que na condição de mulher preta todos enxergam que é possível. É possível, ela conseguiu, então é inspiração.”, afirmou Leni Vasconcelos, ouvinte da palestra. 


A mesa discutiu como as redes sociais têm sido necessárias e positivas para que pessoas negras se encontrem e se apropriem de sua história. Leni ainda comentou ainda sobre a representatividade que vê na atuação da Maíra Azevedo, “ela é uma das nossas vozes. Ela tem acesso às redes sociais e a grandes emissoras, então, ela é a nossa porta-voz porque acaba dizendo o que a gente pensa e tem oportunidade para fazer isso.”



“Foi uma honra receber o convite e participar desta edição, onde 90% das mesas foram compostas por mulheres negras”, afirmou Gabi de Pretas. Foto: Laura Marques.

A gravação deste bate-papo está disponível no perfil da Flup RJ no Youtube, clique aqui para acessar.


Sobre a Flup


O Circo Voador, no centro do Rio, foi palco da Flup 2024. Foto: Laura Marques

A Festa Literária das Periferias (Flup) tem como objetivo promover a literatura periférica. Reúne escritores, poetas e artistas para debater cultura e questões sociais. Neste ano, o evento aconteceu de 11 a 17 de novembro, no Circo Voador, Centro do Rio de Janeiro, com uma programação que uniu literatura, música, performances e muita reflexão crítica. 


O evento acontece anualmente em regiões periféricas da cidade e tem como propósito “propor outras experiências literárias, abrindo caminhos para que livros, ideias e experiências antes à margem cheguem mais longe”, conforme o site oficial. Foram sete dias embalados por discussões, debates, poesia, literatura e atrações musicais. Segundo balanço divulgado pela própria produção, mais 31.997 pessoas compareceram a esta edição da Flup.


As rodas de conversa contaram com  participações de nomes como Cidinha da Silva, Conceição Evaristo, Jurema Werneck, Neon Cunha, Nilma Bentes, Oyèrónke Oyěwùmí, Sueli Carneiro, Marie NDiaye, Audrey Pulvar, Bela Gil, Tiago Rogero e muitos outros. Juntos, eles destacaram temas essenciais sobre literatura negra, ancestralidade, feminismo e transformação social.


A Flup 2024 homenageou a historiadora Beatriz Nascimento (1942-1995), celebrando seu legado como uma das figuras mais importantes para os estudos afro-diaspóricos no Brasil.  Em 2025, a escritora Conceição Evaristo será celebrada em vida durante o festival. A programação será construída com base em seus escritos, valorizando e enaltecendo também sua história de vida.




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