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Foto do escritorAna Júlia Brandão

Cambistas furam fila de ingressos do show de Taylor Swift

Atualizado: 13 de abr.

Projeto de lei com o nome da cantora criminaliza a prática do cambismo


Foto: Getty Images

A cantora Taylor Swift chega ao Brasil em novembro para uma série de shows da “The Eras Tour”. E, se para os fãs a notícia da vinda da loirinha não poderia chegar em melhor hora, nem tudo correu bem para os Swifties, que sofreram com a concorrência dos cambistas. Quatro dias antes do início da venda de ingressos, começaram a se formar filas gigantes nos pontos de venda. As filas virtuais acumularam um milhão e meio de pessoas. Muitas pessoas que madrugaram nas bilheterias do Allianz Parque e do Estádio Nilton Santos (Engenhão) acabaram não conseguindo seus tíquetes e ainda tiveram que lidar com diversas confusões – e até mesmo ameaças por parte dos cambistas que estavam disputando o espaço. O ingresso para o show custa entre 190 e 2250 reais, dependendo da cidade, setor e se a pessoa tem direito à meia entrada.


Almir Marques, pai de uma fã da cantora, esteve na pré-venda, realizada no dia 9 de junho no Rio, e presenciou a situação de perto. O professor de 41 anos encarou 17 horas de fila na bilheteria do Estádio Nilton Santos - Engenhão, mas acabou tendo que optar por comprar ingressos para outro setor que não era o desejado. Ele contou que mesmo antes do início das vendas a situação na bilheteria do estádio localizado na Zona Norte já estava complicada por conta dos cambistas.


“De onde eu estava, não tinha visão do guichê, em função da curva que a fila fazia. Todavia, escutei comentários de outras pessoas de que a fila de idosos tinha muitos cambistas e que, em função da idade, eles teriam preferência na hora da compra.”, relatou.




Fãs de Taylor Swift durante a venda de ingressos presencial no estádio Allianz Parque, em São Paulo. Fotos: Reprodução

O Rampas teve acesso a um cambista que preferiu não se identificar. O rapaz afirma que consegue os ingressos através de amigos, ou por conta própria (no site oficial). Segundo ele, os impedimentos são quase mínimos - e depois ele revende tudo até pelo dobro do preço oficial.


“Eu só simplesmente abro uns quatro ou cinco navegadores, cada um em uma conta diferente. Por exemplo, no Google Chrome eu boto 4 contas, que é o limite. E assim por diante, vou tentando. Tentei na fila (online), não consegui. Minhas senhas eram muito ruins. Mas eu tinha um amigo lá (na fila presencial), que estava comprando pra ele e pra irmã, eu aproveitei e ele comprou. No segundo dia, uma amiga minha pegou o número (na fila online) menor, só que o setor que ela queria não tinha. Aí ela comprou pra mim.”

Segundo ele, outros cambistas atuam em diversos esquemas para obter ingressos, desde softwares de hackeamento a cartões clonados.


“Eu não tenho esquema, eu não tenho nada. Quando eu consigo comprar ingresso é com base no meu networking. Eu tenho uma relação muito boa com muita gente, então, consigo chegar e comprar assim, em vários lugares. Agora, não sou ingênuo de falar que não tem esquema. Tem, claro que tem. Os caras compram em cartão clonado, com CPF de pessoas que já morreram, assim eu tô fora. Ainda tem gente que usa softwares que ajudam a entrar na fila mais rápido. Então, assim, realmente tem que investigar até a própria empresa que vende.”


Responsável pela venda de ingressos, a Tickets For Fun se posicionou publicamente em relação aos inúmeros relatos de descaso com a fiscalização nas vendas e a facilidade encontrada pelos cambistas na compra das primeiras datas da ‘The Eras Tour’. “Ressaltamos que não compactuamos com a ação dos cambistas em nenhum canal de venda e continuaremos empregando os nossos melhores esforços para combater essa prática, que é prejudicial a todos.”


‘Lei Taylor Swift’


Na mídia e nas redes sociais, a indignação dos fãs fez com que o tema fosse levado ao Congresso Nacional. Ao tomar conhecimento da situação, Simone Marquetto (MDB-SP), vice-coordenadora da bancada paulista da Câmara dos Deputados, protocolou, no dia 16 de junho, projeto de lei que prevê a criminalização da venda de ingressos por meio de cambistas. A proposta, que está sendo chamada de “Lei Taylor Swift”, sugere pena de um a quatro anos de prisão e multa de até cem vezes o valor do ingresso comercializado ilegalmente. Até então a atividade, embora ilícita, não era alvo de legislação específica para combate e só pode ser enquadrada na Lei de Crimes Contra a Economia Popular (1.521/51).


O presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB-RJ, Tarciso Amorim, explica que a criação de uma lei que trate diretamente o cambismo e criminalize o ato é fundamental para ações mais eficientes contra a prática.


“Uma legislação específica, como o projeto ‘Lei Taylor Swift’, pode ajudar a coibir ainda mais as ações de cambismo com a efetividade de punição, inclusive, fazendo uma adequação da pena para aumentá-la em relação ao que atualmente é aplicado. O projeto tem a finalidade de garantir a legalidade nos eventos realizados no país, combater essas condutas reprováveis e garantir a proteção dos consumidores.”


O caso dos shows de Swift ganhou tanta repercussão que, nas vendas das apresentações extras, as polícias civis e militares e as guardas municipais do Rio e de São Paulo mobilizaram esquemas de intervenção para coibir as ações dos cambistas, além da participação dos Procons (Fundações de Proteção e Defesa do Consumidor) dos dois estados, que notificaram a empresa de entretenimento a fim de obter explicações a respeito dos protocolos de venda.




Ações policiais contra cambistas durante a venda de ingressos presencial em São Paulo. Fotos: Reprodução


Mas os organizadores podem, de fato, ser coniventes?


É o que vem sendo investigado desde fevereiro pelo Ministério Público de São Paulo. No início deste ano, a deputada Erika Hilton (PSOL-SP) solicitou a investigação das vendas dos shows da banda mexicana RBD no Brasil. Em ofício, a deputada solicitou a investigação de um possível esquema entre a empresa responsável pela venda de ingressos, Eventim, e cambistas. Quatro meses depois, no dia 12 de junho, Hilton anexou denúncias relacionadas aos shows de Taylor Swift demandando a ampliação da investigação do inquérito que já havia sido aberto.


Para quem perdeu horas na fila, como Almir Marques, ficou o sentimento de frustração de ver por água abaixo todo o esforço para comprar os ingressos. “As meias entradas de todos os setores acabaram em menos de 20 minutos na bilheteria. A maioria comprada pelos cambistas. Não possuía o valor necessário para comprar o ingresso inteiro, então tive que optar por outro setor. Foi bem frustrante esta experiência, principalmente pelo fato de ter passado muitas horas na fila e não conseguir comprar os ingressos que queria. Vejo que seria muito simples limitar a ação dos cambistas. Era só limitar a compra de ingressos por pessoa, mas a produção do evento não teve esse cuidado, gerando um grande problema não só para mim mas para muitos outros compradores.”


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