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Capital Mundial do Livro: um capítulo desafiador para a cidade do Rio

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    Davi Guedes
  • há 3 dias
  • 5 min de leitura

Atualizado: há 1 hora

Capital fluminense terá de promover a leitura em seu território ao longo de 2025


Interior da Biblioteca Lúcio Rangel. Foto: Davi Guedes/Rampas
Interior da Biblioteca Lúcio Rangel. Foto: Davi Guedes/Rampas

A cidade que já foi capital do Império, do país e até sede dos Jogos Olímpicos, agora ostenta um novo título: o de Capital Mundial do Livro. Pela primeira vez, um país falante de língua portuguesa terá uma cidade com esse status. Mas o título também traz para o Rio de Janeiro responsabilidades na promoção da leitura.


O ano literário terá seu início oficial no dia 23 de abril deste ano, quando se celebra o Dia Mundial do Livro, em uma cerimônia no Teatro Carlos Gomes, no centro da cidade. 


Um dos desafios é modernizar e requalificar equipamentos culturais públicos, e para isso a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro lançou o projeto “Bibliotecas do Amanhã”. Estão previstas reformas em nove bibliotecas e em cinco espaços de leitura espalhados pela cidade. A medida está integrada a um outro projeto maior da prefeitura chamado “Cultura do Amanhã”,  que conta com um orçamento público de 30 milhões de reais para sua execução. Esse projeto corresponde à segunda fase de uma ação municipal iniciada ainda em 2016.

Um dos espaços que já passou por essa modernização foi a Biblioteca Lúcio Rangel, localizada na Tijuca. O prédio é voltado para literatura musical e sua restauração contou com o apoio da doação do acervo literário do crítico Lúcio Rangel, que agora dá nome à biblioteca.


A bibliotecária Joana Apolinário, que trabalha no espaço, conta que o local é de referência e atrai o público de toda Grande Tijuca, especialmente o infantil, que tem uma seção especial reservada só para literatura e atividades lúdicas. 


Ela também adianta que as bibliotecas da rede pública serão muito importantes neste ano: “As bibliotecas da rede municipal vão sediar muitos eventos, essa aqui (Lúcio Rangel) já foi escolhida para alguns ao longo do ano, afinal, as bibliotecas vão ser a base para esse Rio de Janeiro Capital do Livro”, afirma.


Entrada da Biblioteca Lúcio Rangel. Foto: Davi Guedes/Rampas
Entrada da Biblioteca Lúcio Rangel. Foto: Davi Guedes/Rampas

Além da Lúcio Rangel, também foram reformadas, até o momento, as bibliotecas Euclides da Cunha, na Ilha; Machado de Assis, em Botafogo; Manoel Ignácio, em Campo Grande; Maria Firmina, na Cidade Nova; Ziraldo, na Barra; Milton Santos, no Pechincha. Segundo o site oficial da prefeitura, todas emprestam livros, desde que se leve uma foto 3x4 e um comprovante de residência.


Ao lado desse projeto, outras ações estão sendo articuladas e impulsionadas, pelo título de Capital Mundial do Livro, tais como:


  • Editais da prefeitura vão estimular a criação de pontos de leitura espalhados pela cidade; cada ponto contará com 120 mil reais de orçamento público. Entre as metas estipuladas para os espaços vencedores, estão o comprometimento com atividades gratuitas, tais como workshops, cursos e seminários, eventos culturais; projetos vencedores precisam auxiliar a mapear a relação da comunidade com práticas literárias;

  • A Bienal do Livro deste ano, que ocorrerá no Rio, terá área maior, integração com um parque de diversões e novas atividades interativas;

  • Realização da Rio International Publishers Summit pelo SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), que antecede a Bienal e reunirá profissionais do setor editorial do Brasil e do mundo para discutir os desafios e o futuro da edição.

  • A Academia Editorial Jr, que seleciona 20 estudantes de universidades públicas para aprenderem o ofício editorial com grandes profissionais do setor. 


Relação entre a população carioca e a leitura

Um levantamento feito pela JLeiva Cultura & Esporte em 2024 revelou hábitos da população carioca sobre leitura e a atividades culturais. O estudo ouviu 1.500 moradores espalhados por todo o território da cidade, a partir dos 16 anos de idade. 


Questionados se tinham o hábito de ler, 67% dos entrevistados responderam positivamente. Afirmaram terem lido ao menos um livro no intervalo do último um ano. O índice coloca os cariocas acima da média nacional das capitais, que é de 64%. Porém, quando perguntados sobre a frequência com que iam a bibliotecas ou a feiras de leitura, o resultado caiu significativamente, atingindo respectivamente 25% e 24%, valores que figuram abaixo de outras atividades culturais, como teatros e museus.


Quanto ao recorte geográfico, os números evidenciam que os bairros cuja assiduidade em quase todas as atividades culturais é maior são os dos conjuntos Zona Sul + Tijuca e a Barra. Além disso, a maioria dos entrevistados relatou que quando pratica alguma atividade cultural, ela não está localizada no bairro em que habita.


Segundo o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), atualmente o Rio conta com 20 bibliotecas ou espaços públicos exclusivamente voltados para leitura, dos quais 10 estão concentrados no Centro ou na Zona Sul. Essa estatística não quantifica bibliotecas integradas a outros prédios públicos, como aquelas da rede pública de ensino.


Frequência em eventos culturais por região. Fonte: JLeiva Cultura e Esporte/Reprodução
Frequência em eventos culturais por região. Fonte: JLeiva Cultura e Esporte/Reprodução

A professora Márcia Lisboa, do Departamento de Letras da Faculdade de Formação de Professores da Uerj, associa as desigualdades entre as regiões a uma disparidade no que concerne à leitura, tanto em níveis materiais, quanto em relação à alfabetização. 


Ela aponta que, pela leitura ser uma atividade custosa (segundo a SNEL, em 2024, o preço médio de um livro foi de R$ 54,49), é esperado que recortes de classes sociais mais baixas não consigam auferir tanto dela. Além Disso, a professora também pontua que há diferenças nos índices de alfabetização entre os bairros da cidade, o que também auxilia na desigualdade, mas, principalmente, há um problema crônico mais abrangente na formação das competências e, sobretudo, dos hábitos da leitura do texto literário, que afeta uma parcela expressiva da população. 


“A leitura não deve ser entendida como um evento, mas como um projeto”, afirma.  Para a professora, transmitir e consolidar essa ideia é ponto-chave para um aumento dos níveis de leitura, e as ações realizadas neste ano de Rio Capital do Livro precisam ajudar a concretização dessa realidade. 



Oportunidade para a cidade

O anúncio da escolha do Rio como capital Mundial da Leitura foi feito em outubro de 2023. A candidatura foi conduzida pela Prefeitura e contou com o apoio de outras instituições, como o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), a GL Events, Associação Nacional de Livrarias (ANL), o Real Gabinete Português de Leitura, a Fundação Biblioteca Nacional, a Academia Brasileira de Letras (ABL), a Fundação Roberto Marinho, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) e o Pen Clube. 

Prefeito do Rio, Eduardo Paes, compartilhando no Twitter (X) o documento da Unesco. Reprodução: Perfil oficial do X de Eduardo Paes
Prefeito do Rio, Eduardo Paes, compartilhando no Twitter (X) o documento da Unesco. Reprodução: Perfil oficial do X de Eduardo Paes

Martha Ribas, consultora do SNEL, defende que essa é uma oportunidade ímpar para a promoção de políticas públicas duradouras no fortalecimento do mercado editorial brasileiro e na ampliação do acesso à leitura em diferentes territórios da cidade. 


Ribas destaca, também, a importância da data em nível social: “O projeto Rio Capital Mundial do Livro não é apenas um ano de celebração, mas um marco simbólico para reposicionar o livro e a leitura como instrumentos de cidadania, educação e transformação social.”


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