Carimbó com sotaque carioca
- Daniel Guedes

- 21 de nov.
- 4 min de leitura
Atualizado: 25 de nov.
Restaurante de culinária paraense transforma rua no bairro do Riachuelo em ponto de encontro, lazer e cultura
Por Daniel Guedes

Criado em 2019 pela chef Adriana Veloso e seu marido, José Maria, o Pescados na Brasa é muito mais do que um restaurante, é a materialização de um grande sonho. A empreitada do casal teve início quando José, que trabalhava como restaurador de imóveis em Belém, foi transferido para o Rio de Janeiro. Adriana não hesitou em acompanhar o marido. Precisou apenas de alguns meses para se organizar e logo partiu para o novo destino. No Rio de Janeiro, seu primeiro emprego foi em uma farmácia, mas dentro de si, ela ainda carregava um sonho que trouxe consigo desde Belém: ter seu próprio negócio no ramo da gastronomia.
Algum tempo depois da chegada na nova cidade, José Maria acabou perdendo o emprego. Forçados a buscar novas oportunidades, eles decidiram, então, começar a vender peixes na brasa em um espaço que funcionava como um estacionamento também no bairro do Riachuelo. “Eu não como carne vermelha, e quando fazíamos churrasco meu marido sempre fazia churrasco de peixes para mim. Depois de um tempo, muitos amigos que gostavam do peixe nos incentivaram e a gente viu que podia tirar dali uma renda. Juntamos a fome com a vontade de comer”, brincou Adriana. Não demorou muito para que o local se tornasse um ponto de encontro movimentado. Com o rápido sucesso, a aposta no empreendimento pareceu cada vez mais segura e as expectativas aumentaram.
Localizado entre a região do Méier e da Grande Tijuca, o bairro do Riachuelo não é um ponto muito agitado da cidade e, surpreendentemente, a escolha do casal se deu, também, por essa razão. “O principal (motivo) foi financeiro. A região não tinha muito movimento de restaurantes, mas era o ponto que cabia no nosso orçamento e que nos permitiu começar”, esclareceu Adriana. Após o sucesso do Pescados, a rua Vitor Meireles já não era mais a mesma e passou até a atrair novos olhares: “Quando a gente chegou não tinha muita coisa aqui, só os bares; hoje já tem o samba (Bar Encontro do Samba, vizinho ao Pescado), abriu uma pizzaria… mudou tudo aqui”, explicou ela.
Aos domingos, o Pescado cresce para além dos limites do restaurante e, frequentemente, invade a rua com seu grande público, “os pescadinhos”, como a chef carinhosamente apelidou os clientes. O público chega para o almoço e, ali, costuma permanecer durante todo o dia. Como o descanso de domingo é sagrado, o Pescado fecha às 18h. Ainda assim, não tem tempo ruim para os clientes mais empolgados e os bares no entorno executam muito bem o trabalho de manter o público entretido até mais tarde. Como na maioria dos bairros cariocas, o samba costuma ser a atração de maior destaque e, assim, a Rua Vitor Meireles fica cheia de vida desde o início da manhã até às 22h.
Um dos motivos do grande sucesso do Pescados certamente está na valorização da cultura Paraense. Um domingo por mês, o restaurante recebe apresentações de grupos de Carimbó, dança tradicional do Pará. A música toma conta do lugar e anima o público, fazendo todos caírem na dança, inclusive Adriana que, mesmo na rotina intensa de trabalho, encontra espaço para um pouco de diversão. Para ela, o planejamento é importante e as programações do restaurante também levam em conta o bem-estar dos vizinhos e moradores: “A gente dança, canta, mas sempre respeitando os moradores. Fechamos às 18h justamente para que todo mundo possa descansar no seu Domingo, até por isso, o carimbó só acontece uma vez por mês, senão é muito abuso (risos)”, brinca ela.

Mesmo com todas as diferentes atrações, o principal destaque da casa ainda é o sabor: em 2023, o restaurante foi coroado como o Melhor Restaurante Brasileiro pelo Prêmio Rio Show de Gastronomia. Além disso, o Pescados na Brasa também foi destacado pela VEJA RIO COMER & BEBER, uma das mais respeitadas publicações gastronômicas locais. Em 2022 eles receberam o prêmio de Melhor Restaurante Brasileiro e, em 2023, novamente conquistaram um lugar no pódio. As conquistas são motivo de orgulho, mas o casal não se vislumbra pois, no mundo dos negócios, a regra continua sendo dar um passo de cada vez.
Após cinco anos atuando apenas no Riachuelo, neste ano, o Pescados decidiu dar mais um grande passo e ampliou seu empreendimento com uma franquia no Leblon, bairro nobre do Rio. Foi um avanço importante, mas que gerou apreensão principalmente porque, ao mesmo tempo em que abriu a nova franquia, Adriana também participou do programa Chefe de Alto Nível, da Globo: “Era um novo desafio e no começo foi um turbilhão de emoções. Cheguei a ter problemas de saúde e tive muitas crises de ansiedade, mas depois disso procurei começar a me cuidar mais. Agora estou me tratando”, desabafou. Apesar das dúvidas iniciais e da frustração pela eliminação precoce no programa, hoje, os negócios caminham muito bem e o restaurante atrai até famosos, que se encantam pelo gostinho único da culinária paraense. Personalidades como Pedro Bial, Milton Cunha e Alceu Valença já estiveram nas características mesinhas de madeira do Pescados na Brasa e fizeram questão de conhecer o sabor do Pará, no Rio.

A cultura paraense não é destaque apenas no Riachuelo e Leblon. A edição da COP30 2025, que será realizada na capital do estado nortista, colocou o Pará sob os holofotes do país inteiro. A conferência sobre mudanças climáticas será realizada em Belém, com representantes do mundo todo. Em meio às preparações para o grande evento, uma situação chamou a atenção: a notícia de que não seriam servidas algumas das comidas mais típicas do Pará. A chefe Adriana não deixou de dar sua opinião sobre o assunto polêmico: “Falaram sobre o açaí, mas a colheita e extração é feita de maneira muito cuidadosa e o processo de lavagem elimina qualquer inseto (como o barbeiro, encontrado em árvores onde se extrai o Açaí). E em relação à maniçoba, todos sabem que é necessário cozinhar durante 7 dias para eliminar o veneno que ela tem, ou seja, não tem porque haver essa proibição”.
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