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ChatGPT cria dilemas na área da educação

Atualizado: 13 de abr.

Avanços na tecnologia de inteligência artificial levantam questões sobre plágio e método de ensino


Foto: Pexels/Sanket Mishra

O uso do ChatGPT, ferramenta com tecnologia de inteligência artificial (IA), tem sido motivo de preocupação em várias instituições educacionais ao redor do mundo. O software avançado tem a capacidade de gerar textos coerentes e relevantes, assim como responder a perguntas ou comandos nas mais diversas linguagens. Devido às suas diversas funcionalidades surge um receio que os alunos cometam plágio.


Escolas públicas em Nova York, Los Angeles e Seattle, nos Estados Unidos, proibiram o recurso ao programa. A Sciences Po, tradicional escola de ciências políticas e uma das principais universidades da França, também proibiu o ChatGPT, juntamente com outros programas de IA, devido a preocupações com a integridade acadêmica e a qualidade do trabalho dos estudantes.


Uma pesquisa on-line realizada em janeiro deste ano pelo Semrush, uma empresa de análise e pesquisa de marketing digital, revela que o Brasil foi o quinto país que mais visitou o site da OpenAI no mundo. Com 4,3% do tráfego mundial, o país ficou à frente de nações desenvolvidas como o Reino Unido e a Espanha. Dados coletados pela Bloomberg Linea mostram que, de janeiro a março deste ano, cerca de 73 milhões de brasileiros visitaram o site com a ferramenta de inteligência artificial. Os números mostram a popularidade do ChatGPT no Brasil, mas também trazem questões sobre como a ferramenta pode impactar o cotidiano da população e principalmente dos estudantes.


De acordo com Rafael Cardoso Sampaio, professor de Comunicação e Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador do grupo de Pesquisa sobre Comunicação Política e Democracia Digital (COMPADD), é natural que o desenvolvimento de uma tecnologia muito disruptiva cause reações como essas, mas ele não vê sentido em banir a ferramenta. “Isso acaba tendo pouca efetividade. Você pode bloquear o acesso do aluno na escola, mas ele pode usar em casa. Ela já está até mesmo no 'Bing' funcionando por voz. Então, não vejo como um negócio que dê para voltar atrás.” Sampaio afirma que ainda é cedo para avaliar o impacto do GPT - que, em sua avaliação, pode ser tanto negativo, quanto positivo. “Toda grande tecnologia que surgiu teve o aparecimento desse sentimento que 'acabou, agora os alunos não vão mais estudar'. Não é a primeira vez que acontece isso”.


Para a estudante de pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Mylena Ferreira da Silva, por mais que a ferramenta facilite a elaboração de textos, haverá futuramente grandes questões relacionadas a autoria e a apropriação de ideias. “Se continuarmos insistindo em uma concepção tradicional no ensino de linguagem, penso que não estaremos prontos para lidar com isso. A verdade é que o ChatGPT traz dois grandes desafios: repensar as práticas pedagógicas que envolvem o ensino da linguagem e a presença das tecnologias na escola como artefato ativo de ensino”, afirma Ferreira.


Uma pesquisa conduzida pela “A British Computer Society”, conhecida como BCS, e sua rede de professores do “Computing at School” revelou que 62% de seus membros acreditam que chatbots com tecnologia de IA, como o ChatGPT, tornariam mais difícil avaliar o trabalho dos alunos de maneira justa. A maioria dos professores entrevistados também afirmaram que suas escolas não têm um plano adequado para gerenciar o uso da ferramenta pelos estudantes.


Além das preocupações com a integridade acadêmica, há também dúvidas sobre o impacto do software na aprendizagem dos alunos. Os professores temem que os estudantes deixem de buscar fontes confiáveis para estudos e pesquisas, passando a acreditar exclusivamente no chat para validar seus conhecimentos. Também existe o receio de que a presença de tecnologias como o ChatGPT possa atrapalhar o processo de pensamento crítico dos alunos a longo prazo, acostumando-os com respostas prontas e prejudicando sua capacidade de reflexão e pensamento crítico.


De acordo com Ferreira, antes de pensar em como as IAs podem afetar o desenvolvimento dos estudantes, é importante lidar com o método de ensino atual e adaptar o máximo as novas tecnologias. “Não sejamos professores que criam um muro inexistente entre a escola e a bagagem desses alunos, a tecnologia está no mundo, no cotidiano deles de formas diferentes. Reproduzir estigmas não parece ser o caminho adequado”. Sobre o impacto no pensamento crítico, diz que é um pouco cedo para saber: “As respostas do chat GPT ainda são simplórias, bem simples. Mesmo que consiga tratar de qualquer tema, ele não tem um aprofundamento. Quem simplesmente copiar e colar vai ter um decréscimo de pensamento crítico. Mas quem já faz isso normalmente só teve o seu trabalho facilitado.”


Foto: Pexels/Pixabay

Para a futura professora Luciane Teixeira Gonçalves Martins, estudante de Pedagogia da Uerj, apesar da ferramenta ser recente, ela pode ser adaptada para a educação, assim como outras tecnologias que surgiram antes. “Temos, como exemplo, o celular como meio de comunicação tecnológico que está cada vez mais sendo adaptado para melhor ser utilizado dentro das salas de aulas entre os alunos e os professores. Com o ChatGPT haverá uma possibilidade de ter um impacto positivo, em sala de aula, se for utilizado com a medição dos professores com seus alunos.”


Teixeira ressalta a importância da mediação do professor nesses momentos, pois ele pode conduzir o aluno a saber como e quando usar essa ferramenta como um apoio de pesquisa. “Se colocarmos o ChatGPT como um meio razoável para qualquer pesquisa feita pelos alunos, se torna muito mais importante a aplicação do método de aprendizagem pelo professor, pois ele irá direcionar o aluno para que venha dar critérios ao utilizar a ferramenta como objetivo somente para consultas.”


Na visão de Marcia de Souza, também estudante de Pedagogia da Uerj, a ferramenta pode afetar o desenvolvimento do raciocínio humano, tornando os alunos alfabéticos funcionais, e não em um ser pensante. “Já temos uma grande luta em incentivar os jovens ao hábito e o prazer da leitura. Esse aplicativo veio para ‘desmoronar’ todo o trabalho que já tivemos”, afirma. “Se um programa faz o trabalho de pesquisa e elabora o resultado, automaticamente você não precisará pensar, pesquisar e raciocinar. Dentro deste processo a mente vai ficando preguiçosa”, completa de Souza.


De acordo com Luciano Martins, engenheiro de software da Isaac, a “mágica” do programa está nos parâmetros em que a ferramenta foi treinada, o que a diferencia do chatbot convencional que as pessoas estão acostumadas. “O ChatGPT funciona através de dados retirados da internet e de modelos matemáticos robustos para conseguir se comunicar, interagir, responder, analisar respostas e respeitar regras de segurança impostas pelos desenvolvedores”, afirma Martins.


O engenheiro de software ainda explica que a IA seria capaz de aprender e se adaptar com o tempo, entretanto, para Martins, o chat atual ainda não tem forças o suficiente para afetar a educação nas escolas, pois a mesma não tem capacidade de argumentação, raciocínio ou de habilidades socioemocionais.


“Um exemplo simples é perguntar o que aconteceu no dia 7 de setembro, ela irá responder perfeitamente com todos os fatos históricos. Mas não terá a capacidade de refletir se foi bom ou ruim, os danos e os efeitos históricos. A argumentação, abstração e discernimento sempre será humano e isso apenas a educação poderá promover”, esclarece. “Do mesmo jeito que a educação se revolucionou com computadores, telas inteligentes e o próprio celular, a educação irá se moldar junto com as IAs”, conclui Martins.


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