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Com o carioquês na ponta dos dedos

App criado por estudantes ensina gírias cariocas a estrangeiros


Por Maria Eduarda Mariano 


Era um encontro romântico na praia de Ipanema, mas o casal Oriane Couhert, de 20 anos, e Nicollas Bernardo, de 23, mal conseguia conversar. Ela, francesa recém-chegada ao Brasil, sabia apenas o básico do português. Ele, que nunca saiu do país, falava apenas português, ou melhor, “carioquês”. Nicollas, assim como quase todo carioca da gema, usa muitas gírias e expressões do Rio de Janeiro.  "Mesmo com o Google tradutor do nosso lado, eu precisava repetir muitas palavras para o diálogo dar certo", lembra o jovem. Depois de muitos TikToks e letras de funk, Oriane já entende boa parte do vocabulário da cidade. Mas e se, desde o início do relacionamento, existisse uma forma de tornar esse aprendizado mais fácil? Pensando em ajudar intercambistas como Oriane a entender o linguajar peculiar da cidade, cinco estudantes universitários criaram o Slang Speak: um aplicativo que ensina gírias e expressões cariocas. 


João Pedro, de 24 anos, estudante de administração das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), e Filipe Cunha, de 25 anos, aluno de Ciência da Computação  Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - Puc-Rio, tiveram a ideia inicial do app no Apple Developer Academy, programa de estágio oferecido pela Apple em parceria com o Instituto Ecoa Puc-Rio. A iniciativa surgiu a partir da percepção de que muitos estudantes intercambistas, até mesmo aqueles que falam português fluentemente, não conseguem se sentir incluídos na cultura local devido à falta de entendimento de algumas expressões. O aplicativo contém um banco de dados com gírias e expressões que os estudantes coletaram em conversas com parentes e amigos cariocas. O usuário também pode adicionar  outros termos que aprender na cidade. “A gíria costuma ser a principal barreira de interação social entre estudantes estrangeiros e brasileiros”, explica João Pedro. 


O que os dois estudantes não esperavam, é que o público-alvo do app se expandiria. Apesar de ter sido pensado inicialmente para estrangeiros, o Slang Speak também pode acabar ajudando brasileiros de fora do Rio de Janeiro a entender o linguajar carioca. A estudante de Jornalismo da Uerj Ana Júlia Silveira, de 23 anos, é baiana e veio para o Rio há pouco menos de quatro anos. Ana Júlia diz que está sempre se surpreendendo com algumas expressões utilizadas pelo carioca. “Até hoje tenho dificuldade de entender o propósito de usar o termo ‘ainda’, fico confusa com o contexto” diz a estudante. O que Ana não sabia é que ao baixar o Slang Speak, ela encontra uma definição simples e objetiva da gíria e que também pode guardá-la em sua pasta de favoritos. 


Tradução: Quando alguém diz algo que a resposta é óbvia e positiva                                                                                                                               Imagem: Captura de tela do aplicativo Slang Speak 
Tradução: Quando alguém diz algo que a resposta é óbvia e positiva Imagem: Captura de tela do aplicativo Slang Speak 

Depois que a ideia principal foi estruturada, a equipe aumentou. Atualmente, além de Filipe e João Pedro, é formada por mais três universitários da Puc-Rio: Amanda Baião, de 22 anos, estudante de Design; Luana Nobre, de 20 anos, estudante de Ciência da Computação; e Victor Sales, de 21 anos,  estudante de Design. Filipe conta que acabam de perceber mais uma função do Slang Speak. Ele, diferentemente de Amanda, cresceu na periferia do Rio de Janeiro e tem um repertório de gírias bem diferente da colega. Conforme foram desenvolvendo o app, Amanda, conheceu expressões das quais nunca tinha ouvido falar. 


O aplicativo vem sendo apresentado para possíveis investidores e um deles, mesmo sendo carioca, afirmou aos estudantes que utiliza o Slang Speak para entender algumas das gírias que o filho tem o costume de usar. “É interessante perceber que em alguns momentos a gíria não é apenas uma barreira para os estrangeiros, mas também pode ser uma barreira geracional e social” comenta Filipe. 


Hoje em dia, Oriane e outros estudantes intercambistas da Puc-Rio já conhecem o aplicativo, mas, a ideia dos desenvolvedores é continuar divulgando para fora das fronteiras da Gávea, bairro onde está localizada a faculdade dos criadores do App. Amanda explica que percebe que grande parte dos estudantes intercambistas escolhem o Rio de Janeiro porque gostam da cultura. “Esse pessoal dá valor a estar inteirado com nossa forma de comunicação. É muito legal colocar gringos para falar nossas gírias porque eles se sentem moralizados com isso.” completa.. 

Atualmente, o Slang Speak pode ser baixado apenas por usuários de IPhone por ter sido desenvolvido na linguagem Swift, que é nativa do sistema operacional IOS, o sistema da Apple.


João Pedro, Victor, Amanda, Luana e Filipe em frente ao Apple Developer Academy                                                                                 Imagem: Acervo Slang Speak 
João Pedro, Victor, Amanda, Luana e Filipe em frente ao Apple Developer Academy Imagem: Acervo Slang Speak 





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