Reforma deverá durar dois anos, e estabelecimentos que vivem das vendas em dias de jogos terão de buscar opções para sobreviver
Um ano após o episódio de interdição do estádio São Januário, os comerciantes de São Cristóvão agora se preparam para sobreviver durante um período ainda maior sem o movimento gerado pelos jogos. A reforma, prevista para ter início em 2025, deve manter o estádio dois anos fechado, e agora os comerciantes precisam pensar em alternativas para manter seus negócios.
Interdição em 2023
Em junho de 2023, o estádio São Januário foi interditado por determinação da Justiça do Rio de Janeiro, após confusão ocorrida nas arquibancadas na derrota do Vasco para o Goiás pelo Campeonato Brasileiro. Apesar do fim da punição à torcida do Vasco, o Ministério Público autorizou a reabertura dos portões apenas três meses depois, em setembro. Segundo a Prefeitura do Rio de Janeiro, a interdição resultou em uma redução de 60% na receita do comércio na região da Barreira do Vasco. O impacto foi especialmente severo para comerciantes locais, muitos dos quais enfrentam dificuldades para arcar com aluguéis e despesas fixas durante o período.
Thássio Santos, proprietário do Bar Caiau, situado em frente ao estádio, destacou a influência significativa dos jogos para o desempenho de seu negócio. Ele relata que a movimentação em um único dia de jogo equivale, em termos de faturamento, a praticamente um mês inteiro de atividade regular.
“Preciso de pelo menos um ou dois jogos no mês para me sustentar. Um dia de jogo equivale a um mês de movimento normal. No dia a dia é isso aqui, um cliente ou outro compra uma cerveja, ou pede algo para almoçar. Em dia de jogo não sobra nem espaço no bar. Quando enche mais, ficam torcedores sentados até em cima da árvore”, conta Thássio.
Jane Barreto, que trabalha no quiosque Toca do Vascão, também falou sobre a diferença que os jogos em São Januário têm em seu comércio. De acordo com ela, as vendas em um dia comum representam apenas 10% do faturamento obtido em dias de partida. “O movimento é muito baixo no dia a dia. Se mantém pelo estádio, que tem jogos de base, o tour. Mas eu vendo no máximo algumas águas, refrigerantes, cervejas, alguns petiscos. Não é o suficiente para manter as contas”, diz.
Thássio conta que o período de interdição foi desesperador e de acúmulo de dívidas. “Precisava escolher as contas que iria pagar. Não havia outro jeito de me manter. Só de água eu gasto em média 1.800 reais por mês, fora os funcionários, comida, bebida. Se o estádio demorasse mais tempo para reabrir, não sei por quanto tempo eu conseguiria sustentar”, relembra o comerciante. O período também foi de dificuldades para Jane. “Praticamente não abríamos. Não compensa, tínhamos mais prejuízo que lucro. Precisei buscar outros meios de me sustentar”, conta.
No restaurante Empório Refeições, a situação é diferente. Letícia Mello, funcionária do local, explica que o pico de vendas ocorre durante o almoço, mas jogos em horários mais cedo também trazem grande movimento. “Muitos torcedores chegam cedo e vem para almoçar e beber. Nos beneficiamos muito nos dias de jogos durante o dia”, afirma.
Reforma
O Vasco da Gama planeja começar, em 2025, uma obra de expansão e renovação do estádio e de seu entorno. A estimativa é que São Januário permaneça fechado por aproximadamente dois anos, com a reforma sendo concluída em 2027.
Com grande paralisação, ainda maior do que o tempo em que o estádio esteve fechado em 2023, comerciantes já começam a se preparar para um novo período sem jogos. Thássio planeja organizar eventos de pagode para atrair clientes, mas teme os custos. “Vou precisar fazer diferente para tentar compensar um pouco a falta dos jogos. O problema seria que o dinheiro sai do meu bolso para pagar os shows de pagode. Nos jogos no estádio eu não preciso pagar nada a mais”, explica.
Jane Barreto menciona que os quiosques licenciados esperam compensações pelo clube durante os anos de reforma. “Todos os quiosques com licença recebem algo durante a reforma, já que o entorno também faz parte das obras. Mas ainda estamos esperando esse contato. Sem isso, não sei como poderia ser para nós”, conta.
O Vasco encerrou a temporada de 2024 em São Januário no último dia 4 de dezembro. As obras, que expandirão a capacidade do estádio para mais de 43 mil torcedores, ainda não têm data definida para início.
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