Corpo em movimento, mente em equilíbrio: o legado das Olimpíadas do CAp-Uerj
- Sofia Terra

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Evento transforma a rotina dos alunos, fortalecendo saúde física, bem-estar emocional e laços de convivência
Por Sofia Terra
No Colégio de Aplicação da Uerj (CAp-Uerj), a chegada da época dos jogos anuais não é apenas um evento no calendário, mas um marco de tradição e transformação. Em sua 49ª edição, as Olimpíadas CAp-Uerj transcenderam o conceito de evento esportivo para se consolidarem como um pilar essencial na promoção do bem-estar físico e mental dos estudantes, uma resposta ativa e lúdica ao estresse inerente à rotina acadêmica.
A beleza e a profundidade dessa celebração residem na sua capacidade de unir o corpo discente: alunos de todos os anos escolares, do 1º ano do Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio, são distribuídos de forma homogênea sob quatro bandeiras históricas – Amarela, Azul, Verde e Vermelha –, fomentando a coesão e o sentimento de pertencimento que perduram por toda a jornada escolar.

O impacto imediato e inegável dessa mobilização é a promoção da saúde física. Em um cenário global onde o sedentarismo juvenil é uma preocupação crescente, o engajamento nos treinos e a dedicação nas competições injetam movimento e disciplina na rotina dos alunos. O professor de Educação Física Fernando Corrêa, responsável pela organização do evento, sublinha que as Olimpíadas "estimulam a participação no esporte e, consequentemente, a inserção do aluno em um modelo de vida ativa". Este estímulo é vital, já que a atividade física regular é cientificamente comprovada como um fator de proteção contra diversas doenças crônicas não transmissíveis, sendo fundamental para o desenvolvimento musculoesquelético e cardiovascular saudável. Ao promover essa inserção no esporte, o CAp-Uerj contribui diretamente para que seus alunos alcancem os níveis recomendados de atividade física, combatendo o risco do declínio cognitivo e promovendo a longevidade.
No entanto, Fernando faz questão de desmistificar a virtude intrínseca do esporte, lembrando que o valor não reside na atividade em si, mas na sua intencionalidade. Segundo ele, o esporte por si só não possui "valor intrínseco", mas sim o modo como é abordado, o que o torna socialmente interessante e positivo, uma filosofia que guia priorizar a formação humana sobre a performance pura.
É no domínio da saúde mental que as Olimpíadas assumem um papel insubstituível como antídoto emocional e cognitivo em um ambiente de alta cobrança. A pressão por excelência acadêmica e as expectativas de desempenho podem gerar alto nível de estresse e ansiedade. A intensa atividade física funciona como umregulador neuroquímico: a liberação de endorfina e serotonina – neurotransmissores ligados ao bem-estar e ao prazer – atua diretamente na redução dos níveis de tensão e na melhora do humor.
Estudos amplos na área de saúde e esporte, como os feitos pela Organização Mundial da Saúde (OMS), confirmam que o exercício regular é um redutor significativo de sintomas de ansiedade e depressão. Para o estudante, descarregar a energia e tensão na quadra é uma válvula de escape vital, que permite o alívio da fadiga mental e aprimora a capacidade de foco e concentração ao retornar aos estudos, otimizando o sistema nervoso e facilitando o processo de aprendizagem.
Apesar dos claros benefícios, Fernando destaca um desafio crucial na organização: gerenciar a pressão por desempenho. Ele observa que a participação pode ser "maléfica" dependendo do nível de cobrança e expectativa. Para proteger os alunos mais jovens dessa toxicidade, que é frequentemente amplificada pela presença dos pais, a organização adotou uma medida exemplar: os jogos das categorias do Ensino Fundamental I (até o quinto ano) são realizados sem a presença dos pais e com torcida limitada aos alunos da própria categoria. Esta estratégia tem se mostrado altamente eficaz na redução do "grau de ansiedade e desportividade apresentada por esses alunos", garantindo que a experiência esportiva mantenha seu cunho educacional e de diversão. A abordagem diferencia a Olimpíada escolar do espetáculo profissional, reforçando o valor da participação e do respeito sobre o resultado a qualquer custo, um dos maiores desafios da organização para que o evento se mantenha saudável e educativo.
A essência da tradição do evento reside na sua função como escola de habilidades socioemocionais, um laboratório prático de convívio. O modelo baseado em bandeiras – que unifica alunos de diferentes idades em um objetivo comum – é a matriz para o desenvolvimento do senso de cooperação, empatia e comunicação. O professor destaca que o principal legado dos jogos são a participação e as amizades feitas, enfatizando que a rivalidade deve ser vista como uma "relação esportiva e não como uma relação de concorrência para vencer a qualquer custo."
Essa interação social é fundamental para o desenvolvimento de habilidades de liderança e de resolução de conflitos. A aluna Hannah do Ó, estudante do terceiro ano do ensino médio que acompanhou o ciclo completo das Olimpíadas, atesta o valor dessa integração intersérie e social. Ela relata que a competição foi fundamental para ensinar a ela valores comodedicação, trabalho em equipe e a lidar com grupos grandes com mais domínio e empatia, habilidades que, segundo ela, facilitam a compreensão do outro e o convívio em grandes grupos, preparando-os para o mercado de trabalho.
O sentimento de representar uma bandeira cria um forte senso de pertencimento e identidade coletiva. O professor Fernando descreve que o evento permite ao aluno se perceber como parte de um todo e envolver-se amistosamente com os demais alunos do Instituto. Este senso de comunidade e o protagonismo experimentado ao defender o grupo são cruciais para a saúde mental e para combater a solidão na adolescência. A própria Hannah testemunha o poder dessa lealdade, que a motivou a se candidatar a chefe de bandeira e a fazer amizades que leva consigo até hoje. Ela complementa que a motivação gerada pelas Olimpíadas, que tira o aluno um pouco da rotina da sala de aula, se estende para toda a rotina escolar, incentivando a criação de vínculos e o interesse pelo ambiente educacional como um todo. Ela afirma que a competição a ajudou a acreditar mais em si e no seu potencial, evidenciando o profundo impacto na autoconfiança e na resiliência pessoal ao longo de sua adolescência.

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