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Foto do escritorSabrina Jacob

Cultura afrocentrada e cinema gratuito em Santa Cruz

Atualizado: 7 de jul.

Cineclube Casarão garante entretenimento mensal com pipoca liberada para moradores da Zona Oeste


O Cineclube Casarão Afrocentrado é realizado de forma gratuita, com bebida e pipoca liberada, toda primeira sexta-feira do mês, em Santa Cruz. Foto: Sabrina Jacob

Em uma casa amarela situada a apenas 10 minutos da estação de trem de Santa Cruz, o cheirinho de pipoca atrai moradores da região e até mesmo cachorros. Desde março deste ano, a organização social Ser Cidadão organiza o Cineclube Casarão Afrocentrado, um evento mensal gratuito destinado a promover a cultura e a educação com foco na africanidade e no empoderamento negro. 


Grasiela Cordeiro, coordenadora de comunicação da Ser Cidadão, explica a ideia do Cineclube: “É um dos nossos primeiros projetos com a temática voltada à africanidade pensando o cinema como ferramenta para contar a história do povo preto”. A curadoria cuidadosa de Érida Ferreira mistura entretenimento e educação, proporcionando uma experiência completa com pipoca amanteigada e refrigerante grátis em um ambiente que celebra o cinema. 


No dia 7 de junho, o Cineclube apresentou "O Papel e o Mar" (2020), um encontro fictício entre Carolina Maria de Jesus e João Cândido, e a cinebiografia "Doutor Gama" (2021). Foto: Sabrina Jacob

Superando a falta de estrutura do bairro, o Cineclube Casarão resiste


Público chega cedo para garantir a melhor cadeira e a pipoca liberada. Foto: Sabrina Jacob

A iniciativa é uma das poucas que permite entretenimento para os moradores de Santa Cruz. A mais de 15 quilômetros do cinema mais próximo, Santa Cruz tem cerca de 218 mil habitantes que, antes do Cineclube Casarão, precisariam se deslocar por longas distâncias para ir ao cinema. Para um morador do bairro mais afastado do Centro do Rio de Janeiro, as opções são ir ao o West Shopping ou ao Park Shopping, em Campo Grande, ou sair do município do Rio para ir ao PátioMix, em Itaguaí. 


Silvana Vieira, 49 anos, conheceu a iniciativa pelo Instagram e não perdeu tempo: aproveitou a oportunidade para levar a filha adolescente, e elas participaram juntas pela primeira vez de uma sessão do cineclube. “Vim mais por ela. Para ela se inteirar nesse meio, sair um pouco da internet e valorizar a cultura local.  Às vezes a gente vai para longe, mas não valoriza o que tem aqui, sendo que é tão bom quanto lá”, Silvana comenta. 


Grasiela Cordeiro explica que o Cineclube Casarão já existe há um tempo de maneira independente. Recentemente, criaram a meta de dialogar cinema e cultura negra para o público que frequenta o local: “Nossos alunos são, em maioria, pretos e favelados. Por que não falar sobre esse cinema para eles sobre eles?”


O objetivo, além de apenas exibir conteúdos afrocentrados, é promover obras independentes e locais. “Nossa cinematografia preta é riquíssima. Tem muita coisa, mas a gente não conhece. A ideia é aproximar a população dessa produção que já existe, dar visibilidade a esses profissionais ao mesmo tempo que fortalece o lazer, arte, a cultura para que as pessoas possam se divertir também”, afirma Grasiela. 


Grasiela trabalha como coordenadora de comunicação da Ser Cidadão desde 2018 e é uma das principais responsáveis pelo CineClube Casarão Afrocentrado. Foto: Sabrina Jacob

Na sessão de abertura, realizada em 5 de abril, aconteceu a exibição do curta-metragem "Mar de Elas" (2018) e do documentário "Abdias Nascimento" (2019). O evento encerrou com um bate-papo com a produtora integrante do coletivo responsável pelo curta. Os telespectadores foram convidados a compartilhar suas reflexões, ideias e experiências.


Dalva de Oliveira, 58 anos, conheceu o Ser Cidadão e ficou tão animada com a experiência que não pensou duas vezes antes de ir.  Levou a mãe, Maria Gize, 81 anos, e as duas esperaram ansiosas enquanto aproveitaram a pipoca gratuita. “Experiência única. Com certeza vai passar uma mensagem boa. Ser recebida de graça com a pipoca e refrigerante de graça não tem preço”, disse Dalva.


Desde abril, já foram realizadas três sessões, todas lotadas, atraindo uma diversidade de público, incluindo pessoas de diferentes faixas etárias, cores e rendas, além de cachorros. A experiência é adaptada para deficientes visuais e auditivos, com tradução em língua de sinais e legendas disponíveis.


Até a vira-lata aproveitou a sessão com ar-condicionado geladinho e pipoca liberada para se entreter na sexta-feira. Foto: Sabrina Jacob

Fabrício Andrade, 22 anos, elogia a curadoria, que considera assertiva e inclusiva: “Está sendo excelente porque traz muita história. Trouxeram o cômico, porque na segunda edição teve o 'Ó Paí Ó 2'. Hoje é algo mais sério, forte, pesado, que é necessário para que as pessoas entendam quão importante foi a nossa luta e é até hoje”. 


Já Tainá Dutra, 32 anos, foi à sessão pela segunda vez com seu amigo Jonathan Portela, 35 anos, e ressalta a importância do projeto para a comunidade, visto que encontram dificuldades de acesso à cultura pela falta de estrutura do bairro: “É gratuito e acessível. O jovem que tem um RioCard estudantil pode usar pra ir gratuitamente e chega aqui sem outros gastos. Poupa com a entrada do filme, com a pipoca e com refrigerante. Acho muito acolhedor”. 


Sobre a Ser Cidadão


O casarão amarelo onde funciona a sede do Ser Cidadão foi construído na primeira metade do século XIX. O local já foi residência do Senador Júlio Cesário de Mello — um importante político da região —, e serviu de cenário para a novela “O bem amado”. Foto: Sabrina Jacob

Criada em 2016, a Ser Cidadão funciona na Rua Fernanda 140, em Santa Cruz, na cidade do Rio de Janeiro. Com a missão de promover o desenvolvimento educacional, profissional e cultural, o local conta com cursos, oficinas, exposições, eventos culturais, rodas de leituras, além de empréstimos de livros e jogos à comunidade local. 


As informações sobre as sessões são divulgadas com antecedência pelas redes sociais do Ser Cidadão e são realizadas na primeira sexta de todo mês, às 17h30, no local. Também é possível encontrar informações sobre outras ações da organização, como o pré-vestibular social e o curso preparatório.



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