Documentário premiado do Rampas é exibido na Uerj

“Quando o Medo faz Chamada”, de Sabrina Jacob e Guibsom Romão, relata impacto das operações policiais nas escolas da Maré; filme venceu premiação do Instituto Vladimir Herzog

Por Júlio César Mariano

À mesa, da esquerda para a direita: Patricia Miranda, Fernanda da Escóssia, Sabrina Jacob e Guibsom Romão - Foto: Júlio César Mariano

Histórias de medo e esperança, de revolta e orgulho, se misturam no documentário “Quando o medo faz chamada”, exibido no último dia 29 de setembro, na Uerj. O filme foi dirigido pelos estudantes Sabrina Jacob e Guibsom Romão, alunos da Faculdade de Comunicação Social (FCS) e repórteres do Rampas. Narra como as operações policiais no Complexo da Maré impactam a vida e o acesso à educação dos estudantes da comunidade da Maré. No mês de julho, o documentário foi um dos vencedores do prêmio Fernando Pacheco Jordão para Jovens Jornalistas, do Instituto Vladimir Herzog.

Após a exibição do filme, houve uma roda de debate com participação do público. Os diretores conversaram sobre a realização do projeto e tiraram dúvidas dos estudantes. A mesa foi composta também pela diretora da FCS, professora Patricia Miranda, e pela professora Fernanda da Escóssia, orientadora do documentário e idealizadora do Rampas. 

Sabrina e Guibsom destacaram a relevância do prêmio e a honra de poder concorrer a um prêmio nacional em nome da Uerj. “A gente observa outras faculdades ganhando prêmios como esse, então é muito importante para nós podermos representar a Uerj e destacar a produção cultural que essa universidade pode trazer”, afirmou Sabrina, que já trabalha como editora de imagem na Rede Globo.

A premiação, instituída desde 2019, seleciona anualmente pautas propostas por estudantes. Este ano, o tema foi “Retratos da Violência no Brasil”. Os vencedores receberam uma verba de 5 mil reais para a confecção da matéria. O trabalho da Uerj foi o vencedor da região Sudeste. Teve mentoria da jornalista Angelina Nunes, que discutiu com a equipe as questões de segurança na realização de uma pauta na comunidade. “A ajuda financeira do prêmio foi muito importante, mas mesmo com a falta de recursos e equipamentos improvisados, a gente conseguiu realizar um projeto como esse. Espero que sirva de inspiração para tornar a Uerj cada vez mais presente nesses editais. Creio que esse é o principal legado que a gente construiu,” acrescentou Sabrina.

Os diretores destacaram, no debate com o público, a importância de dar luz para o problema. Falaram dos impactos sociais da violência cotidiana e das repetidas operações policiais, como a defasagem no ensino e a exposição de crianças e moradores a situações de extremo perigo. Em 2024, o Complexo da Maré foi alvo de 42 operações policiais, superando o recorde anterior de 2017, de 40 operações, segundo o relatório da ONG Redes da Maré. Esse dado ilustra como a violência está presente no cotidiano dos habitantes. “Apesar de toda a violência, os estudantes querem mudar a realidade de onde vieram, e continuam focados nos estudos para se tornarem o melhor possível deles. Essa é a nossa maior inspiração”, afirmou Guibsom Romão, que hoje trabalha na Globoplay.

Os diretores também comentaram os desafios para a montagem do documentário, escolhendo os cortes, as imagens e sons e definindo a ordem e a duração das cenas, em busca de salientar a importância do tema para o espectador. “Estávamos com dificuldade de estabelecer um gancho inicial, até que ouvimos novamente o relato de uma das alunas e ela comentou que adorava ser da Maré, mas que as operações atrapalhavam a sua vida. Nesse momento, surgiu um estalo: esse vai ser o início”, comentou Guibsom.

O Rampas Uerj, projeto conduzido pelas turmas de Laboratório da FCS, vem se destacando em prêmios na área de jornalismo. Em 2024, venceu o Prêmio Sebrae de Jornalismo Universitário, também com reportagens de Sabrina Jacob, que conquistou o 1º e o 2º lugares. Este ano, conquistou o prêmio de melhor projeto de Monitoria em Ciências Sociais Aplicadas na Mostra Uerj Sem Muros e novamente conquistou o Prêmio Sebrae de Jornalismo Universitário, fazendo um pódio triplo com matérias dos repórteres Vinícius Feliciano, Luciano Alves e Kauhan Fiaux.

A professora Fernanda da Escóssia, orientadora do projeto Rampas e do documentário, destacou que é muito bom ver os alunos praticando jornalismo de qualidade no ambiente universitário. “Eu sonhei com o Rampas, mas é importante salientar que esse projeto é feito por alunos e pela dedicação deles, valorizando as experiências que eles podem trazer também. Ele só existe porque os alunos abraçaram o Rampas”.

Clique aqui para conferir o documentário “Quando o medo faz chamada”.