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  • Foto do escritorRafael Lopes

Em 2024, 70% dos clubes da série A têm casas de apostas como patrocinador master

Atualizado: 3 de mai.

Mercado das bets cresceu 360% nos últimos anos e virou febre entre torcedores brasileiros


O Brasil conta com cerca de 500 casas de apostas operando atualmente - Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

O alto volume de publicidade envolvendo as chamadas 'bets' - apostas, em inglês - é prova de que o público aprendeu uma nova forma de consumir o produto esportivo: mais do que nunca, o bolso se tornou o segundo, ou primeiro, time do torcedor brasileiro. E o cenário de mercado aquecido se reflete dentro dos campos de futebol no Brasil - em 2024, 14 dos 20 clubes que disputarão a primeira divisão carregam a publicidade de casas de apostas no local mais valioso do uniforme, o chamado patrocínio máster.   


No ano passado, o total de clubes com alguma referência às casas de apostas na camisa de jogo representava 95% do total. Com o rebaixamento de clubes como Santos, Goiás, Coritiba e América-MG, e o fim da parceria entre Vasco da Gama e a Pixbet, a porcentagem caiu para 85%. 



Segundo dados do Datahub, o ramo das apostas esportivas cresceu 360% nos últimos anos e atualmente é o maior mercado esportivo no Brasil. Além dos clubes de futebol do país, as bets têm espaço para patrocinarem competições: é assim com a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, chamada de 'Brasileirão Betano', e a Copa do Nordeste, que conta com o investimento da Betnacional. Porém, a realidade não é restrita ao futebol. No vôlei, a Superliga, competição de maior prestígio no âmbito nacional, leva o nome de 'Superliga Bet7k'. 


Para Lucas Gomes, jornalista esportivo que atua no ramo de apostas, o potencial de crescimento do mercado é ainda maior, tanto pela possibilidade de ganhar dinheiro como pela praticidade: "Na esmagadora maioria das vezes, usar o site de casas de apostas é bem intuitivo e sem complicações. O público enxerga uma oportunidade simples de aumentar a renda." Com o mercado aquecido, a publicidade ganha volume e cada vez mais pessoas são influenciadas a entrar no mundo das bets.


Rodrigo Furtado, veterinário de 32 anos, admite que apostar já faz parte da sua rotina: “Sempre que ‘pinga’ um dinheirinho na minha conta, coloco uma parte na bet (risos). Eu aposto desde 2022. Me considero responsável, mas todos os dias  abro o aplicativo da casa para ver se tem alguma oportunidade.” Questionado sobre suas estratégias, o apostador revelou que acompanha alguns influencers, mas também faz análise por conta própria.


Um dos fenômenos mais interessantes que surgiram com a popularização das bets é o de influencers 'tipsters', ou seja, pessoas que compartilham apostas com potencial de lucro para seus seguidores. Perfis como Lucas Tylty, GoldoRayo e Dupla Aposta contam com milhares de seguidores que buscam lucrar com as dicas dos apostadores. Por exemplo, no Telegram, rede social popular pela formação de comunidades fiéis, o influenciador Lucas Tylty conta com 602 mil inscritos.


Ainda no assunto estratégia, Furtado compartilhou uma técnica no mínimo curiosa. Quando perguntado se  tinha feito alguma aposta para a final do Campeonato Carioca de 2024, disputada entre Flamengo e Nova Iguaçu, o tricolor contou: “Apostei um bom dinheiro na vitória do Flamengo (risos)... Se eles perderem, fico feliz pela derrota do rival, mas, se ganharem, o que é bem provável, pelo menos consigo um trocado.”


Casos como o de Rodrigo  apresentam, acima de tudo, a ascensão do ramo: hoje existem cerca de 500 casas de apostas online operando no Brasil. Para se ter uma dimensão mais profunda da expansão, em 2021, três anos atrás, existiam apenas 51 - o que mostra um aumento em cerca de 900% na oferta. No Brasil, o site mais acessado é a casa de apostas britânica Bet365, que concentra 21% dos acessos no país. Em segundo lugar, uma alternativa caseira: a Betnacional, que recebe cerca de 14% dos apostadores. Os dados foram oferecidos pela DataHub.


O lado obscuro das bets


Mesmo que a expansão do mercado seja notável, o assunto já se tornou caso de polícia. A Operação Penalidade Máxima, conduzida pelo Ministério Público de Goiás desde 2022, foi responsável por identificar esquemas de manipulação em partidas de futebol no Brasil. Dezenas de jogadores foram alvos da investigação e alguns chegaram a ter o banimento do esporte determinado pela Justiça. 


Talvez o episódio mais emblemático entre os atletas tenha sido o do zagueiro Eduardo Bauermann, ex-Santos, que foi suspenso do futebol por 360 dias e atualmente está sem clube. Foi comprovado que o atleta estava envolvido em um esquema para favorecer apostadores que colocavam dinheiro em cartões amarelos e expulsões.


Eduardo Bauermann, suspenso do futebol por um ano, em ação com a camisa do Santos - Foto: Reprodução/Instagram

Diante de casos assim, foi aprovada no Brasil a Lei 14.790/23, que busca taxar e regulamentar as apostas esportivas. Além de tributar um mercado em franca expansão, a norma também define regras para o funcionamento das casas, bem como a determinação de quem pode e não pode apostar. 


Entretanto, Lucas Gomes acredita que ainda há um caminho longo no sentido da 'limpeza total' na imagem das apostas esportivas: "Medidas educativas para atletas e a população geral precisam ser realizadas. Além disso, é preciso que as punições ocorram em todas as esferas, independente de divisão."


Os escândalos de manipulação são prova de que quando o assunto é dinheiro, muitos se esforçam pelo objetivo. A ganância pode, inclusive, levar o apostador a caminhos obscuros. Na mesma casa de apostas em que é possível apostar no resultado do próximo jogo da Seleção Brasileira, é possível colocar dinheiro em serviços de cassino. 


Disponível nas bets do Brasil, Fortune Tiger, o popular 'Jogo do Tigrinho', esteve nos noticiários do país por conta de um escândalo: influenciadores digitais divulgavam o jogo para milhões de pessoas e lucravam com a 'má sorte' de seus seguidores. Para Gomes, esse tipo de jogo de azar não deveria ser confundido com as apostas esportivas: "É muito errado que esse tipo de jogo tenha um acesso tão fácil. Deveria ser separado das apostas esportivas, são coisas bem diferentes."


Casa de apostas ‘KTO’ dispõe de um variado catálogo de jogos de cassino, incluindo o ‘Jogo do Tigrinho’ - Foto: Reprodução da internet

Fixação pelos ganhos financeiros à parte, existem casos como o de José Acácio Sousa, morador da Penha, na Zona Norte do Rio. O avaliador de penhor de 60 anos aposta por pura diversão e acredita que a prática, incentivada pelo filho, o reconectou com o futebol, sua paixão de infância: "Hoje em dia, assisto muito mais jogos  do que  antigamente. Não perco minha paz e nem meu dinheiro, apenas me divirto."


Enquanto o mundo das apostas continua a crescer, é fundamental dar voz às histórias de quem enfrenta o lado adverso dessa tendência, especialmente em relação ao vício e saúde mental. Leia as experiências e os conselhos dos especialistas na reportagem do Rampas.


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