Bairro mais populoso do Brasil é também o que tem mais buracos na cidade do Rio; moradores cobram mais investimentos em ruas e calçadas
A universitária Lívia Veloso experimenta diariamente o desafio de caminhar pelo bairro mais populoso do Brasil e um dos bairros mais extensos da cidade do Rio de Janeiro de 104,9 km², equivalente ao tamanho combinado de Barra da Tijuca, Cosmos, Bangu e Vila Militar. Estudante da Faculdade de Farmácia da UEZO (Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Campus Zona Oeste), Lívia faz a pé o trajeto de 2 km de casa até a universidade. Em uma dessas caminhadas, torceu o pé ao pisar num dos muitos buracos nas calçadas do bairro. Embora o acidente não tenha sido grave, impactou sua rotina, levando-a a paralisar atividades cotidianas, como as aulas de dança.
A falta de manutenção adequada das calçadas afeta diretamente a garantia de qualidade de vida da população de Campo Grande, o bairro mais populoso do Brasil, com 352.356 habitantes, segundo censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Como Lívia, milhares de moradores de Campo Grande estão insatisfeitos com a situação precária da infraestrutura urbana do bairro. Dados obtidos pela rádio CBN a partir da Lei de Acesso à Informação (LAI), o bairro lidera a lista de reclamações no número 1746, da Central de Atendimento ao Cidadão da Prefeitura do Rio, quando o assunto é reparo em buracos, deformações ou afundamentos na pista. Entre janeiro e fevereiro deste ano, o bairro registrou 1.119 reclamações, quase mil a mais do que o segundo colocado, Santa Cruz, que contabilizou 254 registros.
No Rio de Janeiro, a Secretaria Municipal de Conservação é responsável pela reparação dos buracos nas ruas. Quando a calçada está em mau estado de conservação, uma notificação é enviada ao proprietário, alertando sobre a necessidade de reparos, uma vez que a condição atual pode causar acidentes. O artigo 58, §1º do Decreto “E” Nº 3.800, estabelece que o proprietário do imóvel deve manter e conservar a calçada ao longo de toda a extensão da testada de seu terreno.
Para Beatriz Evaristo, estudante de 20 anos e moradora da região, calçadas sem manutenção afetam especialmente pessoas com dificuldades de locomoção, como aquelas que utilizam bengalas ou cadeiras de rodas. Já para Gilmar Freitas, de 65 anos, os buracos e deformações nas ruas de Campo Grande são sinônimo de prejuízos financeiros, como os gastos em manutenção com seu carro. Ele também destaca outro problema frequente: “Além do asfalto em péssimas condições, a sinalização também é inadequada.”
Nos primeiros oito meses de 2024, a Prefeitura recapeou 3,2 milhões de metros quadrados de asfalto, o maior volume desde 2014, segundo dados obtidos pelo jornal O Globo via LAI. As obras da Secretaria Municipal de Conservação receberam um impulso da gestão de Eduardo Paes (PSD) durante sua campanha de reeleição, ocorrida neste ano. Apesar disso, os problemas de infraestrutura continuam impactando a vida dos moradores, dificultando a mobilidade e gerando despesas inesperadas.
Robson Bandeira, de 67 anos, observa que as vias de Campo Grande, geralmente irregulares e com buracos, são frequentemente ocupadas por mesas de bares ou carros estacionados, dificultando o trajeto dos pedestres. Júlia Ornela, 19 anos, também se incomoda com a falta de ordenamento do espaço público, e até mesmo com as ruas praticamente sem calçadas, excessivamente esteiras e em péssimo estado de conservação, levando os moradores muitas vezes a andarem nas ruas, disputando espaço com o trânsito e se colocando em risco.
Os moradores concordam que mais investimentos no bairro são urgentes. Hedymilson Ferreira, de 63 anos, cobra a instalação de mais rampas de acesso para facilitar a mobilidade dos pedestres. “Na Zona Oeste, especialmente nos bairros de Campo Grande, as calçadas estão repletas de obstáculos, como carros estacionados de forma irregular”.
Quem enfrenta problemas semelhantes pode solicitar à Prefeitura do Rio a reparação de buracos ou irregularidades no pavimento, seja na pista de rolamento dos carros ou nas calçadas. Segundo a Prefeitura, os serviços seguem prazos específicos: a fiscalização ocorre em até 72 horas; reparos de buracos na pista são realizados em até 6 dias úteis; correções em asfalto com afundamento levam até 20 dias úteis; e o nivelamento de tampões e grelhas é concluído em até 12 dias úteis. Para isso, é possível acessar o portal oficial ou ligar diretamente para o número 1746.
Tapando os problemas
O programa Asfalto Liso, sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Conservação, realiza obras de revitalização em vias da cidade do Rio de Janeiro, com foco em grandes corredores de intenso fluxo de veículos. Entre as áreas beneficiadas, a Zona Oeste concentra parte significativa das intervenções, abrangendo bairros como Barra da Tijuca, Recreio dos Bandeirantes, Campo Grande, Santa Cruz, Bangu e Guaratiba.
De acordo com a Secretaria, foram investidos R$ 3,5 milhões no Programa Asfalto Liso em Campo Grande apenas neste ano, totalizando R$ 15 milhões desde o início do projeto, em 2022. “No bairro, foram contempladas pelo programa a Estrada da Posse, Estrada do Campinho, Estrada do Pré, Estrada Iaraquá e Estrada da Cambota”, acrescenta.
A Secretaria de Conservação produziu, somente neste ano, 154 mil toneladas de asfalto, utilizadas diariamente em serviços de recapeamento e tapa-buracos em toda a cidade. “Em Campo Grande, desde 2021, a rotina de manutenção já atendeu 3.525 ruas, muitas delas por meio de solicitações registradas na Central 1746”, segundo o órgão.
Boa Tarde Manoela Oliveira para