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Foto do escritorDiego Figueiredo

Entre latidos e miados, o esforço para salvar animais nas enchentes do Rio Grande do Sul

Atualizado: 25 de mai.

Profissionais e voluntários detalham dificuldades em resgates e reforçam apelos por ajuda


Cão caramelo é resgatado de enchente por voluntários
Registro de um resgate bem sucedido em Porto Alegre/RS / Foto: Camila Dolejal

Enquanto as águas do Rio Grande do Sul inundam comunidades e provocam danos, equipes de resgate estão se dedicando também àqueles que não podem salvar a si mesmos: os animais. Em meio à tragédia das enchentes, histórias de compaixão e coragem evidenciam o esforço coletivo dos voluntários.


É o caso de Bruno Jorge, 23, de Cachoeirinha, no Rio Grande do Sul. Como médico veterinário, está na linha de frente para os resgates de animais pela prefeitura de Gravataí. “Estamos com uma equipe de sete ou oito pessoas que vão para água. Como somos todos civis, não temos nenhum treinamento especializado. Nossa equipe trabalha na cara e na coragem, já que a gente tira os custos dos resgates quase todo do nosso bolso.”


Os pedidos de salvamento são solicitados a partir do informe dos endereços nos centros de resgate ou até mesmo pelas redes sociais, como conta Camila Dolejal, 28, médica veterinária de Porto Alegre. “Eu estou na linha de frente nos pontos de resgate da minha cidade. Normalmente recebemos endereços em mãos para irmos atrás dos animais ou pedidos que são feitos pelo Instagram. Geralmente são de pets que ficaram para trás quando a família foi resgatada. Não entramos em detalhes com o familiar, mas saímos na busca. Tentamos ser eficientes em todas as saídas, se ouvimos latido, miado ou qualquer som animal no caminho, paramos e resgatamos os bichos sem ter pedido de tutor. Encontramos de tudo: galinha, porcos, coelho, passarinhos. E temos que ter um cuidado especial com todos eles.”


Resgate realizado em Gravataí realizado por Bruno Jorge. Crédito: Bruno Jorge


Apoio e custos


Para resgatar um animal, são necessários alguns equipamentos, como os barcos para a busca. Segundo Camila, o apoio basicamente vem de doações da própria população: “Estamos nos organizando entre o povo mesmo. Fizemos amizades com alguns barqueiros e nos dividimos para poder ir resgatar. Recebemos alguns equipamentos de doações como pranchas longas de surf e wetsuits [roupas especiais usadas por mergulhadores], que ajudam a isolar um pouco a temperatura da água e também a proteger, até certo ponto, de contaminações, porque a água em que entramos é muito suja.”


A catástrofe no Rio Grande do Sul afetou psicologicamente todos os residentes. Para as equipes de resgate, o choque emocional também é muito forte, detalha a veterinária. “Graças a Deus não fui atingida materialmente. Mas todos nós fomos atingidos psicologicamente por causa do caos em que o Estado se encontra. Um cenário de guerra. Aqui em Porto Alegre, todo mundo conhece algum parente, amigo que foi atingido. Ainda mais trabalhando com os resgates porque, às vezes, a gente não consegue chegar a tempo. O sentimento de culpa fica muito forte quando não dá tempo de encontrar o animal com vida. Eu me sinto na obrigação de ajudar as pessoas porque tenho privilégio de não ter a casa invadida por água.“


Retorno de barco após resgates bem sucedidos. Crédito: Camila Dolejal


O sentimento de salvar uma vida


Segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Sul (Sema), mais de 11 mil animais afetados pelas enchentes já foram salvos. O sentimento de um resgate bem sucedido, seja de humanos ou animais, não tem explicação, como relata a médica veterinária. “Não tenho nem como explicar. Existem resgates que não têm tutor, que aquele animal nem teve alguém que pediu ajuda por ele. Mesmo assim demos sorte, ou Deus fez com que a nossa equipe tivesse ali para achar ele que tinha sido deixado para trás. Não tenho palavras que definem a felicidade de ver o encontro dos tutores com os animais que eles deixaram para trás. São esses momentos que fazem tudo valer a pena.”


Bruno Jorge completa que, nos primeiros dias da tragédia, muitos animais acabaram sendo separados das famílias. “Tem muitas pessoas preocupadas porque não deu tempo de levar seus pets nos primeiros resgates porque os barcos estavam priorizando as pessoas. Mas a situação está menos pior agora, e os barcos estão sendo disponibilizados para o resgate de animais também. É muito gratificante poder entregar os bichinhos para suas famílias. Eu sempre digo que vale tudo para salvar uma vida. Apesar de não fazermos pelo reconhecimento, é bom ser reconhecido por isso. Porque a gente sabe que tá fazendo a diferença. Todas as vidas importam, seja de cão, cobra, galinha, bode. Fazemos de tudo para salvá-los.”


Como ajudar nos resgates?


Camila Dolejal afirma que as doações são muito importantes porque há uma série de ferramentas e utensílios necessários para os resgates. “Para ajudar os animais à distância, dar apoio é o mínimo. No sentido financeiro mesmo, porque a gente precisa de muitas coisas. Estamos em água já faz uma semana. Precisamos de tarrafas, sedativos que são muito caros. Além da gasolina para os barcos, ração, alguns equipamentos que ajudam a gente a arrombar as casas como machado, alicates. São alguns dos equipamentos necessários para que seja possível um resgate bem sucedido.”


Para os moradores do Rio Grande do Sul não afetados pelas enchentes, é importante se mobilizar também. “Quem puder fazer um lar temporário, separar um cômodo da casa para receber um animalzinho ajudaria demais porque os abrigos estão superlotados. O auxílio de profissionais voluntários para ficar com esses animais no abrigo é importante porque eles estão muito debilitados no momento do resgate.”


Para doar para as vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul,  clique aqui para conhecer alguns pontos de doação. A vaquinha do voluntariado “Todos juntos por RS” é indicada pela Camila e você pode acessá-la por este link.

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