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Escola social no Circo Voador amplia acesso à educação e vira espaço de convivência na Lapa

Por Lucas Vianna


Extensão do Circo Voador, uma das casas mais tradicionais da cena cultural carioca, o projeto social Estação Joaquim Silva funciona há 17 anos e oferece cursos gratuitos para a população do entorno e de diversas regiões do Rio de Janeiro. Com 435 alunos matriculados atualmente, a escola é um espaço de convivência onde aulas de idiomas, informática, reforço escolar e capacitação profissional se misturam a histórias de vida.


Idealizado  por Maria Juçá, diretora do Circo Voador, o projeto começou como contrapartida exigida pela Prefeitura do Rio para o funcionamento do Circo Voador na área. Em 2023, mesmo com o fim da exigência, o Circo decidiu continuar a atividade. A iniciativa é financiada através dos ingressos da casa de shows e incentivos fiscais. 


Entrada da escola Foto: Lucas Vianna
Entrada da escola Foto: Lucas Vianna

Com 36 turmas ativas atualmente, a escola oferece aulas de segunda a sexta. Os cursos variam entre idiomas diversos, como inglês, espanhol, francês, alemão e mandarim (este último online), informática e reforço escolar. Segundo Elias da Silva, professor e coordenador, que trabalha na instituição  desde a sua fundação, a estrutura segue simples, mas eficiente: “Temos apenas três salas que são divididas para 11 matérias.  É apertado mas a gente faz acontecer”.



A diversidade do público é uma das marcas do projeto. “É para todos os públicos, tá? Só que para idiomas não tem para crianças, só reforço e alfabetização. Mas a gente tem adolescentes que gostam muito da informática, e uma participação expressiva da terceira idade”, destacou Maria das Graças Coelho, secretária da escola.


Para muitos alunos, mais do que aprender, o local é uma rede de apoio emocional. “Tem uma aluna que perdeu o filho, outra que ficou viúva, já tivemos aluno que se matou. Aqui, a gente faz parte da vida deles. Não é só uma escola, é uma extensão da casa”, relatou Maria.


Tecnologia para autonomia


Uma das turmas mais queridas da escola é a de informática para a terceira idade, realizada à tarde, com aulas adaptadas para o dia a dia digital. “A gente separa com faixa etária, porque a cabeça é diferente. Aí elas vêm aprender desde pagar conta pelo celular até mexer no aplicativo de transporte”, contou Elias.


Segundo Maria das Graças, o impacto na vida dessas alunas é enorme. “Elas chegam e dizem: ‘Gracinha, eu quero aprender informática porque eu quero mexer no celular, porque minha amiga já sabe tudinho e eu não’. Isso dá autonomia. Faz com que não dependam mais do neto ou do filho. já é o começo de uma transformação”, ressaltou.


Entre as histórias emocionantes, Elias lembra de “seu” Newton, ex-marinheiro mercante, que há anos frequenta a escola, sempre mudando os cursos. “Quando ele vem aqui, ele diz: ‘Aqui é mais que aula, é terapia’. Ele procurava convivência. E é isso que a gente oferece: aprendizado e acolhimento”.


Essa atmosfera de troca constante faz do espaço algo maior do que uma simples sala de aula. “Tem muita gente sozinha, com depressão. Aqui vira terapia e convivência. E não só com o professor, eles mesmos se ajudam, criam amizade, se ligam. É muito bonito”, relatou Maria.


Elias e Maria das Graças na entrada da escola   Foto: Lucas Vianna
Elias e Maria das Graças na entrada da escola Foto: Lucas Vianna

Desafios e futuro


Apesar da estrutura modesta e da limitação de espaço, a escola segue crescendo. Recentemente, a demanda pelas aulas de inglês foi tão alta que Elias precisou abrir uma turma extra  com 17 alunos. O projeto se mantém gratuito e acessível, sem a exigência de comprovante de residência, facilitando o acesso para pessoas em situação mais vulnerável. “Tem alunos que não têm como comprovar residência. A gente dá um jeito. O importante é acolher e transformar”, afirmou Maria das Graças.


As inscrições para o próximo semestre de idiomas estão previstas para julho. Os cursos de informática e reforço escolar funcionam o ano todo.






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