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Maricá é terra indígena

Povo Guarani Mbya conseguiu titulação de terra em terreno cedido pela Prefeitura


Por Julia Lima



Chefes da aldeia Céu Azul. Da esquerda para direita: Vice-Cacique Ernesto, Cacique Vanderlei Weraxunu e Xeramõi (líder espiritual) Félix Karaí. Foto: Julia Lima
Chefes da aldeia Céu Azul. Da esquerda para direita: Vice-Cacique Ernesto, Cacique Vanderlei Weraxunu e Xeramõi (líder espiritual) Félix Karaí. Foto: Julia Lima

Em dezembro de 2024, 50 indígenas da etnia Guarani Mbya celebraram uma conquista histórica: o título oficial da terra onde vivem, na aldeia Céu Azul (Tekoa Ara Hovy em Guarani), localizada no Município de Maricá. Apesar disso, a transição completa para o espaço só foi feita no mês de abril deste ano.


Eles chegaram a Maricá em 2013, liderados pelo antigo Cacique Félix Karaí, hoje na posição de Xeramõi, líder espiritual. Vanderlei Weraxunu, atual cacique da aldeia e filho de Félix, relata que as negociações por uma terra começaram em 2016, quando estavam na região de Itaipuaçu. “A gente procurou a prefeitura contando da nossa situação, dizendo que a gente está lá, mas precisa de apoio do órgão público. Eles fizeram uma visita lá e viram realmente que a situação é muito difícil”, conta.


No antigo espaço, a comunidade vivia em uma área elevada, sem acesso a saúde, educação ou fornecimento de água. A falta de infraestrutura das residências também era um problema: todas eram feitas com materiais improvisados, e não havia como melhorá-las pela dificuldade de acesso ao local. Já na nova aldeia foram construídas 13 ocas seguindo a arquitetura tradicional indígena; elas são feitas de paredes de pau a pique e telhado de telha e sapê.



Novas casas de pau a pique da aldeia Céu Azul. Foto: Julia Lima
Novas casas de pau a pique da aldeia Céu Azul. Foto: Julia Lima

O projeto de mudança foi apresentado ao prefeito Washington Quaquá (PT-RJ) no fim de seu segundo mandato, em 2016, mas a maior parte foi executada na administração de Fabiano Horta (2017-2024), aliado político do antecessor. 


Foi durante a gestão de Horta que a localidade do Espraiado foi escolhida para a nova aldeia, após uma série de opções serem descartadas. Segundo Vanderlei, uma terra foi selecionada pela prefeitura em Bambuí - bairro da cidade -, mas ela já havia sido prometida à comunidade local, o que desencadeou uma série de ameaças contra os indígenas.


O terreno, elevado e cercado pela floresta, foi escolhido por permitir a prática de agricultura, piscicultura (criação de peixes) e a construção de ocas individuais para cada família, além de áreas de convivência.



Espaço de convivência e entrada da aldeia Céu Azul. Foto: Julia Lima
Espaço de convivência e entrada da aldeia Céu Azul. Foto: Julia Lima

Em entrevista ao Rampas, o secretário de Direitos Humanos de Maricá, João Carlos de Lima (Birigu), que integrou a administração dos dois prefeitos e acompanhou todo o processo, todas as escolhas foram feitas com aprovação do cacique após deliberação com seu povo. 


Serviços para a aldeia

A nova aldeia conta com serviço de água encanada e iluminação própria, com o apoio de geradores, cozinha comunitária e área para práticas esportivas. Além disso, uma escola foi construída dentro do espaço, com o ensino bilíngue (Guarani e Português), garantido pelo artigo 210 da Constituição Federal de 1988. Também está em fase final de construção um posto de saúde para atender às necessidades dos indígenas da aldeia.



Escola construída dentro da aldeia Céu Azul. Foto: Julia Lima
Escola construída dentro da aldeia Céu Azul. Foto: Julia Lima

Quando questionado se o mesmo será feito na outra aldeia da cidade, aldeia Mata Verde Bonita (Tekoa Ka’aguy Hovy Porã, em Guarani), Birigui afirmou que, se for da vontade do povo, eles terão o mesmo tratamento. Segundo ele, já houve conversas, mas o cacique não mostrou interesse em negociar até o momento.


A Secretaria de Direitos Humanos do município, em conjunto com a etnia, quer abrir a aldeia para visitação ainda em abril, em comemoração ao Abril Indígena. Maria Oliveira, da Coordenadoria de Povos Originários da secretaria, afirma que a lista de espera para a visitação passa de mil pessoas. Segundo ela, novas adições só ocorrerão após a finalização deste primeiro grupo, que conta com apoiadores relacionados a projetos da causa indígena e a população da cidade. 





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