Na Feira de Olaria, resistência, afetos, crise e lembranças
- Alice Moraes

- 7 de nov.
- 4 min de leitura
Instalado há 30 anos em bairro da zona norte, ponto de comércio popular oferece preço baixo e ambiente acolhedor, mas corre risco de fechar diante da concorrência dos magazines
Por Alice Moraes

No começo dos anos 90, o espaço onde hoje está instalada a Feira do Olaria era apenas um terreno inutilizado. Naquele tempo, Waltair de Almeida, administrador da Feira, costumava vender produtos na Feira de Itaipava, em Petrópolis, na região Serrana. Waltair saía de madrugada e só voltava com o estoque quase zerado. Pensou então em montar uma feira em Olaria, usando o espaço que pertencia ao Atlético Clube. O sucesso do clube contribuiu para o sucesso da Feirinha, que se tornou referência na região, recebendo os moradores locais, de outros bairros e até mesmo visitantes de fora do país.
30 anos depois, a feira vive uma crise financeira. Os comerciantes já foram avisados de que a Feira vai diminuir de tamanho e, de acordo com o administrador, existe a possibilidade de fechamento. O movimento já vinha diminuindo desde antes da pandemia. “O custo operacional está acima do que deveria ser. Se não conseguirmos reverter essa situação até dezembro, provavelmente teremos de fechar”, explica Waltair. Ainda assim, ele afirma não se arrepender de nada em relação à trajetória do espaço.
Mesmo com cenário crítico, o local continua sendo um refúgio para a equipe de vendedores. “Isso aqui é uma terapia para os comerciantes. Com certeza a Feira ajudou muito na saúde delas e na de todo mundo”, concluiu o administrador.
Ambiente acolhedor
A Feira do Olaria, apelidada de Feirinha, está localizada na Avenida Professor Plínio Bastos, 507, em Olaria, e funciona de 15h até 20h30, às terças, quintas e sábados. É uma opção acessível para moradores do bairro que querem achar produtos mais perto de casa e a preços baixos.
Aos sábados de manhã, a Feirinha premia seus clientes com um sorteio especial: aqueles que fizerem compras a partir de R$30 ganham a chance de levar um vale-compra de R$50, válido em qualquer loja do lugar.
Uma das tendas presentes no local, repleta de prendedores de cabelo coloridos e brincos de argola, é a lojinha de Dayse Coelho, 67 anos. A vendedora de maquiagem e acessórios comenta com alegria sobre sua experiência trabalhando há 18 anos no local. “Eu adoro trabalhar com o público, então é muito satisfatório”, afirmou.
A Feira tem um papel especial na vida dos comerciantes. Dayse contou que, certa vez, mesmo estando febril, não perdeu um dia de feira. “Se é para ficar com febre em casa, então eu prefiro ficar com febre na Feira”, contou.

Na banca de Dayse, os brincos são vendidos entre R$7 e R$20, prendedores de cabelo e demais acessórios chegam a R$15, já os itens de maquiagem variam de R$5 a R$35.
“Aqui eu vejo o pessoal que eu amo, converso, a hora passa… Então é uma coisa que me faz bem, me faz feliz. Eu gosto do que eu faço”, declara Dayse que, apesar da aposentadoria, continua trabalhando com o que ama.

A Feira é “tudo”
Além de acessórios, roupas e calçados, a Feira também tem um lugar especial para quem gosta de perfumaria, cosméticos e maquiagem.
Os preços acessíveis chamam a atenção: caixas contendo cinco unidades de sabonetes Natura por R$25 e diferentes produtos em promoção por R$35, como loção pós barba, creme de barbear, shampoo e kit de sabonete masculino. As cores e a variedade de produtos enfileirados nas prateleiras convida os visitantes a parar e dar uma olhada.

A vendedora da lojinha Flor do Maracujá, Andrea dos Santos e Silva, de 57 anos, trabalha na Feira há 8 anos por recomendação de uma prima. Ela compartilha que é carinhosamente chamada de Dainha da Natura pelos colegas de trabalho e clientes. “Eu amo trabalhar aqui, amo o meu público e amo o que faço”, diz.
Andrea trabalhou 30 anos fazendo bolos, mas após um problema de saúde teve que escolher outra possibilidade de trabalho. Resolveu trabalhar com a perfumaria que, de acordo com ela, lhe agrada bastante.
Para Andrea, a Feira é importante para ela não apenas pela questão financeira, mas principalmente por lhe proporcionar interação e amizades. “A Feirinha é como uma segunda casa para mim. Um lugar acessível, especialmente para quem, às vezes, não tem um parente por perto. Por isso, acaba se tornando um espaço muito acolhedor.”, declarou.
A vendedora concorda que a Feira possibilita preços mais justos e acessíveis para os clientes em geral. Esse fator ajuda a desconstruir a ideia de que somente shopping é lugar para fazer compras.
Compras, conversas e sorrisos
A aposentada Sônia Costa, de 71 anos, é cliente fiel da Feirinha há mais de 10 anos e visita o local semanalmente para encontrar as amigas e conversar. Seus itens preferidos são roupas e cosméticos.
Para Sônia, a Feira lhe proporciona uma facilidade maior em ter acesso a roupas e outros produtos. “O preço é mais em conta, muito mais do que no shopping. Também é próximo da minha casa”, relata. Ela opina que, atualmente, as pessoas estão em busca de roupas e acessórios mais despojados, facilmente encontrados na Feirinha, que oferece roupas de acordo com esse gosto contemporâneo.
“Eu descrevo a Feirinha como um lugar simpático onde você pode fazer compras, amizades, passar a tarde ou comer um lanche do João”, disse. “Fazemos amizades com os feirantes também. Eles ajudam dando opinião sobre as roupas que ficam boas no corpo ou não. Você começa a frequentar e acaba arrumando amigos.”


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