No meio do caos: nos dias de jogos, desafios são redobrados no Maracanã
- Gabriela Martin

- 19 de nov.
- 3 min de leitura
Gás lacrimogêneo, brigas e ruas fechadas são alguns dos problemas que impactam a rotina de moradores, comerciantes e estudantes da região
Por Gabriela Martin

Em dias normais o espaço é de lazer, ideal para beber uma água de coco, fazer uma caminhada ou andar de bicicleta. No entanto, basta o fim da tarde chegar para o cenário mudar no entorno do estádio do Maracanã. As ruas são tomadas pelo som das buzinas e pelos vendedores ambulantes, cambistas e torcedores aos poucos vão lotando a região. Quem mora ou frequenta a área já sabe: é dia de jogo.
“O bairro em si é tranquilo em dias normais, mas em dia de jogo o Maracanã tem muitos problemas, tanto de barulho quanto de briga. O trânsito fica horrível, muitas ruas fecham, e tem a concentração de torcidas organizadas”, conta Júlia Borges, ex-moradora da Avenida Paula Souza, próxima às grades que delimitam o acesso ao estádio. O local é, também, região de concentração das torcidas organizadas do Flamengo. Para Júlia, o impacto dos jogos na sua rotina ia além de barulho ou trânsito Segundo ela, a pior parte sempre foi a violência e o medo. “Nos dias de clássico, quando sabíamos que provavelmente haveria brigas, evitávamos sair de casa com medo de ficar no meio de alguma briga ou de sermos hostilizados”, explica a estudante de enfermagem.
Mesmo dentro de casa a sensação de insegurança persiste. É comum que garrafas de vidro e pedras sejam arremessadas durante os conflitos. Muitas vezes os objetos atingem os edifícios. Até de dentro dos apartamentos é possível sentir o cheiro forte do gás lacrimogêneo. “A gente via que começava a briga com a polícia e logo fechava todas as janelas da casa, ia para os cômodos dos fundos e ligava os ventiladores, mas mesmo assim já aconteceu de eu sentir meu olho arder muito e não conseguir abrir, porque o gás entrava mesmo dentro do apartamento”, relembra a ex-moradora. Os conflitos são tantos que um morador da rua Luiz Gama chegou a abrir uma ação no Ministério Público após relatar ocorrências dentro de sua residência.
Os problemas no entorno do Maracanã não atingem apenas moradores. Os comerciantes da região também enfrentam desafios na rotina de trabalho. “Quando tem briga na rua ou começa a chover, todo mundo corre ao mesmo tempo para dentro da loja e a gente fica no sufoco”, disse Francisco Cunha, funcionário da padaria Panificadora Alvorada, na rua General Canabarro. Francisco também contou que nos dias de jogo a sensação é de imprevisibilidade e de que a qualquer momento “pode acontecer uma confusão” devido à grande quantidade de pessoas, muitas delas alcoolizadas.
Outra parcela bastante afetada da população é a comunidade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Em dias de jogos, estudantes, professores e funcionários se veem obrigados a mudar seu trajeto, devido ao fechamento de ruas ou para evitar assaltos. “Quando fecham as ruas, os ônibus param de passar e tenho que arrumar outros trajetos não muito seguros para fugir do tumulto do Maracanã e ir para casa”, disse Samira Santos, estudante de comunicação social e moradora da Mangueira. Além disso, é comum que as aulas sejam canceladas por causa do tumulto em dia de jogo.
Segundo João Alberto Britto, vice-presidente da Associação de Moradores Nova Tijuca, nos últimos três anos houve diversas reuniões entre a associação de moradores, a Subprefeitura, o 6º Batalhão da PM, o Ministério Público e o prefeito Eduardo Paes. O objetivo era discutir possíveis soluções diante das denúncias e reclamações da comunidade, segundo Britto.
Para sanar o problema, a principal proposta da associação é mudar os locais de concentração das torcidas, retirando-as das ruas e realocando-as em espaços controlados e afastados das residências. A torcida do Fluminense, que hoje se concentra perto da entrada sul do estádio, seria direcionada para o Estádio de Atletismo Célio de Barros, espaço dentro do Complexo do Maracanã que não tem atividades desde 2013. Já a torcida do Flamengo, que fica no entorno do Bar dos Chicos na rua General Canabarro, seria deslocada para o Parque da Bola e para a região entre o estádio e a Aldeia Maracanã. Segundo a proposta, as ruas ficariam fechadas, servindo apenas para circulação de pessoas. Ambulantes serão cadastrados e alocados, também, nesses novos espaços.
Apesar do que foi discutido nas reuniões, os moradores afirmam que ainda não houve nenhuma melhoria efetiva. “Sinceramente, acho que não melhorou nada. Não vejo interesse das autoridades para resolver o problema”, comentou João Alberto.
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