Pessoas com deficiência e doenças crônicas enfrentam dificuldades na mudança do Riocard para Jaé
- Ana Carolina Amaral
- 24 de jun.
- 4 min de leitura
Falta de informações é a principal reclamação entre usuários que dependem do benefício de gratuidade
Por Ana Carolina Amaral

A partir de 1º de julho de 2025, o cartão Jaé será o principal meio de pagamento e gratuidade no transporte público municipal do Rio de Janeiro, substituindo o Riocard. A mudança, prevista para fevereiro, foi prorrogada depois que muitos usuários relataram dificuldades para realizar o cadastro, retirar o cartão ou acessar o benefício de gratuidade - especialmente pessoas com deficiência e portadores de doenças crônicas.
Paulo Cezar Moraes, de 62 anos, analista de sistemas e portador de deficiência física, recebeu o seu cartão do Jaé em meados de fevereiro após três adiamentos da entrega. Por ser uma pessoa com deficiência, Paulo foi encaminhado até uma unidade de saúde para apresentar o seu laudo médico e manter o passe ativo. No entanto, a falta de orientação correta levou Paulo a solicitar um cartão comum antes de validar a gratuidade: “Por falta de informação adequada, eu fiz um cartão normal, em que teria que pagar passagem, para só depois saber que o processo seria feito de outra forma”, afirmou.

Para pessoas com deficiência e doenças crônicas, o objetivo seria simplificar o acesso à gratuidade, mas, na prática, o processo de migração tem gerado conflitos pela desinformação. Problemas no aplicativo, atrasos na entrega de cartões e falta de orientações claras têm sido apontados como os principais entraves para a adaptação dos usuários, sobretudo os mais vulneráveis.
Carla Motta, de 49 anos, assistente social e mãe de uma jovem com deficiência física, relata que sua filha procurou a clínica da família para apresentar o laudo médico e solicitar o cartão Jaé, mas a médica se recusou a fazer o atendimento imediato alegando que não era caso de urgência. Com isso, a jovem só conseguiu agendar uma consulta para o final de julho, quase um mês após o início da vigência oficial do Jaé nos transportes municipais do Rio. “Ela tinha todos os documentos em mãos, mas não foi atendida no posto para validar o laudo e entrar com pedido do Jaé e do vale social. Ela faz inúmeros tratamentos caros e ainda paga o transporte tendo direito a gratuidade, isso é um absurdo”, lamenta Carla.
Apesar das dificuldades relatadas por muitos usuários, a Prefeitura do Rio defende que a mudança para o Jaé trará maior modernização e integração ao sistema de transporte, prometendo um serviço mais digital e eficiente. A nova plataforma unifica os bilhetes de ônibus, BRT, VLT, metrô e trens urbanos em um só aplicativo ou cartão físico.
O professor de inglês Júlio Cesar Giacoia, de 21 anos, é autista e também relata dificuldades no acesso à informação. Ele ainda não conseguiu o novo cartão porque, ao tentar atualizar seus dados cadastrais no aplicativo Jaé Transporte, não encontrou a possibilidade de alterar o número do celular cadastrado anteriormente. Para Júlio, a prioridade nunca foi fazer essa transição de forma efetiva, que falta clareza e acessibilidade na forma como as informações são repassadas para a população: “Do que adianta começar um transição em tese e na prática ser mal aplicada de forma que, nos dá a impressão que até os problemas mais simples não foram considerados na fase de planejamento”, reflete.
Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde informou que tem trabalhado em conjunto com a Secretaria Municipal de Transportes (SMTR) para garantir que a mudança no sistema de bilhetagem tenha o menor impacto possível para os usuários. Em nota, esclareceu que moradores do município do Rio com deficiência ou doenças crônicas que já possuíam o RioCard Especial tiveram o benefício migrado automaticamente para o Jaé, e que os cartões estão sendo entregues pelas unidades de Atenção Primária (Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde). A secretaria também explicou que a solicitação de novos benefícios, para quem nunca teve o RioCard anteriormente, deve ser realizada diretamente na unidade de referência do usuário.
Como solicitar o Jaé?
Moradores do município do Rio de Janeiro que comprovem deficiência ou doenças crônicas têm direito ao benefício de gratuidade no transporte público municipal, por meio do novo cartão Jaé. A seguir, confira o passo a passo para solicitar o benefício:
Documentação necessária:
É preciso apresentar documento de identidade com foto, CPF, comprovante de residência e laudo médico atualizado que comprove a condição de deficiência ou doença crônica do usuário.
Atendimento na unidade de saúde:
Com os documentos em mãos, o usuário deve procurar sua unidade de referência da Atenção Primária — como as Clínicas da Família ou Centros Municipais de Saúde (CMS) — para dar entrada no pedido.
Análise e encaminhamento:
O profissional de saúde avaliará o laudo e fará o cadastro no sistema. Após a validação, os dados são encaminhados à Secretaria Municipal de Transportes para a emissão do cartão.
Retirada do cartão:
O Jaé com gratuidade será entregue na própria unidade onde foi solicitado. A previsão e o agendamento da entrega serão informados ao usuário.
Ativação e uso:
Após a retirada, o cartão precisa ser ativado. Isso pode ser feito no aplicativo Jaé Transporte ou diretamente nos validadores dos ônibus e estações.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, os usuários que já tinham o Riocard Especial tiveram seus benefícios migrados automaticamente para o sistema Jaé. No entanto, os novos pedidos devem ser feitos presencialmente nas unidades de saúde.
Mais informações podem ser consultadas no site oficial: www.jaetransporte.com.br
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