Primeiro jardim zoológico do Brasil sofre com abandono, lixo e roubos
- Bernardo Cunha

- 9 de jul.
- 4 min de leitura
Frequentadores do Parque Recanto do Trovador e moradores de Vila Isabel cobram melhorias e segurança
Por Bernardo Cunha

Quem entra no Parque Recanto do Trovador, primeiro jardim zoológico do Brasil, localizado em Vila Isabel, percebe que o abandono ganhou espaço num lugar que já foi muito mais importante no passado. O lago, de grande extensão, encontra-se tomado por lixo. A via destinada à caminhada não é pavimentada e exibe buracos e trechos com lama, dificultando o acesso, especialmente após dias de chuva. De um lado, há duas quadras esportivas em boas condições; do outro, um playground infantil pequeno, com brinquedos enferrujados. Com cerca de 40 mil m², o parque abriga ainda uma Vila Olímpica, inaugurada em 2008, que oferece atividades esportivas e educacionais à comunidade, além de uma Clínica da Família, em funcionamento desde 2014.

Inaugurado em 1988, pelo Barão de Drummond,o espaço também foi o berço da criação do jogo do bicho, que hoje se espalha por toda a cidade. Em 1940, o zoológico encerrou suas atividades e, desde então, funciona como parque de lazer. Pela sua importância cultural e histórica, o local é tombado desde 1970 peloInstituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC), mas, apesar do tombamento, está abandonado e tem suas estruturas deterioradas.

O que dizem os frequentadores
A comerciante Estér Marques, 20, frequenta o Parque desde que nasceu. Entre os problemas que nota, conta que antigamente havia um espaço de lazer infantil muito melhor e que hoje em dia os brinquedos são poucos e estão enferrujados.
Bianca Silva, 30, que também é comerciante e vai ao parque desde que nasceu, nota diferenças entre o Parque de hoje e o Parque de quando era pequena. Reclama da quantidade excessiva de lixo, principalmente no lago. Para ela, mesmo com as limpezas e lixeiras no local, o lixo sempre acumula novamente.

O Rampas ouviu três funcionários da Clínica da Família Recanto do Trovador, localizada dentro do Parque, que pediram para não serem identificados. Entre as reclamações, uma das funcionárias afirmou que a iluminação do parque é insuficiente e que no seu horário de saída está tudo totalmente escuro. Eles também dizem que o local reúne muitos ladrões de fios de energia, que usam o local para queimar os fios e vender o cobre obtido. Dizem também que a queima de lixo é constante no Parque.

Furtos das grades do Parque também acontecem com recorrência. O Recanto do Trovador é cercado por uma grade de ferro e o portão principal permanece fechado entre 20h e a manhã do dia seguinte.. Muitas grades são roubadas durante a noite. Por conta dos furtos, as grades ficam com buracos e é possível acessar o Parque mesmo que fechado. Os frequentadores dizem que isso já aconteceu em outras ocasiões e as grades foram repostas, porém voltam sempre a serem roubadas.

Instituto que cuida do Parque afirma tentar trazer melhorias e explica os principais impedimentos
A Fundação Parques e Jardins, responsável pela gestão de áreas parques, praças e áreas de lazar no município, foi procurada pelo Rampas para comentar a situação do Parque Recanto do Trovador. Em resposta, o órgão informou que não irá se manifestar sobre o caso e recusou conceder entrevista.
Além da gestão pública, o Parque Recanto do Trovador também é cuidado pelo Instituto Eventos Ambientais (IEVA), organização dedicada à preservação do patrimônio ambiental. O instituto adotou o Parque há quatro anos. Em entrevista ao Rampas, o coordenador da unidade responsável, Marcos Britto, relatou que encontrou o espaço em condições precárias. “Estava abandonado. Retiramos, junto com a comunidade, 83 carcaças de veículos do ambiente”, afirmou. Segundo ele, dois grandes desafios ainda dificultam a manutenção do parque em boas condições:“O grande problema que nós temos aqui é a falta de educação da população”, afirma Britto. Ele conta que o instituto realiza mutirões de limpeza com frequência, mas o lixo volta a se acumular rapidamente, mesmo com cerca de 50 lixeiras espalhadas pelo parque. Além disso, ações para revitalizar o espaço são constantemente alvo de vandalismo e furtos. “No Natal de 2024, instalamos luzes, um presépio e uma árvore de Natal. Em dois dias, tudo foi roubado”, lamenta.
Com forte atuação na área de jardinagem, o IEVA também promove cursos com formação e certificação, além de implementar práticas ecológicas no parque. No entanto, nem essas ações escapam da degradação. “No Dia da Árvore de 2024, plantamos 36 mudas. Hoje, restam menos de oito”, relata o coordenador, destacando a depredação como obstáculo constante.
Sobre os furtos de grades, Marcelo explica que o instituto emite registros formais e solicita a reposição à prefeitura. No entanto, mesmo após a substituição, os itens voltam a ser roubados em pouco tempo.
O segundo grande desafio enfrentado pelo IEVA é o tombamento histórico do parque, que impede a realização de reformas estruturais.Segundo Marcos Britto, o instituto está limitado à manutenção do que já existe, sem poder avançar em melhorias como novos banheiros ou a reforma dos jardins.Revitalizações muito necessárias para reparar problemas evidentes do parque, como o pavimento irregular, que foi danificado pela erosão, só seriam possíveis através de editais do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), processo que, de acordo com o coordenador, é burocrático e lento. Até lá, as ações seguem restritas a intervenções superficiais, como limpeza e jardinagem.
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