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Programa criado pelo Exército oferece reforço escolar a jovens do Rio de Janeiro

Iniciativa Rio Criança Cidadã beneficia crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade 


Por Ana Beatriz Pereira


Banner do Programa Rio Criança Cidadã. - Foto: Ana Beatriz Pereira
Banner do Programa Rio Criança Cidadã. - Foto: Ana Beatriz Pereira

Uniformes, filas, respeito e solidariedade: no Programa Rio Criança Cidadã, a rotina lembra a de um quartel, mas o objetivo é outro — formar cidadãos. Criada em 1993 pelo Comando Militar do Leste, a Associação Beneficente Rio Criança Cidadã (ABRCC) acolhe adolescentes em situação de vulnerabilidade social no Rio de Janeiro. Por meio do programa homônimo, realizado em dependências militares, a iniciativa oferece reforço escolar, oficinas culturais e atividades que fortalecem a convivência familiar e comunitária de jovens entre 12 e 17 anos.


A pedagoga e professora de matemática Vania Fonseca foi responsável pela criação da proposta pedagógica da iniciativa. “Sou pioneira no programa e continuo acompanhando o trabalho dos professores diariamente”, conta Vania, que hoje atua como coordenadora pedagógica.


Professora e pedagoga Vania Fonseca. - Foto: Ana Beatriz Pereira
Professora e pedagoga Vania Fonseca. - Foto: Ana Beatriz Pereira

O programa funciona de segunda a quinta-feira, nos turnos da manhã (8h às 11h) e da tarde (13h30 às 16h). Os adolescentes são matriculados conforme o horário escolar, já que a prioridade é sempre a escola. Cada turma tem, no máximo, 30 alunos — número definido pela infraestrutura do quartel, que também oferece alimentação aos participantes.


Segundo Vania, a iniciativa funciona como um apoio pedagógico, já que os professores de português e matemática ajudam os jovens não apenas nos conteúdos básicos, mas também nas dúvidas específicas da escola. “A princípio, a ideia era tirá-los da rua e colocá-los num ambiente saudável, em termos de organização e disciplina.”


Para participar, não é necessária indicação. Basta que o adolescente esteja dentro da faixa etária exigida e matriculado em uma instituição de ensino. O responsável realiza o cadastro mediante apresentação da documentação. Por falta de estrutura, o programa não atende adolescentes em conflito com a lei. Alunos com pelo menos 80% de frequência recebem uma cesta básica mensal.


Além das aulas de português e matemática, o programa oferece educação física, informática, capoeira e oficinas profissionalizantes, como barbearia, estética feminina e artesanato. Muitos alunos deixam o programa já encaminhados para a vida adulta — alguns seguem para a faculdade, enquanto outros optam por seguir carreira militar.


Oficina de Informática no EsLog com o professor Lucas Leite. - Foto: Luiz Cláudio Baptista
Oficina de Informática no EsLog com o professor Lucas Leite. - Foto: Luiz Cláudio Baptista

José Miguel Melo, de 15 anos, participa do programa há três anos, indicado por seu primo, que é paraquedista. Ele afirma que o projeto contribui para seu desenvolvimento “material e mental”, preparando-o para o futuro. Para ele, as atividades vão além das aulas: nos intervalos há momentos de convivência, com jogos de pingue-pongue e conversas, além das aulas de educação física e informática, que são suas preferidas. O jovem diz ter melhorado sua disciplina, seus hábitos e até o horário de dormir.


Outro participante, Caíque Nascimento, de 14 anos, está há dois anos no programa, que conheceu após a indicação de um primo ex-aluno. Ele afirma que a iniciativa mudou o seu comportamento e sua forma de se comunicar. Para Caíque, o PRCC tem como papel principal “tirar os adolescentes do caminho errado, acolher aqueles que estão mais sozinhos e fazer novas amizades.”


Lucas Ribeiro, de 16 anos, participa há poucos meses e vê o programa como uma porta de entrada para o futuro militar. “A gente foi para passeio, aprendi coisas básicas como comer com garfo e como é o quartel. Isso pode ser relevante quando eu entrar no Exército”, explica o adolescente.


O programa foi idealizado pelo general Bayma Denys, do Comando Militar do Leste, em parceria com o então secretário de Estado de Educação. O governador Leonel Brizola apoiou a iniciativa e sugeriu que o projeto fosse instalado na Escola 15, em Quintino. No entanto, o comandante optou por realizá-lo dentro dos quartéis, acreditando que o contato direto com a hierarquia e a disciplina militares, além de boas referências masculinas, ajudaria na formação de caráter dos jovens.


No início, o PRCC funcionava em 12 quartéis. Com a adesão de novos participantes e o apoio dos governos municipal e estadual, esse número chegou a 18 unidades. Atualmente, restam apenas seis: três na Vila Militar – o 2º BI Avaí, o 57º BI (REI) e o EsLog –, além de um em Santa Cruz, um em Triagem e outro em São Cristóvão.


O atual coordenador da unidade do Avaí, Marcelo Nascimento, integra o projeto há quatro anos e assumiu o posto de coordenação recentemente. Ele conheceu a iniciativa quando ainda era militar da ativa, pouco antes de dar baixa, e foi convidado a permanecer como coordenador. Ele explica que não é necessário ser militar para participar do programa – os professores, por exemplo, são voluntários. A equipe também conta com o apoio de uma psicóloga.


Para Marcelo, o PRCC atua como uma forma de tirar as crianças da rua, disciplinar e contribuir na formação de caráter, evitando que sigam caminhos inadequados: “A gente costuma dizer que a educação vem de casa, né? Mas está agregando, juntamente com os responsáveis, disciplinando-os, mostrando a [importância da] hierarquia um pouquinho mais de perto. Eles saem daqui já com essa ideia de que a hierarquia faz parte [da vida adulta] e que é importante.”


Luan Caldeira, professor de educação física, atua na iniciativa há um ano e seis meses e reitera a importância dela para a formação desses jovens. “O Programa tem como principal finalidade ajudar jovens a buscar um futuro digno, oferecendo oficinas de diversas atividades.”


Com as sucessivas mudanças de governo, o programa perdeu grande parte do seu patrocínio. Atualmente, o apoio mais constante vem do próprio Exército, com a colaboração da Fundação para a Infância e Adolescência (FIA) e da Popex, instituição ligada à corporação. Para garantir a continuidade das ações, foi criada uma ONG responsável pela captação de recursos, o que tem assegurado a manutenção das atividades até hoje.




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