Projeto da Uerj incentiva meninas negras a se tornarem cientistas
- Maria Eduarda Mariano
- 27 de mai.
- 3 min de leitura
Atualizado: 28 de mai.
“O nosso foco é mostrar que um cientista pode sim parecer com elas”, explica voluntária
Por Maria Eduardo Mariano

Quando Ana Paula Dos Santos, de 24 anos, entrou para o curso de Matemática na Uerj, se deparou com um contexto sobre o qual não costumava refletir muito: ser parte de uma minoria. “Só percebi de fato quando eu estava ali no meio daquele monte de aluno branco”, explica a estudante. Motivada a mudar esse cenário, Ana Paula entrou para o projeto de extensão Um Caminho Para Ciência, uma iniciativa que procura incentivar o interesse de alunos da rede pública, principalmente meninas, em cursos STEM - sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática.
Formado apenas por mulheres negras, o projeto procura levar novas imagens de cientistas para dentro das escolas. A professora do Instituto de Matemática e Estatística da Uerj Liz Custódio é a idealizadora e coordenadora do projeto. Ela diz que o objetivo principal é criar conexão com os alunos da rede pública e mostrar que todos podem ser cientistas, principalmente as alunas negras.
De acordo com levantamento feito pelo Instituto Nexus, no ano de 2023, apenas 26% dos ingressantes em cursos STEM eram mulheres. “O espaço amostral que uma menina negra tem para escolher suas opções é menor que o espaço amostral de um menino branco” explica a professora sobre sua decisão de chamar apenas mulheres negras para participarem do projeto.
Um Caminho para a Ciência surgiu em 2022 com o propósito de expandir as ações da Iniciativa Odu para o ambiente escolar. Odu é uma palavra em Iorubá que significa “muitos caminhos”. A Iniciativa Odu é um projeto formado por professores universitários negros, para dar apoio aos alunos e alunas afrodescendentesque estão no final da graduação e querem seguir a carreira acadêmica. A professora Liz Custódio, que também participa deste projeto, afirma que ao entrar em um congresso e se perceber como minoria, sabe que isso não está certo e que algo precisa mudar: “Um aluno de pós graducão negro se encontra em situações em que ele é o único.” Aumentar a diversidade do ambiente científico é o que a motiva a se envolver em iniciativas como estas.
As integrantes do projeto de extensão vão até as escolas, palestram sobre suas áreas de estudos para alunos do segundo e terceiro anos do Ensino Médio. Ariel Benvindo, de 23 anos, estudante de Ciência da Computação da Uerj, também faz parte do projeto e explica que um dos propósitos da ação é desconstruir os estereótipos relacionados aos profissionais que trabalham no campo da ciência: “O nosso foco é mostrar que um cientista pode sim parecer com eles”.
Ana Paula diz que não entrou apenas por ser negra, mas também por causa de sua trajetória: “Quando eu estava na escola, as referências de figuras na tecnologia eram todas de homens brancos.” Ariel conta que costuma perguntar para os alunos como eles imaginam um cientista. A resposta comum costuma associar a profissão a homens brancos e mais velhos.
As estudantes, quando vão as escolas, procuram sempre levar exemplos de cientistas negros e suas contribuicões. Para Ana Paula e Ariel, é muito significante fazer parte dessa desconstrução da imagem de um cientista e estar ali para mostrar que aqueles alunos também podem ser o rosto da ciência.
Indo além dos muros das escolas, o projeto também faz visitas guiadas pela Uerj levando os alunos e alunas para conhecer os laboratórios e o ambiente acadêmico de uma forma geral. Para essas visitas, a professora Liz convida a todos de cursos de tecnologia para serem voluntários e ajudar na organização do evento, porém, apenas meninas aparecem para ajudar. Liz considera isso curioso porque é uma área majoritariamente masculina. “A sociedade posiciona a mulher de uma forma que ela passa a ter esse olhar atento ao cuidado” , teoriza a professora sobre o baixo interesse do público masculino.
Esse ano, a última visita dos alunos ao campus foi feita durante a Uerj Sem Muros (evento da Uerj que procura aproximar a universidade da comunidade externa) . Ana Paula gosta muito de participar das visitas guiadas e diz sempre se emocionar com os alunos encantados com a Uerj: “Eu amo essa universidade e amo fazer os alunos terem vontade de estudar aqui.” Liz conta que diversas vezes alunos agradecem a visita e dizem o quanto abriu a mente deles. A professora explica que a ideia é, no futuro, conseguir acompanhar a trajetória daqueles que forem tocados pela iniciativa.
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