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Travessia mortal em São Gonçalo

  • Foto do escritor: Rampas
    Rampas
  • há 20 horas
  • 3 min de leitura

Escassez de passarelas na RJ-106 cria situação de risco cotidiano, com atropelamentos e insegurança para pedestres


Por Ingrid Vianna


Manifestação em Rio do Ouro em decorrência da revolta dos moradores com a situação de descaso  - Foto: Leitor A Tribuna
Manifestação em Rio do Ouro em decorrência da revolta dos moradores com a situação de descaso  - Foto: Leitor A Tribuna


O idoso Pedro Gomes Martins, de 71 anos, estava tentando atravessar a pista da RJ-106, na altura do bairro Rio do Ouro, em São Gonçalo, quando foi atropelado e morreu. O caso, ocorrido em 8 de setembro, explicita  um problema antigo e persistente no município da Região Metropolitana do Rio de Janeiro: a ausência de passarelas para pedestres em pontos de grande movimento ao longo das rodovias que cortam o município.


A comunidade do Rio do Ouro sabia e denunciava a escassez de passarelas. O ponto onde ocorreu o acidente há anos é apontado como perigoso  pelos  moradores, que reclamam da falta de uma estrutura adequada para atravessar a pista. Nos arredores, há escolas, comércios e pontos de ônibus espalhados em lados opostos da rodovia, o que obriga centenas de pedestres a se arriscarem diariamente entre os carros. O atropelamento provocou revolta na comunidade e desencadeou uma série de manifestações.


Ao longo do mês de setembro, houve vários protestos. Moradores da comunidade da Linha, no bairro Rio do Ouro, fecharam a RJ-106 em diferentes dias da semana posterior ao acidente. Em 11 de setembro, pelo menos quatro dias consecutivos de protestos haviam sido registrados,  acompanhados de pedidos por mais segurança para pedestres, além da  construção de uma passarela no quilômetro 7 da rodovia.


 A manifestação refletiu a insatisfação de uma população que afirma conviver há décadas com a negligência das autoridades. Os protestos chamaram atenção para a gravidade da situação. Pneus foram queimados na rodovia, causando congestionamento e mobilizando equipes da Polícia Militar. Moradores, cansados do descaso, dizem que já encaminharam pedidos formais às gestões municipais e estaduais, mas que os processos permanecem parados ou sem resposta.


A rotina de quem vive na região é marcada pela constante sensação de abandono e insegurança. Matheus Santos de Carvalho, de 19 anos, morador da Travessa Santa Terezinha, afirma que atravessar a rodovia é sempre um risco. Ele conta que praticamente toda sua família já passou por sustos e relata que realizar a travessia diariamente se tornou uma experiência de receio diário. “Existe muito medo, insegurança e um certo abandono do poder público”, diz Matheus.


Um problema que se estende para além do Rio do Ouro


Acostumada a descer de ônibus em um ponto deserto, a  estudante Nicoly Souza, de 19 anos, moradora do Arsenal, outro bairro no entorno da RJ-106, afirma que a travessia é marcada por uma dupla insegurança: o risco de acidentes e de violência. “Tenho medo tanto de ser atropelada quanto de ser assaltada, já que o ponto onde eu desço é bem deserto e fica ao lado de um motel abandonado. Muitas vezes preciso esperar sozinha nesse ponto até conseguir atravessar”, contou. 


Única passarela no Arsenal - Foto: Nicoly Souza
Única passarela no Arsenal - Foto: Nicoly Souza

O tempo de espera para atravessar depende do horário. Em momentos de menor movimento, bastam alguns minutos. Mas nos períodos de maior fluxo, a travessia se torna um verdadeiro desafio. “Os carros não param totalmente, apenas diminuem a velocidade. Dependo de alguma alma caridosa parar e torço para a outra faixa também parar, além de prestar atenção nas motos que cortam pelo meio”, explicou.


O maior problema é o fluxo e a velocidade dos veículos, principalmente nos horários de pico e à noite, quando a iluminação é insuficiente. “Já vi moradores com deficiências físicas tendo dificuldades, além de pessoas com filhos que precisam passar para o outro lado. Aqui no Rio do Ouro, há duas passarelas, mas a distância entre elas é muito grande. Na parte onde moro, onde estavam acontecendo os protestos, a distância entre essas passarelas deve ser de 1 km. Hoje a PM só consegue dar suporte nos horários de pico, quando muita gente desce dos ônibus ou sai da comunidade”, destaca Matheus.


Procurada pelo Rampas, a Prefeitura de São Gonçalo afirmou que a construção de passarelas sob rodovias estaduais é de responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RJ). Já o DER-RJ, por meio da Ouvidoria, informou que a solicitação de uma passarela em Rio do Ouro “já está em andamento através do processo SEI 330002/038815/2025, aguardando resposta da diretoria responsável (4ª ROC) pela análise”. O órgão acrescentou que “foi cobrada urgência na resposta”, e que a demanda segue em análise, sem previsão de prazo para conclusão. 


Enquanto a solução não sai do papel, moradores seguem arriscando a vida diariamente. Crianças, idosos, pessoas com deficiência e trabalhadores que utilizam transporte público e precisam fazer a travessia enfrentam o mesmo dilema: esperar longos minutos para atravessar ou se arriscar entre carros, ônibus e motos que passam em alta velocidade. Para a população de São Gonçalo, cada dia que passa sem uma solução significa mais um dia correndo risco. 




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O site Rampas é um projeto criado por alunos de jornalismo da Uerj, sob supervisão da professora Fernanda da Escóssia.

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