Um bando formado por música, carros e aventuras

A história de amizade entre um músico e sua companheira de estrada

Eles formam um belo-casal-dupla-dinâmica, e juntos cortam estradas e bairros do Rio de Janeiro, principalmente no subúrbio. Há quase dez anos essa rotina se repete em apresentações pela cidade, sempre com muitas companhias a bordo, sejam elas pessoas ou instrumentos musicais. O intuito das viagens é explorar calçadas, cantos, ruas e esquinas para compartilhar músicas, poemas, idéias, arte e trocar experiências com quem estiver por perto. No repertório, canções autorais no estilo Rock anos 70 e blues.

Cada um tem suas características. Ela está de branco e azul desde 2018, quando se encontraram pela primeira vez. Ele está sempre com sua calça jeans surrada, tênis, camiseta e boné. A simplicidade e a cumplicidade os mantêm unidos. Para ela, porém, é uma rotina de sacrifícios ter que se adaptar ao estilo de vida quase nômade do companheiro, rodando por aí e disputando os olhares com o público.Ao chegar aos locais das apresentações, ela ajuda a compor o cenário. Pessoas chegam, sorriem, desdenham, tocam juntas, fotografam, ignoram, aplaudem. O show acaba, e os dois seguem juntos para casa. Muitas vezes são um, a casa do outro. Mas quem eles são? Ou, o que de fato eles são?

O nome dele está estampado nela acompanhado de um complemento: Wagner José e seu bando. Wagner José Rosalin de Araújo é músico, artista-vagante, poeta e professor de escola pública. Ela é apenas K2. “Pois já existiu uma K1”, afirma ele, explicando o apelido de sua Kombi. Desde 2006 Wagner percorre as ruas do Rio oferecendo instrumentos e palco itinerante a quem quer se apresentar e fazer shows nas ruas. O negócio funciona no modo colaborativo, e quem quiser pode contribuir com qualquer quantia no tradicional chapéu do artista. Este ano, para ajudar a manter o projeto, Wagner também conseguiu recursos de um edital da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa - SESEC, possibilitando a realização de 7 apresentações que além do Rio de Janeiro os levará às cidades de Miguel Pereira, Paraty, Itatiaia, São Gonçalo, Macaé e Maricá.

K2 na estrada. Foto: acervo pessoal.

WJSB em frente à Assembleia Legislativa - RJ. Foto: arquivo pessoal.

Ele diz que o circuito musical autoral no Rio de Janeiro é muito complicado e que se manter financeiramente só com a música é dificílimo. Wagner José tornou-se professor e hoje, formado em artes, também é diretor de uma escola municipal. “Ter que realizar outra atividade além da música era algo doloroso para mim, porém com o tempo percebi que era necessário e comecei a ver graça em compartilhar conhecimento e aprender com os alunos no dia a dia. Nunca ganhei com a música o que recebo como professor”, revela.

Sobre sua relação com a K2, Wagner revela que há um amor recíproco e toma certo cuidado ao falar algumas coisas perto dela. “Durante algum tempo, nos últimos meses K2 foi minha moradia, há poucas semanas aluguei uma casa. Sentado na K2 conversando com uma amiga, até pedi que não falassemos muito sobre meus gastos com o novo lar para que minha querida Kombi não ficasse com ciúmes.” 

Wagner adesivando K2. Foto: arquivo pessoal.

Para comemorar as novas aventuras com sua parceira de estrada, Wagner pretende realizar uma grande festa. “K2 completa 50 anos em 2025, e eu gostaria de fazer um evento com outros artistas e um bolo em tamanho natural no formato da Kombi, para comemorar. Já pensou?”, brinca o músico. Outro futuro projeto é uma espécie de documentário mostrando bate-papos realizados no salão do veículo. Para isso, pretende instalar vinis, estantes de livros, uma mini cozinha e algumas outras estruturas para conversas sobre música, arte e o que mais surgir com os inusitados convidados que aparecerem pelo caminho.

Tudo pode acontecer futuramente nas caminhadas artísticas desses dois. É certo que não faltarão novas histórias para serem contadas e novas aventuras pelas ruas.

Para acompanhar o trabalho de Wagner José e Seu bando siga: @wagnerjoseeseubando