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  • Foto do escritorSimone Nascimento

Um País Tropical com apenas 1% de praias limpas e acessíveis

Atualizado: 9 de abr.

No litoral brasileiro, total de lugares premiados com bandeira azul cresceu 12%, mas está longe do ideal


Foto: Reprodução/Internet

Na temporada 2022/2023, o Brasil chegou ao recorde de 29 praias premiadas com bandeira azul, um certificado internacional que avalia condições como acessibilidade e qualidade da água. Mas isso representa pouco mais de 1% das 2.095 praias litorâneas brasileiras. Até houve uma melhora em relação à temporada anterior, quando 26 praias receberam a classificação máxima. Com vinte renovações e nove praias novas, a lista agora conta com as praias do Cumbuco, no Ceará, as de Itaúna e do Forno, no estado do Rio de Janeiro e mais seis em Santa Catarina (a Lagoa do Peri e as praias do Cerro, Sol, Taquaras, Ervino e a Praia Grande).


O Programa Bandeira Azul foi criado em 1985 na França pela FEE (Foundation for Environmental Education) e se tornou um dos maiores prêmios de reconhecimento ao turismo sustentável no mundo. Para conseguir a honraria, autoridades locais e gestores de praias precisam atender a quatro critérios, o de educação e informação ambiental, qualidade da água, gestão ambiental e de segurança e serviços. A certificação chegou ao Brasil em 2006, sendo operada pelo IAR (Instituto Ambientes em Rede), uma ONG (Organização Não Governamental) que atua na área de sustentabilidade para preservação de ecossistemas.


Apesar do crescimento de 12% de um ano a outro, o aumento do número de praias certificadas não pode ser visto como uma evolução na preservação ambiental e desenvolvimento econômico sustentável. O número de praias inscritas para concorrer a premiação tem crescido nos últimos anos. O atual quadro brasileiro aponta sérios problemas de gestão ambiental, principalmente na questão do saneamento básico: segundo relatório divulgado pela ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico), menos de 43% dos domicílios brasileiros têm coleta e tratamento do esgoto.


A cidade do Rio de Janeiro, de economia fortemente voltada para o turismo, não tem praias com bandeira azul. As duas certificadas na temporada passada, a Praia da Reserva e a Prainha, não tiveram a premiação renovada, pois a prefeitura atrasou a entrega da documentação. Em todo o Estado há quatro praias com bandeira azul: a do Forno, em Búzios, a de Itaúna, em Saquarema, a do Peró, em Cabo Frio, e a do Sossego, em Niterói.


Bandeira azul na praia do Sossego, em Niterói. Foto: Simone Nascimento

Placa certificação do programa Bandeira Azul. Foto: Simone Nascimento


A Praia do Peró se destaca não apenas por ser a única do litoral fluminense com certificação renovada desde 2018, mas pelo bom trabalho desenvolvido pela prefeitura em conjunto com organizações da sociedade civil, como a ONG Amigos do Peró, num esforço para fornecer educação ambiental para a população. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente e Saneamento municipal, a pretensão é de que o selo seja ampliado para outras duas praias, a Praia do Foguete e a Praia do Pontal do Peró.


Foto: Simone Nascimento

O Rampas esteve na praia do Sossego, em Niterói, entre as praias de Camboinhas e Piratininga. A área conta com boa sinalização na entrada da pequena trilha de acesso. Existe um estacionamento controlado bem próximo, mas, de acordo com os frequentadores, nos dias quentes é preciso chegar bem cedo para conseguir vaga. Mesmo com o clima mais fresco de maio, algumas pessoas desfrutam da pequena faixa de areia, do silêncio e do mar calmo que trazem uma sensação tranquilizadora.


Segundo Edson Motta, assessor de turismo na Neltur (Niterói Empresa de Lazer e Turismo), estudos de 2015 mostravam que, nas praias certificadas, o comércio costuma crescer 30%. Segundo ele, a prefeitura inscreveu duas praias, Itacoatiara e Sossego, para receber a bandeira azul, mas apenas a praia do Sossego foi certificada.


Como ganhar a bandeira azul


Em 2023 o prêmio internacional Bandeira Azul avaliou praias, marinas e embarcações de turismo de 46 países. No caso das praias, para receber a certificação é necessário atender a quatro critérios divididos em 34 pontos. Veja alguns:


  • Oferta de pelo menos cinco atividades de educação ambiental ao público durante a temporada de bandeira azul

  • Boa qualidade da água

  • Equipamentos de primeiros-socorros disponíveis na praia

  • Recipientes para lixo, incluindo os recicláveis

  • Acesso controlado de animais à praia

  • Banheiros suficientes para os banhistas

  • Placas com informações sobre o ecossistema local

  • Zoneamento do mar para que não haja conflito entre banhistas, surfistas e pescadores

  • Acesso para pessoas com deficiência

  • Número determinado de guarda-vidas



Luta por preservação


Iniciativas acadêmicas ou conduzidas por organizações não governamentais têm sido importantes na luta por praias mais limpas no Brasil. Na Uerj, o professor Fábio Vieira Araújo, do Departamento de Ciências da Faculdade de Formação de Professores (FFP/Uerj), criou o projeto “Praia Limpa é a Minha Praia”, com objetivo levar conhecimento e conscientização para a população. O projeto surgiu em 2010, quando, após uma coleta de água para análise em praias de Niterói, Fábio e seus alunos encontraram muito lixo na faixa de areia. “Esse é um projeto de cultura oceânica, para divulgar o conhecimento que existe sobre os ambientes marinhos costeiros e fazer com que as pessoas saibam da importância do oceano em nossas vidas. Promovemos atividades em diversas escolas de vários municípios. É um trabalho de formiguinha, mas cada um tem que fazer a sua parte”, disse Araújo.

A ONG Mar Sem Lixo atua desde 1996, mas seu fundador e presidente, Roberto Ramos, está engajado desde 1985, quando lutava pela proibição de caça à baleia no Atlântico Sul. O grupo realiza mutirões de limpeza de praias e áreas aquáticas, além de palestras de conscientização. “O que me motivou a agir foi a necessidade de lutar e preservar uma qualidade de vida para nossas futuras gerações. Parece utópico, mas não podemos desistir”, conta Ramos.



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