top of page
  • Foto do escritorAna Julia Silveira

Livrarias online ameaçam a existência de lojas físicas

Atualizado: 30 de abr.

Compras pela internet ultrapassam vendas em pontos físicos no mercado editorial brasileiro


Fachada da antiga loja da Saraiva; as últimas cinco unidades da livraria foram fechadas - Foto: Reprodução / Instagram

Pela primeira vez, as livrarias online superaram as lojas físicas em faturamento no mercado editorial brasileiro, marcando uma virada significativa no setor. O fechamento das últimas lojas físicas da Saraiva reflete os profundos impactos das vendas pela internet no mercado de livros.


Os dados da "Pesquisa Produção e Venda do Setor Editorial Brasileiro", coordenada pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) em 2022 e apurados pela Nielsen BookData, confirmam essa mudança histórica. As livrarias virtuais conquistaram uma fatia considerável do mercado, concentrando 35,2% do total do faturamento do setor, enquanto as lojas físicas ficaram com 26,6%. Esses números indicam uma transformação importante no mercado literário, impulsionada pelo crescente sucesso das vendas online.


Segundo Vanderson Laurentino, gerente da Livraria Leitura da Rua do Ouvidor, a preferência do público pela compra virtual está intimamente ligada aos preços mais baixos que ele oferece. Ele aponta que esse é um valor que os espaços físicos têm dificuldade em igualar, principalmente devido ao modelo de precificação. 


Laurentino observa que muitas livrarias virtuais são parte de empresas tão grandes que podem operar com prejuízo em setores específicos, como o mercado de livros: "Eles [Amazon] têm livros que vendem mais barato do que meu custo." 


Negócios como a Amazon podem compensar suas perdas em outros setores, aproveitando a escala e diversificação de seus negócios. Já nas lojas físicas o preço dos livros é normalmente definido pelas editoras, e elas não têm controle sobre esses valores. 


Essa dinâmica cria um desafio adicional para as livrarias, que não têm a mesma flexibilidade financeira para competir nesse aspecto de preços.


Uma das alternativas em discussão é a "Lei Cortez", em tramitação no Senado desde 2015, uma homenagem a José Xavier Cortez, um importante livreiro e editor paulista. Também conhecida como "Lei do Preço Fixo", ela tem como objetivo garantir uma competição mais justa entre os diversos canais de venda.


A “Lei do Preço Fixo" propõe a limitação dos descontos sobre livros no primeiro ano de lançamento, estabelecendo que eles não poderiam ser vendidos com descontos superiores a 10% durante esse período. Essa medida visa nivelar as condições de concorrência entre as livrarias físicas e as virtuais, que muitas vezes conseguem oferecer preços mais baixos devido à sua flexibilidade financeira. 



Livraria Leitura da rua do Ouvidor; a Leitura possui 102 lojas distribuídas pelo Brasil - Foto: Ana Julia Silveira

Na contramão do mercado


A Leitura adota uma abordagem única para permanecer relevante e crescer. A empresa planeja encerrar 2023 com 109 lojas físicas em 22 estados e tem a meta de abrir mais 10 em 2024.


Laurentino revelou que o segredo da Leitura está em sua estratégia descentralizada de gestão: "Quando a decisão do que vai para a loja parte de uma central, ela não enxerga as particularidades de cada loja". Isso se traduz em uma seleção de livros e produtos adaptada às necessidades e preferências específicas do público de cada loja. Por exemplo, a loja do Ouvidor, localizada em uma área empresarial com baixo fluxo de crianças, tem um foco maior em livros de direito e quadrinhos, o que se reflete em uma seção infantil reduzida.


Além disso, a Leitura tem buscado expandir seu alcance digital. A empresa começou a investir no virtual e em algumas lojas, como a da Ouvidor, utilizam ativamente as redes sociais para se comunicar com seus clientes. Para Laurentino essa dualidade entre o mundo físico e o digital é essencial para manter a competitividade em um mercado editorial em constante evolução.


Laurentino destaca a importância dessa abordagem híbrida para manter as atividades da loja: "Não sei como estaríamos se não tivéssemos o e-commerce [comércio que acontece de forma totalmente virtual]; às vezes, tenho mais pessoas na equipe de e-commerce do que na equipe de vendas no piso".


O estudante Gabriel Pita é um exemplo do impacto do meio digital nas escolhas dos consumidores. Ele afirma que costuma consumir livros físicos, mas prefere o meio digital devido à praticidade e às vantagens financeiras: "Opto pelo meio virtual devido à maior facilidade, tanto para acompanhar as mudanças de preços, promoções e lançamentos quanto pelo valor consideravelmente menor em comparação com as lojas físicas".


A professora Paloma Silveira compartilha da preferência pelo meio digital na hora da compra, e enfatiza a comodidade que a internet oferece: "Você busca o livro no site e, se estiver disponível, já o compra. Não precisa sair de casa nem enfrentar o trânsito, a questão do tempo de mobilidade é importante". No entanto, Paloma não descarta totalmente as lojas físicas e menciona que, se já estiver na rua, gosta de entrar para dar uma olhada e, às vezes, fazer compras.


bottom of page