Moradores de Botafogo não querem mais farmácias
- Clara Calvente

- há 2 dias
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Por Clara Calvente Hanewald

Quem caminha pela rua Voluntários da Pátria, uma das mais movimentadas e importantes de Botafogo, não precisa esperar nem dois minutos para passar diante de uma farmácia. Ao longo do 1,8 quilômetro da rua, há 19 farmácias, muitas vezes uma vizinha da outra. Isso equivale a, aproximadamente, 1 estabelecimento a cada minuto e meio. Em todo o bairro, segundo O Globo, o número de farmácias chega a 65, em um levantamento obtido pela Prefeitura com base nos cadastros de inscrição municipais ativos. Ou seja, uma drogaria para cada 1.162,5 habitantes de Botafogo, enquanto o recomendado pela OMS é de uma farmácia a cada 8.000 habitantes. É uma proporção que só vem aumentando nos últimos anos, o que deixa muitos moradores apreensivos: quantas farmácias são realmente necessárias?
Só em agosto foram inauguradas na Voluntários mais duas farmácias da rede Cristal, uma na esquina com a rua Dona Mariana e a outra na esquina da Sorocaba, ruas paralelas. Ou seja, a mesma empresa tem dois estabelecimentos iguais com apenas uma quadra de distância. Essas farmácias tomaram o lugar de dois comércios conhecidos no bairro, a loja de roupas masculinas John Mark, que funcionou por mais de 20 anos no endereço, e a Panificadora Voluntários, uma padaria de 66 anos que fechou no início de 2025. O anúncio da abertura de mais uma drogaria no lugar da padaria gerou revolta entre os moradores, que colocaram uma placa com os dizeres “chega de farmácias, quero uma padaria” no canteiro de flores em frente ao local.

Mas a revolta não parou por aí. Quando a loja Mix lar, que ficava um pouco mais distante na Rua Dona Mariana, anunciou a sua mudança de endereço e fechou as portas, a frase “em breve, mais uma farmácia em Botafogo” foi colada no portão do comércio. O cartaz foi prontamente retirado e substituído por um anunciando o aluguel do endereço, mostrando que o futuro do espaço ainda é incerto. A mensagem dos moradores, porém, é clara: eles não precisam de mais farmácias.
O problema não é só de Botafogo, nem mesmo só do Rio. Outros bairros observam um aumento no número de farmácias, principalmente outros bairros da Zona Sul, como Flamengo e Copacabana, que conta com 118 farmácias, segundo um levantamento da Prefeitura do Rio. A Zona Sul tem, ao todo, 425 farmácias. Em toda a cidade, são cerca de 2.500, uma a cada 2.640 habitantes, segundo um levantamento da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop). No Brasil, a média é de 5 farmácias por 10.000 habitantes, segundo levantamento da SBVC (Sociedade brasileira de VArejo e Consumo).
Por meio de um formulário enviado pelo GoogleForms, o Rampas fez um levantamento com 25 moradores de Botafogo para descobrir a opinião deles sobre as farmácias. As pessoas responderam. De forma quase unânime, os entrevistados afirmaram que o número de drogarias é muito elevado.

Palavras como “desnecessário”, “excessivo”, “absurdo”, “preocupante” e “excedente” foram usadas para descrever a situação da concentração farmacêutica no local. Muitos entrevistados levantaram, por meio do forms, a questão da falta de balanceamento dos comércios existentes: “Acho que deixa o bairro desproporcional. Em Botafogo, muita coisa se faz a pé justamente pelo número elevado de comércio na região. Mas ultimamente os estabelecimentos estão dando lugar para novas farmácias e quem os frequenta passa a ter que ir mais longe, deixando de ter tanta praticidade.” disse Nina Amorim, de 18 anos, moradora do bairro há quatro anos. "Tanto o comércio local quanto os habitantes perdem, pois deixam de contar com outros serviços de bairro essenciais", afirmou Denise de Alcantara, que viveu seus 63 anos em Botafogo.
Existe também quem ache que o número excessivo de farmácias não seja algo necessariamente negativo para a população “Acho interessante esse aumento das farmácias no bairro de Botafogo, já que facilita para quem precisa de remédios urgentes e diminui o tempo de deslocamento. Além disso, é bom ter mais opções para comparar preço e escolher a que atende melhor às suas necessidades”, afirmou Eduarda Martins, de 20 anos. Mesmo assim, Eduarda admitiu que esse excesso pode ser prejudicial para a pluralidade de comércios: “Acredito que o excesso de farmácias prejudique o equilíbrio do comércio porque acaba faltando outros tipos de estabelecimentos importantes. Isso faz com que moradores tenham que se deslocar mais para encontrar lojas de varejo, supermercados ou papelarias, o que é complicado em um bairro grande como Botafogo.”
Além disso, muitas das lojas fechadas nos últimos anos eram negócios familiares, existentes há décadas, o que tornava os comerciantes, de certa maneira, parte da vizinhança e da história do bairro. Já as novas farmácias pertencem a grandes empresas e, com isso, ocorre a perda do contato familiar que existia até então.
Se sobram farmácias, faltam outros tipos de estabelecimentos. Lojas de roupas são as que mais fazem falta, de acordo com as respostas obtidas pelo Rampas. Padarias, livrarias, restaurantes e mercados mais populares também foram mencionados pelos moradores. Existem também outros tipos de comércio com uma concentração considerável, como Pet shops e academias. A concentração desses, porém, ainda não é tão alarmante quanto a de farmácias, de acordo com os moradores entrevistados.
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